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domingo, 23 de dezembro de 2018

CINEMA: "Roma"



CINEMA: “Roma”
Realização | Alfonso Cuarón
Argumento | Alfonso Cuarón
Fotografia | Alfonso Cuarón
Montagem | Alfonso Cuarón, Adam Gough
Interpretação | Yalitza Aparicio, Marina de Tavira, Diego Cortina Autrey, Carlos Peralta, Marco Graf, Daniela Demesa, Nancy García García, Verónica García, Andy Cortés, Fernando Grediaga
Produção | Nicolás Celis, Alfonso Cuarón, Gabriela Rodriguez
México | 2018 | Drama | 135 minutos | M/14
Cinema Trindade, Sala 1
22 Dez 2018 | sab | 19:10


Alfonso Cuarón é, reconhecidamente, um cineasta de enorme craveira. Têm-o comprovado ao longo duma carreira de enorme sucesso, mas com “Roma” assume uma ruptura emocional com a sua obra anterior e que tem sobretudo a ver com a decisão de um olhar puramente introspectivo. Diz-se que este é um filme auto-referencial, e isso constitui uma verdade quase absoluta aos olhos de qualquer espectador minimamente avisado. É por isso que “Roma”, cujo título se refere a Colonia Roma, o bairro natal de Cuarón no Distrito Federal do México, tem tudo para ser visto como um filme autoral e totalmente pessoal. O seu olhar caloroso, as histórias da família protagonista (provavelmente baseadas na sua própria família), a longa duração dos planos e o uso do preto e branco – numa alusão às memórias – transformam o filme num retrato íntimo e, porque não dizê-lo, pouco convencional nos dias que correm.

Cléo, uma empregada doméstica de uma família da classe média alta, é a principal protagonista do filme. Todos os elementos da família têm por ela uma particular estima, ela faz parte do círculo íntimo, todos confiam cegamente em Cléo e ela retribui essa atenção, dedicando a todos um grande carinho, mas em especial a Pepe, o mais pequeno da família, a quem adormece com uma canção de embalar e acorda no dia seguinte com uma brincadeira. Nessa representação da relação quase “mãe-filho”, encontramos os traços de um cineasta que cresceu entre criadas nos anos 70 no México. Neste sentido, o filme representa uma clara homenagem a pessoas que tão importantes foram na vida do realizador.

“Roma” é, como já foi dito, um retrato pessoal íntimo, mas nessa intimidade convergem também os grandes problemas sociais que o México viveu em meados da década de 60 e que culminaram no massacre de centenas de estudantes. O privado e o público estão constantemente ligados com imagens hipnóticas, além dos requintados detalhes e reconstruções da época que compõem uma bela e exaustiva obra de arte para cada cena, e também do evidente trabalho de fotografia do próprio Cuarón. Uma sequência de treino paramilitar ou uma violenta troca de tiros são parte dum épico tremendo de dramatismo. As fantasias e sonhos de uma jovem mulher da classe baixa dão ao filme um cunho profundamente realista. Entre o universal e o pessoal, Alfonso Cuarón mostra-se um mestre dos contrapontos, sendo este seu filme a prova disso.

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