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segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

O MELHOR DE 2018: TEATRO



10. “Medeia é Bom Rapaz”,
de Luis Riaza
Encenação e Dramaturgia | Fernanda Lapa
Interpretação | André Leitão e Ruy Malheiro
Produção | Escola de Mulheres

“ (…) Centrando a acção no episódio de Corinto – no qual a maldade atinge o paroxismo, a própria Medeia a matar os filhos antes de fugir para Atenas, não num acesso de loucura, mas num acto de fria e premeditada vingança em relação ao marido infiel –, a peça de Luis Riaza releva a função do próprio teatro naquilo que ela tem de questionamento dos conceitos de realidade, de verdade, de existência. É genial a forma como o autor se apodera do mito clássico e o actualiza, o teatro centrado nas questões do poder, o jogo de representação baseado nas normas e convenções, nos mecanismos da ordem e das hierarquias. O modo como a relação entre Medeia e a Ama passam do formal para o íntimo, cada uma das personagens tornada espelho da outra, funciona como um convite ao espectador a que espreite para o interior do seu próprio mundo e seja ele também o outro de si mesmo, representação e jogo, ficção e realidade, verdade e mentira ao mesmo tempo (...)”. Tudo para ler em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/09/teatro-medeia-e-bom-rapaz.html



9. “Ivone, Princesa de Borgonha”,
de Witold Gombrowicz
Encenação | António Pires
Interpretação | Maria João Luís, Marcello Urgeghe, João Barbosa, Mário Sousa, Alexandra Sargento, Hugo Mestre Amaro, Cláudia Alfaiate, Nuno Casanovas, Francisco Vistas e Carolina Campanela
Produção | Teatro do Bairro

“ (…) Comédia? Drama? Farsa? Conto de fadas? É difícil classificar “Ivone, Princesa de Borgonha” de forma assim tão linear. Imaginativa e provocadora, a peça revela-se duma riqueza e actualidade extraordinárias, apontando o dedo acusador aos poderosos deste mundo, ao mesmo tempo que vai desmontando questões tão pertinentes como inteligência e poder, estatuto e competência, os espaços de manobra, as bases do poder, auto-confiança e domínio ou, ainda, a questão do poder como um vício. A peça é também uma reflexão na ampla esfera das liberdades, onde tudo se permite a quem detém o poder e tudo é negado aos mais pobres e desfavorecidos, obrigados ao mutismo e ao vazio de ideias, habituados a que os poderosos pensem pela cabeça de todos e falem pelas suas próprias bocas (…)” Tudo para ler em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/04/teatro-ivone-princesa-de-borgonha.html



8. “Veneno”,
de Cláudia Lucas Chéu
Direcção | Albano Jerónimo
Interpretação | Albano Jerónimo, Luís Puto
Produção | teatronacional21

“ (…) Não descurando o mérito de Cláudia Lucas Chéu no desenvolvimento duma narrativa crua e implacável, com tanto de intenso como de actual, é para Albano Jerónimo que vai uma enorme ovação pela forma como encarna a personagem principal. Metamorfoseando-se na figura dum homem desequilibrado e doente, que se refugia na bebida para escapar de si próprio e dos seus fantasmas, ele é o vínculo vivo entre o texto, as directivas do encenador (no caso o próprio actor) e o olhar e sentir do público. À sua capacidade interpretativa se deve a forma como a peça se derrama sobre o espectador, desarmando-o, primeiro, para de seguida o arrasar com uma sequência precisa e inclemente de murros no estômago (…) “. Tudo para ler em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/11/teatro-veneno.html



7. “Otelo”
A partir de | “The Tragedy of Othello, the Moor of Venice” (1604), de William Shakespeare
Encenação | Nuno Carinhas
Interpretação | João Cardoso, Maria João Pinho, Pedro Frias, Dinarte Branco, António Durães, Diana Sá, Joana Carvalho, Jorge Mota, Paulo Freixinho, Pedro Almendra
Produção | Teatro Nacional de S. João

“ (…) Tragédia do ciúme, Otelo é uma peça de construção perfeita, a psicologia do Mouro ciumento e a maldade diabólica de Iago – bem como a lógica dos acontecimentos – a conduzirem o espectador ao clima dos grandes modelos das tragédias gregas citadas por Aristóteles. Ao longo das suas quase três horas, a peça mergulha no preconceito racial e religioso, reflecte no contraste entre a realidade e as aparências, denuncia o ciúme injustificado e prova o quão tortuosa pode ser a mente humana. Se, por um lado, Iago tem o talento de perceber quais os maiores receios de Otelo, agindo sobre eles mediante a criação duma realidade que não existe, já o mouro constrói obsessivamente uma interpretação a partir de meias-verdades e insinuações, o uso retórico da linguagem a revelar-se fundamental na forma como se consolida este jogo de enganos (...)”. Tudo para ler em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/10/teatro-otelo.html




6. “Montanha-Russa”,
de Inês Barahona e Miguel Fragata
Encenação | Miguel Fragata
Interpretação | Anabela Almeida, Bernardo Lobo Faria, Carla Galvão, Miguel Fragata, Hélder Gonçalves, Manuela Azevedo, Miguel Ferreira, Nuno Rafael
Produção | Formiga Atómica

“(...) Ser adolescente é viver numa permanente montanha-russa. É esta a imagem que atravessa o espetáculo criado por Inês Barahona e Miguel Fragata, um musical destinado a todos os públicos onde se impõem temas como a amizade, a descoberta, os ajustes de contas, a agressividade e a passividade em relação à família, uma relação muito forte com os amigos ou a pertença a um grupo. As quatro histórias estão unidas por uma montanha-russa, a Ciclone, a maior alguma vez construída, com 26 metros de altura. Nesta fase da vida, em que se vai “do topo do mundo ao lugar mais profundo”, como diz uma das canções, as vivências e as angústias que os quatro jovens experimentam em palco não destoam das que os adolescentes vivem na realidade. Ali se fala do primeiro cigarro (e de todas as primeiras vezes), da vontade de morrer, das loucuras, do medo de crescer, de muito mais (...)”. Tudo para ler em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/06/teatro-montanha-russa.html



5. “Teatro”
Texto, Encenação e Espaço Cénico | Pascal Rambert
Interpretação | Beatriz Batarda, Cirila Bossuet, João Grosso, Lúcia Maria, Rui Mendes
Produção | Teatro Nacional D. Maria II

“ (…) O efeito de vermos uma coisa e depois darmo-nos conta de que se trata de algo diferente é, também isso, teatro. E “Teatro” está cheio deste jogo entre o real e o aparente, a dúvida sempre presente a pedir ao espectador que faça uma leitura muito atenta das relações que se estabelecem em palco, das falas, dos gestos, das roupagens que uns e outros vão vestindo ou das quais se vão libertando. Quando Beatriz Batarda entra pela primeira vez em cena, uma fúria com tudo aquilo em que Lisboa se está a transformar, isso é teatro ou é real? Ou quando João Grosso interpreta duas versões da “Ode Marítima”, como destrinçar o que é real e o que é teatro? (...)”. Tudo para ler em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/10/teatro-teatro.html



4. “Actores”,
de Marco Martins
Encenação | Marco Martins
Interpretação | Bruno Nogueira, Carolina Amaral, Miguel Guilherme, Nuno Lopes, Rita Cabaço Produção | Arena Ensemble, São Luiz Teatro Municipal, Teatro Nacional S. João e Centro de Arte de Ovar

“(...) Recuperando algumas das muitas memórias, os actores lembram vitórias e derrotas, chamam para primeiro plano o início da sua caminhada na arte de representar, falam de audições em que participaram e expõem abusos de encenadores, realizadores e professores de teatro, recordam a figuração, os anúncios de TV ou as festas privadas que têm, por vezes, de suportar. Ao de cima vem o desgaste emocional que a profissão acarreta – não é por acaso que se fala em “desistir e partir para outra”, se descrevem pesadelos, se contam histórias de “brancas”. São três horas em que acompanhamos o trajecto daquelas cinco personagens, fazendo de si próprias ou do “vizinho do lado”. São histórias e são memórias que fazem rir e chorar. É o jogo do gato e do rato entre o real e o ficcionado, na certeza de que é no meio que está a virtude. É o teatro na sua condição natural, centrípeto, máquina que sofre e faz sofrer, que contraria, que contagia (...)”. Tudo para ler em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/02/teatro-actores.html



3. “Caranguejo Overdrive”
Encenação | Marco André Nunes
Interpretação | Carolina Virguez, Alex Nader, Eduardo Speroni, Matheus Macena, Fellipe Marques
Produção | Aquela Cia. de Teatro

“(...) Conjugando o brilhantismo dum texto apoiado na estética e sonoridade do movimento artístico “manguebeat”, de Chico Science (meados da década de 90), com a capacidade interpretativa dos cinco actores e três músicos em palco – sublime Carolina Virgüez no “monólogo da visita guiada”, toda ela rigor, expressividade, humor e encantamento -, “Caranguejo Overdrive” é uma lição de teatro intensa e profunda, como um sopro vital. A energia que emana dum forte vínculo ao teatro experimental, a força da sua mensagem política e de intervenção e a riqueza das imagens que convoca, resultam em momentos de teatro únicos, modelares, inspiradores. Esta é uma daquelas peças que arrastam o espectador numa torrente emocional de palavras, gestos e ideias, obrigando-o a envolver-se numa realidade que também é sua, na certeza de que qualquer transformação social só ganha sentido como acto solidário (...)”. Tudo para ler em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/06/teatro-caranguejo-overdrive.html



2. “Provisional Figures”
Texto | Isabela Figueiredo e Gonçalo M. Tavares
Encenação e Dramaturgia | Marco Martins
Interpretação | Ana Moreira, Ivan Ammon, Maria do Carmo Ferreira, Pedro Cassimo, Pete Dewar, Richard Raymond, Robert Elliot, Sérgio Cardoso de Pinho, Victoria River
Produção | CCTAR – Centro de Criação para o Teatro e Artes de Rua

“(…) Com “Provisional Figures”, Marco Martins volta a privilegiar o teatro do real, oferecendo-nos uma peça de enorme significado e alcance, em nome da crise, uma verdade que não pode ser esquecida. Uma crise que se revelou tremenda para milhões de pessoas sobretudo nos países do Sul da Europa, desestruturou famílias, comunidades inteiras, levou ao desemprego em massa, encerrou milhares de micro, pequenas e médias empresas... mas que deu muito jeito a alguns. E que pode estar aí ao virar da esquina, doa a quem doer, porque pode vir a dar jeito a alguns outros, afinal os mesmo de sempre. A presença dos não actores em palco reforça a mensagem, espicaçando recorrentemente o público com essa ideia tão querida ao encenador de que “todo o mundo é um palco” (…)”. Tudo para ler em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/06/teatro-provisional-figures.html



1. “Mendoza”
Ideia original e direcção | Juan Carrillo
Interpretação | Marco Vidal, Mónica del Carmen, Erandeni Durán, Leonardo Zamudio, Martín Becerra, Germán Villarreal, Ulises Martínez, Alfredo Monsivais, Roam León y Yadira Pérez
Produção | Los Colochos Teatro

“ (…) Da sábia forma como funde o clássico com o moderno, retira “Mendoza” a sua grande força e fascínio. É que não se trata apenas de reinterpretar um texto maior da literatura, algo feito pela enésima vez em teatro. É sobretudo na encenação, na forma como Juan Carrillo se apega ao detalhe, coreografa os movimentos e tira o maior partido da intensidade do brilhante texto - uma adaptação sua e de Antonio Zúñiga -, que reside a marca distintiva desta peça. E há, claro, os actores, rigorosos na forma como encarnam as personagens, convincentes na sua enorme expressividade, comoventes na musicalidade das suas palavras, emocionantes na naturalidade com que interagem com o público (...)”. Tudo para ler em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/06/teatro-mendoza.html

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