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quarta-feira, 9 de julho de 2025

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Nova Lisboa" | Gonçalo Fonseca



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Nova Lisboa”,
de Gonçalo Fonseca
100 Anos da Leica I - O Mundo Através do Visor
Curadoria | Magda Pinto
Museu Nacional Soares dos Reis
24 Mai > 13 Jul 2025


Uma das boas notícias de 2020, um ano marcado pela emergência sanitária que levou a Organização Mundial de Saúde a declarar o estado de pandemia face à COVID-19 e ao espalhar da doença em todo o mundo, foi a distinção de Gonçalo Fonseca com o Prémio Leica Oskar Barnack na categoria Revelação. O fotógrafo português viu o seu trabalho ser muito justamente reconhecido pelo júri, com a série “Nova Lisboa” a testemunhar a dramática situação habitacional que afecta Lisboa e, com base em relatos individuais, a revelar as consequências do avanço da gentrificação. Os dados oficiais mostravam que, no ano anterior ao da atribuição do prémio, cerca de seis milhões de pessoas visitaram a capital portuguesa durante as suas férias, fazendo de uma cidade com cerca de meio milhão de habitantes um dos destinos mais populares da Europa. O boom do turismo, a especulação imobiliária e o avanço da gentrificação levaram a que mais de 10.000 inquilinos tivessem perdido as suas casas, nas quais muitos deles tinham vivido a vida inteira.

Um turista urbano que venha a Lisboa e alugue um apartamento barato no casco antigo, provavelmente não pensará na história por trás do seu alojamento, quem terão sido os antigos inquilinos ou em que condições e com que consequências a habitação é hoje um alojamento local. Graças à crescente popularidade da cidade como destino turístico, o mercado imobiliário mudou muito rapidamente. Durante muito tempo, os proprietários evitaram qualquer tipo de obras de restauro ou reparação nas habitações, mas com a liberalização durante a crise financeira uma onda de especulação extrema varreu a cidade. Os fundos de investimento lidaram com edifícios exclusivamente como ativos, sem qualquer consideração pelas pessoas que neles viviam. Os preços das rendas escalaram, as casas foram vendidas e muitas vezes transformadas em apartamentos turísticos, sem qualquer intervenção da autarquia e sem que fossem dadas alternativas aos antigos inquilinos. É no quotidiano desolado dessas pessoas que o fotógrafo centra a sua série.

Com uma abordagem muito dedicada às pessoas que fotografa - o fotógrafo mantém contacto com quase todas as pessoas que deram o passo corajoso de compartilhar consigo as suas vidas -, Gonçalo Fonseca acompanhou de perto o processo de transformação que a cidade sofreu nos últimos anos. Tendo passado grande parte de 2018 na Índia a trabalhar num projecto, ao regressar ficou impressionado com a rapidez com que a cidade estava a mudar. Viu os restaurantes e lojas favoritas a fechar para darem lugar a negócios virados exclusivamente para os turistas. Viu as desigualdade aumentarem, com um número crescente de famílias em dificuldade para pagar as rendas das casas. Sentiu, enfim, que encetava uma luta contra o tempo, uma vez que as mudanças e seus efeitos precisavam de ser documentados. “Nova Lisboa” pode ser vista no Museu Nacional Soares dos Reis, no âmbito da mostra “100 Anos da Leica I - O Mundo Através do Visor”, permanecendo patente ao público só até ao próximo domingo.

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