CONCERTO: Efterklang
Com | Casper Clausen (guitarra, voz), Mads Brauer (teclados), Rasmus Stolberg (baixo), Tatu Rönkkö (bateria) e Ensemble Vocal da Escola Profissional de Música de Espinho
Auditório de Espinho - Academia
06 Abr 2025 | dom | 18:00
Foi em 2004 que a banda de indie rock Efterklang (nome que vem do dinamarquês e significa “reverberação”) se deu a conhecer ao mundo com o álbum “Tripper”. Duas décadas depois desse trabalho inicial, e já com sete álbuns de estúdio gravados - o último dos quais, “Things We Have In Common”, lançado em finais de Setembro do ano passado -, a banda apresenta um currículo invejável, com várias colaborações com orquestras sinfónicas, documentários e centenas de concertos à volta do mundo. Mostrando uma frescura e uma vitalidade inabaláveis, os Efterklang continuam a dar cartas e ensaiaram, neste início de Abril, uma curta digressão pela Península Ibérica, pisando palcos em Barcelona, Madrid e Lisboa. No passado fim-de-semana foi a vez de Espinho abrir o seu Auditório para dois momentos aguardados com enorme interesse, como o comprova a procura dos bilhetes a fazer esgotar rapidamente as sessões. Mantendo o espirito aventureiro e a autenticidade das suas criações, o gosto por uma certa teatralidade e uma relação fortemente empática com o público, a banda não frustrou as expectativas e mostrou uma música calorosa e envolvente, densa e misteriosa, em harmonia perfeita com a natureza e o universo, a vida e a eternidade.
A abrir o concerto, os Efterklang recuaram a 2012 e ao álbum “Piramida”, revisitando os momentos marcantes de uma viagem à cidade-fantasma de Pyramiden, na ilha de Spitsbergen, apenas a mil quilómetros do Pólo Norte. Mais do que oferecer-nos a imensidão gelada, a força dos ventos glaciares ou o ruído abafado das passadas na neve, “Dreams Today” trouxe consigo uma proposta de viagem imersiva, convidando a escutarmos, na harmoniosa combinação de sons, aquilo que em nós há de mais íntimo. Num exercício de natural alienação, somos desarmados por uma música carregada de magnetismo, que chega até nós como uma dádiva: Catártica, fecunda, libertadora. Seguiram-se “Sentiment” e “Ambulance”, extraídos do álbum mais recente, e a veia interpretativa manteve-se, como se o fosso de doze anos entre ambos os trabalhos não existisse. Casper Clausen ensaiava a pose do menino que parece pedir desculpa por estar ali a mimosear o público com as suas “lamechices” analíticas e espirituais, mas o olhar travesso dizia o contrário. O público sabe que está a fazer “bluff”, ri-se e Clausen ri também. O público rende-se à banda, Clausen está rendido ao público.
Ao mergulhar nos primórdios, “Swarming” reforça a ideia de continuidade e complementaridade em temas como “Supertanker”, “Vi er Uendeling”, “Animated Heart” e o sublime “Sedna”. Está cumprida uma hora de concerto e os Efterklang despedem-se do palco, toda a gente de pé a aplaudir como se não houvesse amanhã. O público quer mais e vai ter mais, só que a nota seguinte é de absoluto desconcerto. A banda não regressa ao palco, vindo em seu lugar o Ensemble Vocal da Escola Profissional de Música de Espinho. Quinze frescas e bem cuidadas vozes, perfeitamente síncronas, começam por entoar o tradicional “Coro das Maçadeiras”, enriquecido com um invulgar exercício de percussão que embala o público e o deixa em êxtase absoluto. Já com a banda de novo em palco, o Ensemble Vocal acompanhará, de forma brilhante, “Hold Me Close When You Can” e “Cutting Ice to Snow”, dois dos temas mais emblemáticos da banda. Sempre em crescendo, ainda escutaremos “The Ghost”, “Living Other Lives” e “Modern Drift”. O grande momento chegará mesmo no fim, Clausen & companhia a subirem a escada lateral e a “estacionarem” na fila G para uma última canção, rodeados de um público completamente rendido, que não se cansa de cantar, dançar e bater palmas. A glória, enfim.