TEATRO: “Teatro”
Texto, Encenação e Espaço Cénico
| Pascal Rambert
Tradução e Apoio à Dramaturgia |
Joana Frazão
Assessoria Artística | Pauline
Roussille
Interpretação | Beatriz Batarda,
Cirila Bossuet, João Grosso, Lúcia Maria, Rui Mendes
Produção | Teatro Nacional D.
Maria II
Teatro Nacional São João, Porto
20 Out 2018 | sab | 19:00
A folha de sala que nos fala da peça resume-se, praticamente, a uma conversa com Pascal Rambert, autor do
texto, encenador e criador do espaço cénico de “Teatro”, uma
produção do Teatro Nacional D. Maria II, em cena até dia 28 no
Teatro Nacional de São João. Conduzida por Maria João Guardão,
nessa conversa Rambert descreve o processo de escrita a partir do
conhecimento dos actores, da relação que desenvolve com eles ou dos
momentos de ensaio. É uma conversa que se revela importante para
compreender aquilo que se desenrolará em palco, o teatro a mimetizar
a vida, “como se não se tivesse conseguido pôr nada em cena”.
Estamos, pois, no mundo do real, a vida a confundir-se com a Arte mas
onde tudo é teatro. O palco a escancarar-se até aos bastidores e a abrir-se numa dimensão que reforça a ideia de teatro, o
jogo de afinações de planos e de luzes que, no início da peça, se prolonga quase à exaustão e nos diz que isto é teatro, a
acção decorrendo, assumidamente, no espaço de ensaio de uma peça
de teatro, os actores a fazerem de actores a fazerem de actores.
Teatro, teatro, teatro!
O efeito de vermos uma coisa e depois
darmo-nos conta de que se trata de algo diferente é, também isso,
teatro. E “Teatro” está cheio deste jogo entre o real e o
aparente, a dúvida sempre presente a pedir ao espectador que faça
uma leitura muito atenta das relações que se estabelecem em palco,
das falas, dos gestos, das roupagens que uns e outros vão vestindo ou das quais se vão libertando. Quando Beatriz Batarda entra pela primeira vez em cena, uma
fúria com tudo aquilo em que Lisboa se está a transformar, isso é
teatro ou é real? Ou quando João Grosso interpreta duas versões da
“Ode Marítima”, como destrinçar o que é real e o que é
teatro? Tudo isto produz um enorme fascínio no espectador, levado a
valorizar um texto pleno de inteligência, temperado com uma boa dose
de humor, ao encontro dos corpos, das vozes e das próprias
personalidades dos actores, deles exigindo total entrega,
sugando-lhes a energia até à exaustão.
Mas se a palavra – o texto – é
brilhante, o corpo – os actores – não o são menos. Beatriz
Batarda é duma generosidade comovedora, a sua figura a preencher por
completo o palco e a deixar o espectador sem fôlego face à força
do seu desempenho. Rui Mendes, João Grosso e Lúcia Maria são
perfeitos de rigor e contenção, as suas interpretações a reforçar
o cunho de verdade deste “Teatro”. E há ainda Cirila Bossuet,
“uma mulher que passa pela boca de palco com uma vassoura e que na
verdade é uma estudante de ciências políticas” (de novo a
questão da verdade a intrometer-se no fundamento da peça) e que é
desarmante na forma como se apresenta, na simplicidade do gesto ou
das questões que coloca, na relação indirecta que tem com o palco
por intermédio do pai, bailarino em Angola nos anos 80, uma relação
tornada directa pela força do próprio teatro. Posto isto, é tempo
de garantir um lugar no São João quanto antes. Esta é daquelas
peças que não se podem perder!
[Foto: Filipe Ferreira / agendalx.pt]
Sem comentários:
Enviar um comentário