O Atlântico, sobretudo a partir de meados do século XX, tornou-se um espaço fundamental de trânsitos e exílios, suscitando novas afinidades geopolíticas que moldam as subjetividades modernas com repercussões até ao presente. “Uma deriva atlântica” faz e desfaz caminhos pelas artes do século XX, procurando desarrumar ideias feitas e cânones estabelecidos através da convocação de referências e formas artísticas habitualmente dissociadas. A mostra segue uma cronologia inconstante, com desvios e saltos temporais, ligando e confrontando as margens europeia e americana para indicar possíveis relações e derivas por vezes esquecidas ou ausentes da história da arte. Enquanto exposição permanente em permanente transformação, apresenta de forma inédita as colecções em comodato no MAC/CCB — principalmente a Colecção Berardo, mas também a Colecção Holma / Ellipse, a Colecção Teixeira de Freitas e a Colecção de Arte Contemporânea do Estado —, integrando também empréstimos de colecções em Portugal que permitem redesenhar o lugar da arte portuguesa nas artes do século XX.
Enquanto remontagem da colecção permanente, “Uma deriva atlântica” apresenta uma selecção de artistas portugueses e internacionais, entre pintura, escultura, desenho, instalação e artes gráficas, que desenham a arte na história do mundo e mostram a modernidade enquanto eclosão múltipla de importantes transformações sociais, artísticas e tecnológicas. De Pablo Picasso a Amadeo de Souza-Cardoso, de Lourdes de Castro a Marcel Duchamp, de Andy Warhol a Wifredo Lam, de Maria Helena Vieira da Silva a Joaquín Torres-García, de Jackson Pollock a Malangatana, de Lucio Fontana a Ana Hatherly, num total de cerca de 160 artistas, a exposição apresenta uma série de capítulos que revelam as complexidades do desenvolvimento histórico e artístico no século XX. Marcado por duas Guerras Mundiais na Europa e pelas suas consequências até aos processos de revoluções e descolonização da década de setenta, este arco temporal mostra-se também permeável à transformação, podendo ser repensado em novos percursos.
Com as obras distribuídas por onze grandes temas – do Cubismo à Pop Art, do Surrealismo às Revoluções -, é um caminho que rompe com a tradição e que parte em busca de novas formas e sentidos da arte aquele que se abre num convite ao visitante. O cubismo de Picasso e Braque revela múltiplas perspetivas, estando na génese de movimentos como o suprematismo russo, a abstracção geométrica ou o surrealismo de Breton, que exalta o imaginário e o acaso. A Bauhaus e o Grupo ZERO exploram a pureza formal e o recomeço, enquanto o ready-made e as sombras questionam presença e ausência. A arte do pós-guerra desafia a supremacia da pintura com gestualismo e abstracionismo. Pop e novos realismos trazem o quotidiano e a cultura de massas para o centro, enquanto a arte conceptual e performativa desconstrói o objecto artístico. Por fim, as revoluções políticas e sociais do século XX transformam a arte em instrumento de luta, expressão e mudança, revelando uma relação indissociável entre criação e vida.