10. “Manobras de
Guerrilha”,
de Bruno Vieira Amaral
Quetzal Editores, Janeiro de 2018
“(...) “… Plim”. A campainha
soa e o combate tem início. O ato solitário em busca da superação
no ringue é agora o da leitura, feita de “emboscadas”, “avanços
no terreno” e “campo aberto”. O primeiro golpe (“Chalana,
como peixe na água”) é logo um “murro no estômago”. Outros
se seguirão, do “uppercut” aos queixos de Toni Bentley, uma
“Santa Teresa de Ávila do sexo anal”, ao gancho no fígado de
Susan Sontag, em defesa de Camus. Subtil, mordaz, eloquente,
magnânime, jocoso, camaleónico, irónico, contundente, Bruno Vieira
Amaral discorre sobre as diferenças entre Messi e Maradona com o
mesmo à vontade com que transforma em saco de boxe uma humanidade
esquecida da decência. Tanto o vemos em passinhos de filigrana a
“caminhar entre ruínas” como partimos com ele à caça de
Pókemons pelas ruas do Barreiro ou subimos o Monte Farinha para
assistir à chegada da caravana da Volta (…)”. Texto completo em
https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/02/livro-manobras-de-guerrilha.html
9. “Gente Séria”,
de Hugo Mezena
Ed. Planeta Manuscrito, Fevereiro de
2018
“(...) Da leitura de “Gente Séria”
ninguém sai incólume. A acção tem data mas não é datada. É
impossível ao leitor não se rever numa parte substancial do que ali
é narrado, se não como elemento sugestivo das suas próprias
vivências, pelo menos das de muitos que lhe são próximos.
Benomilde pode não ter este nome no mapa, mas aquela aldeia existe
na realidade e não é, garantidamente, uma caricatura. Com uma
escrita fácil e apelativa, “Gente Séria” está recheado de
momentos deliciosos, permitindo-me destacar esse “registo de
pecados” que, com os anos e o entendimento, se verá transformado
em “registo de pensamentos”. Já na parte final do livro, Hugo
Mezena brinda-nos com um Interlúdio que é, ao mesmo tempo, uma
marca distintiva do seu génio enquanto escritor. O olhar acutilante
atinge aí o seu expoente máximo, num registo avassalador que
subjuga o leitor, obrigando-o a olhar para o interior de si mesmo e a
pensar o mundo e os homens tais como eles são (...)”. Texto
completo em
https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/04/livro-gente-seria.html
8. “A Devastação do Silêncio”,
de João Reis
Ed. Elsinore, Abril de 2018
“(...) Relato mordaz duma sequência
de episódios que remetem para a I Guerra Mundial, agora que se
celebra o centenário do armistício e novos e mais devastadores
conflitos se avistam no horizonte, “A Devastação do Silêncio”
é um livro genial na análise que faz do absurdo da guerra – de
todas as guerras (!). João Reis é exímio em detalhar a fragilidade
e vulnerabilidade da condição humana, os títulos e hierarquias
extintos quando “sobreviver” é a palavra de ordem, o homem
tornado igual em tudo ao seu semelhante. Mas este é um livro que nos
fala também do valor do tempo, da sua imponderabilidade, da sua
relatividade face àqueles que suportaram situações limite e vivem
o hoje como se não houvesse amanhã e tantos outros que desconhecem
o que fazer com o tempo, dando-se ao luxo de o desperdiçar (...)”.
Texto completo em
https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/06/livro-devastacao-do-silencio.html
7. “A Gargalhada de Augusto Reis”,
de Jacinto Lucas Pires
Ed. Porto Editora, Maio de 2018
“(...) “A Gargalhada de Augusto
Reis” é, na verdade, um delicioso divertimento, uma longa rêverie
ou, se preferirmos, uma imensa gargalhada em torno de pequenos nadas,
equívocos e contradições da vida de todos os dias, com o autor a
mostrar-se exímio na forma como dá sentido a uma história que se
reparte entre um tempo hoje e um outro, distante 44 anos, o 25 de
Abril de 1974 a servir de marco natural daquilo a que poderemos
chamar acção. Sem uma linha precisa, a narrativa voga ao sabor dos
caprichos do escritor, genial na forma como retorce as suas
personagens e as molda ao fio e à medida da(s) história(s), assim
conduzindo o leitor nos trilhos deste quase devaneio literário, onde
se torna evidente, em todo o seu esplendor, a arte de manipular
(...)”. Texto completo em
https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/06/livro-gargalhada-de-augusto-reis.html
6. “Ecologia”,
de Joana
Bértholo
Editorial Caminho, Maio de 2018
“(...) O conhecimento que hoje temos
do mundo e a percepção do que se passa à nossa volta torna
“Ecologia” assustadoramente actual, um breve passo de distância
entre a nossa realidade e a realidade ficcionada (muito mais breve do
que se possa imaginar). Para tal, Joana Bértholo desenvolve a
narrativa a partir dum conjunto de personagens com as quais
facilmente nos identificamos - porque vivendo os mesmos dramas e
convivendo com as mesmas dúvidas que nós -, alicerçando-a em
acontecimentos próximos ou mesmo coincidentes com aqueles que marcam
a actualidade (...)”. Texto completo em
https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/09/livro-ecologia.html
5. “Os Loucos da Rua Mazur”,
de João Pinto Coelho
Ed. Leya, Novembro de 2017
“(...)
Este é um daqueles livros que se lêem em constante sobressalto. De
cada vez que pensamos que o pior já passou, percebemos que, afinal,
ainda está para vir. Aqui “as costas não folgam pelo vai e vem do
pau”. Os momentos de trégua aparente desvendam, afinal, pequenas
peças soltas dum puzzle que acabará por rebentar em mil estilhaços,
de dor e raiva feitos. E porquê?, perguntar-se-á. Que gene é este
que já nasce com o homem e o leva a atentar contra o seu semelhante
da forma mais vil e cruel? Com que motivação? Em nome de quê?
Entre todas as virtudes deste magnífico livro, talvez a forma como
nos confronta com estas questões seja o mais relevante. Através
dele, vamos ao encontro do que fomos para descobrirmos, em
sobressalto, quem somos (...)”. Texto completo em
https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/02/livro-os-loucos-da-rua-mazur.html
4. “A Manhã do Mundo”,
de Pedro Guilherme-Moreira
Ed. Publicações Dom Quixote, Maio
de 2011
“(...) A grande força do livro está
em provar que ninguém é dono do seu próprio destino e que
situações há para as quais não existem planos B. São pessoas
erradas, no sítio errado, à hora errada, pessoas que, por esta ou
aquela razão, poderiam estar a salvo no momento da tragédia. Ou, no
verso da questão, pessoas que se encontram a salvo quando tudo
acontece, apenas porque sim. Pessoas que poderiam ser qualquer um de
nós, como bem se perceberá. Sem se deixar enredar num estéril jogo
de “ses”, Pedro Guilherme-Moreira coloca o leitor do lado de quem
nem sequer se dá conta da benção que é não ter de tomar decisões
em situações-limite, levando-o a abraçar cada dia como se fosse o
último e a ver a vida como uma dádiva (...)”. Texto completo em
https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/10/livro-manha-do-mundo.html
3. “A Luz Vem das Pedras”,
de António Canteiro
Ed. Gradiva, Junho de 2017
“(...) Aquilo é orgânico, sente-se,
vive-se. É barro e chão e terra e vento e rocha viva. Aquilo é o
toque duns braços de mãe enleados à volta do meu pescoço para
entalar o pano, que há-de servir de guardanapo, babete, para não
sujar o pijama dos restos de sopa. Aquilo é a cor doce dos bolos na
boca, é Deus a escrever direito por linhas tortas, são adjectivos
estranhamente familiares (vagarosolenta, chuvernoso, esperandante,
estreluzente), são lágrimas duma dor feita de desassossego, ódio e
raiva, é tanta coisa que já nem tenho a certeza do que é (...)”.
Texto completo em
https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/01/livro-luz-vem-das-pedras.html
2. “Ensina-me a voar sobre os
telhados”,
de João Tordo
Ed. Companhia das Letras, Março de
2017
“(...) De João Tordo recordo, para
além dos livros que lera anteriormente – “O Paraíso segundo
Lars D.” e “Biografia Involuntária dos Amantes” –, uma
conversa pela noite fora no Museu de Ovar, em Dezembro de 2017, na
qual o escritor disse esta coisa espantosa: “Escrever é deixar que
todas as vozes que temos dentro de nós venham ao de cima e falem”.
Procurando concretizar a ideia, falou das vozes que, surgidas do
nada, ia anotando em pedacinhos de papel e que, “na hora da
verdade”, reunia e escutava. É assim que gosto de imaginá-lo, à
secretária, a escrever este livro, o tampo da mesa a transbordar de
papelinhos de diferentes tamanhos, alguns de cores que não o branco.
É nesses, mais chamativos, que julgo encontrar uma espécie de
lembrete com “diálogos de Ménon, de Platão”, ainda “o dilema
não é não sabermos, é não saber que sabemos”, ou mesmo “a
vida humana não é marcada pela ignorância, mas pelo esquecimento”
(...)”. Texto completo em
https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/05/livro-ensina-me-voar-sobre-os-telhados.html
1. “Não se Pode Morar nos Olhos de Um Gato”,
de Ana Margarida de Carvalho
Ed.
Teorema, Abril de 2016
“(...) Ana Margarida de Carvalho é inexcedível de generosidade na forma como detalha cada capítulo, pondo à prova os nossos fantasmas e preconceitos, as nossas convicções, os nossos medos. O “monólogo da Santa”, logo a abrir o livro, é disso o mais acabado exemplo. Chegamos a hesitar no momento de virar a página, de tal maneira é forte e impressiva a ladaínha de Nossa Senhora de Todas as Angústias, corpo de pau e cabeleira indígena, o caos sendo uma das ordens de Deus (...)”. Texto completo em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/05/livro-nao-se-pode-morar-nos-olhos-de-um.html
“(...) Ana Margarida de Carvalho é inexcedível de generosidade na forma como detalha cada capítulo, pondo à prova os nossos fantasmas e preconceitos, as nossas convicções, os nossos medos. O “monólogo da Santa”, logo a abrir o livro, é disso o mais acabado exemplo. Chegamos a hesitar no momento de virar a página, de tal maneira é forte e impressiva a ladaínha de Nossa Senhora de Todas as Angústias, corpo de pau e cabeleira indígena, o caos sendo uma das ordens de Deus (...)”. Texto completo em https://errosmeusmafortunaamorardente.blogspot.com/2018/05/livro-nao-se-pode-morar-nos-olhos-de-um.html
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