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sexta-feira, 21 de novembro de 2025

EXPOSIÇÃO DE PINTURA E OBRA GRÁFICA: “Armando Alves na Árvore”



EXPOSIÇÃO DE PINTURA E OBRA GRÁFICA: “Armando Alves na Árvore”,
de Armando Alves
Curadoria | Laura Castro, José Emídio
Árvore - Cooperativa de Actividades Artísticas
25 Out > 29 Nov 2025


Sessenta anos depois de ter inaugurado a sua primeira exposição na Cooperativa Árvore, Armando Alves regressa ao espaço que o viu nascer como artista. Aos 90 anos, feitos no passado dia 07 de Novembro, o pintor e escultor de Estremoz revisita a casa e o tempo das origens, numa mostra que condensa seis décadas de criação, dos anos 1960 à actualidade. A exposição, com curadoria de Laura Castro e José Emídio, é mais do que uma retrospectiva: é um reencontro com a própria ideia de fidelidade, uma palavra que atravessa toda a sua obra e biografia. A fidelidade ao Alentejo, à luz e ao silêncio da planície, mas também à disciplina do ofício e à geometria do olhar. Na Árvore, instituição que ajudou a fundar, Armando Alves mostra pintura e obra gráfica que testemunham um percurso raro, onde a clareza formal se alia a uma contenção poética, e a cor, sempre medida, abre espaço a uma emoção depurada.

Eugénio de Andrade escreveu que o pintor se “descobriu alentejano ao mesmo tempo que se descobria pintor”. Essa revelação continua a pulsar na sua obra, feita de horizontes longos e silêncios suspensos. José Saramago chamou-lhe “inventor de céus e planícies”, Herberto Helder viu-lhe “arco-íris em golpes vivos”, e Vasco Graça Moura destacou o “arco-íris de ofícios” de um criador múltiplo — professor, designer, editor, cenógrafo, escultor. A sua pintura, todavia, permanece como centro de gravidade de uma vida entregue à imagem e à forma. José-Augusto França via nela uma “disciplina gráfica” que purifica o olhar; Fernando Pernes intuiu “aproximações ao silêncio”. Tudo isso se revê agora nas obras expostas: janelas geométricas que filtram a luz, paisagens de latitude imprecisa, superfícies onde o rigor e a emoção se equilibram como duas faces do mesmo gesto.

Ver hoje Armando Alves na “sua” Árvore, é revisitar também uma ideia de tempo, o da persistência e do trabalho minucioso, alheio a modas e a pressas. No panorama português, a sua pintura ocupa um território singular: entre a herança modernista e uma abstracção lírica de raiz mediterrânica. Há nela uma lição de medida, um elogio da sobriedade, um entendimento quase ético da arte como construção e permanência. Nesta exposição da Árvore, cada quadro parece devolver ao visitante não apenas a história de um percurso individual, mas também a memória de uma geração que acreditou na arte como espaço de resistência e de comunidade. Aos 90 anos, Armando Alves continua a ser o que sempre foi — um artesão da luz, um desenhador de silêncios, um pintor fiel à beleza difícil da clareza. A mostra permanece patente ao público até 29 de Novembro.

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