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sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

O MELHOR DE 2018: LIVROS



10. “Manobras de Guerrilha”,
de Bruno Vieira Amaral
Quetzal Editores, Janeiro de 2018

“(...) “… Plim”. A campainha soa e o combate tem início. O ato solitário em busca da superação no ringue é agora o da leitura, feita de “emboscadas”, “avanços no terreno” e “campo aberto”. O primeiro golpe (“Chalana, como peixe na água”) é logo um “murro no estômago”. Outros se seguirão, do “uppercut” aos queixos de Toni Bentley, uma “Santa Teresa de Ávila do sexo anal”, ao gancho no fígado de Susan Sontag, em defesa de Camus. Subtil, mordaz, eloquente, magnânime, jocoso, camaleónico, irónico, contundente, Bruno Vieira Amaral discorre sobre as diferenças entre Messi e Maradona com o mesmo à vontade com que transforma em saco de boxe uma humanidade esquecida da decência. Tanto o vemos em passinhos de filigrana a “caminhar entre ruínas” como partimos com ele à caça de Pókemons pelas ruas do Barreiro ou subimos o Monte Farinha para assistir à chegada da caravana da Volta (…)”. Texto completo em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/02/livro-manobras-de-guerrilha.html



9. “Gente Séria”,
de Hugo Mezena
Ed. Planeta Manuscrito, Fevereiro de 2018

“(...) Da leitura de “Gente Séria” ninguém sai incólume. A acção tem data mas não é datada. É impossível ao leitor não se rever numa parte substancial do que ali é narrado, se não como elemento sugestivo das suas próprias vivências, pelo menos das de muitos que lhe são próximos. Benomilde pode não ter este nome no mapa, mas aquela aldeia existe na realidade e não é, garantidamente, uma caricatura. Com uma escrita fácil e apelativa, “Gente Séria” está recheado de momentos deliciosos, permitindo-me destacar esse “registo de pecados” que, com os anos e o entendimento, se verá transformado em “registo de pensamentos”. Já na parte final do livro, Hugo Mezena brinda-nos com um Interlúdio que é, ao mesmo tempo, uma marca distintiva do seu génio enquanto escritor. O olhar acutilante atinge aí o seu expoente máximo, num registo avassalador que subjuga o leitor, obrigando-o a olhar para o interior de si mesmo e a pensar o mundo e os homens tais como eles são (...)”. Texto completo em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/04/livro-gente-seria.html



8. “A Devastação do Silêncio”,
de João Reis
Ed. Elsinore, Abril de 2018

“(...) Relato mordaz duma sequência de episódios que remetem para a I Guerra Mundial, agora que se celebra o centenário do armistício e novos e mais devastadores conflitos se avistam no horizonte, “A Devastação do Silêncio” é um livro genial na análise que faz do absurdo da guerra – de todas as guerras (!). João Reis é exímio em detalhar a fragilidade e vulnerabilidade da condição humana, os títulos e hierarquias extintos quando “sobreviver” é a palavra de ordem, o homem tornado igual em tudo ao seu semelhante. Mas este é um livro que nos fala também do valor do tempo, da sua imponderabilidade, da sua relatividade face àqueles que suportaram situações limite e vivem o hoje como se não houvesse amanhã e tantos outros que desconhecem o que fazer com o tempo, dando-se ao luxo de o desperdiçar (...)”. Texto completo em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/06/livro-devastacao-do-silencio.html



7. “A Gargalhada de Augusto Reis”,
de Jacinto Lucas Pires
Ed. Porto Editora, Maio de 2018

“(...) “A Gargalhada de Augusto Reis” é, na verdade, um delicioso divertimento, uma longa rêverie ou, se preferirmos, uma imensa gargalhada em torno de pequenos nadas, equívocos e contradições da vida de todos os dias, com o autor a mostrar-se exímio na forma como dá sentido a uma história que se reparte entre um tempo hoje e um outro, distante 44 anos, o 25 de Abril de 1974 a servir de marco natural daquilo a que poderemos chamar acção. Sem uma linha precisa, a narrativa voga ao sabor dos caprichos do escritor, genial na forma como retorce as suas personagens e as molda ao fio e à medida da(s) história(s), assim conduzindo o leitor nos trilhos deste quase devaneio literário, onde se torna evidente, em todo o seu esplendor, a arte de manipular (...)”. Texto completo em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/06/livro-gargalhada-de-augusto-reis.html



6. “Ecologia”,
de Joana Bértholo
Editorial Caminho, Maio de 2018

“(...) O conhecimento que hoje temos do mundo e a percepção do que se passa à nossa volta torna “Ecologia” assustadoramente actual, um breve passo de distância entre a nossa realidade e a realidade ficcionada (muito mais breve do que se possa imaginar). Para tal, Joana Bértholo desenvolve a narrativa a partir dum conjunto de personagens com as quais facilmente nos identificamos - porque vivendo os mesmos dramas e convivendo com as mesmas dúvidas que nós -, alicerçando-a em acontecimentos próximos ou mesmo coincidentes com aqueles que marcam a actualidade (...)”. Texto completo em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/09/livro-ecologia.html



5. “Os Loucos da Rua Mazur”,
de João Pinto Coelho
Ed. Leya, Novembro de 2017

“(...) Este é um daqueles livros que se lêem em constante sobressalto. De cada vez que pensamos que o pior já passou, percebemos que, afinal, ainda está para vir. Aqui “as costas não folgam pelo vai e vem do pau”. Os momentos de trégua aparente desvendam, afinal, pequenas peças soltas dum puzzle que acabará por rebentar em mil estilhaços, de dor e raiva feitos. E porquê?, perguntar-se-á. Que gene é este que já nasce com o homem e o leva a atentar contra o seu semelhante da forma mais vil e cruel? Com que motivação? Em nome de quê? Entre todas as virtudes deste magnífico livro, talvez a forma como nos confronta com estas questões seja o mais relevante. Através dele, vamos ao encontro do que fomos para descobrirmos, em sobressalto, quem somos (...)”. Texto completo em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/02/livro-os-loucos-da-rua-mazur.html



4. “A Manhã do Mundo”,
de Pedro Guilherme-Moreira
Ed. Publicações Dom Quixote, Maio de 2011

“(...) A grande força do livro está em provar que ninguém é dono do seu próprio destino e que situações há para as quais não existem planos B. São pessoas erradas, no sítio errado, à hora errada, pessoas que, por esta ou aquela razão, poderiam estar a salvo no momento da tragédia. Ou, no verso da questão, pessoas que se encontram a salvo quando tudo acontece, apenas porque sim. Pessoas que poderiam ser qualquer um de nós, como bem se perceberá. Sem se deixar enredar num estéril jogo de “ses”, Pedro Guilherme-Moreira coloca o leitor do lado de quem nem sequer se dá conta da benção que é não ter de tomar decisões em situações-limite, levando-o a abraçar cada dia como se fosse o último e a ver a vida como uma dádiva (...)”. Texto completo em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/10/livro-manha-do-mundo.html



3. “A Luz Vem das Pedras”,
de António Canteiro
Ed. Gradiva, Junho de 2017

“(...) Aquilo é orgânico, sente-se, vive-se. É barro e chão e terra e vento e rocha viva. Aquilo é o toque duns braços de mãe enleados à volta do meu pescoço para entalar o pano, que há-de servir de guardanapo, babete, para não sujar o pijama dos restos de sopa. Aquilo é a cor doce dos bolos na boca, é Deus a escrever direito por linhas tortas, são adjectivos estranhamente familiares (vagarosolenta, chuvernoso, esperandante, estreluzente), são lágrimas duma dor feita de desassossego, ódio e raiva, é tanta coisa que já nem tenho a certeza do que é (...)”. Texto completo em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/01/livro-luz-vem-das-pedras.html



2. “Ensina-me a voar sobre os telhados”,
de João Tordo
Ed. Companhia das Letras, Março de 2017

“(...) De João Tordo recordo, para além dos livros que lera anteriormente – “O Paraíso segundo Lars D.” e “Biografia Involuntária dos Amantes” –, uma conversa pela noite fora no Museu de Ovar, em Dezembro de 2017, na qual o escritor disse esta coisa espantosa: “Escrever é deixar que todas as vozes que temos dentro de nós venham ao de cima e falem”. Procurando concretizar a ideia, falou das vozes que, surgidas do nada, ia anotando em pedacinhos de papel e que, “na hora da verdade”, reunia e escutava. É assim que gosto de imaginá-lo, à secretária, a escrever este livro, o tampo da mesa a transbordar de papelinhos de diferentes tamanhos, alguns de cores que não o branco. É nesses, mais chamativos, que julgo encontrar uma espécie de lembrete com “diálogos de Ménon, de Platão”, ainda “o dilema não é não sabermos, é não saber que sabemos”, ou mesmo “a vida humana não é marcada pela ignorância, mas pelo esquecimento” (...)”. Texto completo em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/05/livro-ensina-me-voar-sobre-os-telhados.html



1. “Não se Pode Morar nos Olhos de Um Gato”,
de Ana Margarida de Carvalho
Ed. Teorema, Abril de 2016

“(...) Ana Margarida de Carvalho é inexcedível de generosidade na forma como detalha cada capítulo, pondo à prova os nossos fantasmas e preconceitos, as nossas convicções, os nossos medos. O “monólogo da Santa”, logo a abrir o livro, é disso o mais acabado exemplo. Chegamos a hesitar no momento de virar a página, de tal maneira é forte e impressiva a ladaínha de Nossa Senhora de Todas as Angústias, corpo de pau e cabeleira indígena, o caos sendo uma das ordens de Deus (...)”. Texto completo em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/05/livro-nao-se-pode-morar-nos-olhos-de-um.html

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