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segunda-feira, 22 de outubro de 2018

PALESTRA-RECITAL: "On Playing Mozart", por Alfred Brendel



PALESTRA-RECITAL: “On Playing Mozart”,
por Alfred Brendel
Casa da Música, Porto
21 Out 2018 | dom | 18:00


Jovem enfermeiro em início de carreira, assisti a duas mesas num Congresso de Ortopedia onde se abordavam as novas e revolucionárias técnicas de cirurgia do joelho. Desses momentos, passados quase trinta anos, restou a enorme frustração por não possuir os conhecimentos necessários a processar a informação recebida e a torná-la minimamente prestável. Recordo hoje esta experiência pouco simpática porque foi exactamente assim que me senti na palestra-recital proferida ao final da tarde de ontem, na Casa da Música, pelo pianista Alfred Brendel. Eu e, certamente, muitos outros, entre os quais aqueles que foram abandonando a sala desde os minutos iniciais.

“On Playing Mozart” foi apresentado ao público como uma palestra-recital. Ancorado na prestigiada figura de Alfred Brendel – um regresso ao palco onde inaugurou a primeira temporada de piano da Casa da Música, em 2005 -, o programa prometia a visão e os conselhos de um célebre intérprete de Mozart sobre a obra de um compositor genial que marcou o classicismo vienense, tudo isto complementado com os vários apontamentos pianísticos que sustentariam as ideias de Brendel. E é aqui que as coisas se complicam, primeiro porque a prédica não era para todos os públicos, exigindo um conhecimento prévio da obra de Mozart e das múltiplas formas como pode ser interpretada, e depois porque os (poucos) acordes tocados ao piano não foram além da mera ilustração, parecendo-me abusivo aplicar-lhe o termo de “recital” com que foi anunciado.

Foi tempo perdido? Certamente que não, pelo menos não totalmente. Brendel provou que Mozart não era um hippie, embora os seus contemporâneos achassem os seus contrastes desagradáveis e as contradições desnecessárias. Embora extravagante, era extremamente dotado e podemos considerá-lo um compositor “cantabile”, que fazia o piano cantar. Mas depois vêm questões relativas à notação, até que ponto deve ser literalmente interpretada, ou de que forma se comparam as suas poucas obras em tons menores com as muitas em tons maiores, ou da segunda nota tocada mais suavemente que a primeira, ainda os tempos 6/4 ou a K. 545, K. 589 ou K. 570 que toda a gente devia conhecer mas que só alguns conheceriam, o interesse a ceder rapidamente lugar ao tédio. A rematar, diria que pôr duas peças a tocar no “giradiscos” durante largos minutos só ajudou a fazer crescer na ideia a palavra “logro”.

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