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sexta-feira, 13 de outubro de 2023

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: "Querer Dizer"


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EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Querer Dizer - 50 Anos entre a Pintura e a Escrita 1973/74 - 2023/24”,
de Emerenciano
Festival Literário de Ovar FLO 2023
Galeria do Centro de Artes de Ovar e Museu Júlio Dinis - Uma Casa Ovarense
13 Set > 02 Dez 2023

“Querer Dizer”, do artista plástico ovarense Emerenciano, é uma das grandes ofertas do cartaz cultural da cidade no último quadrimestre de 2023. Inaugurada no passado dia 13 de Setembro, no âmbito do Festival Literário de Ovar, a mostra distribui-se pelo Centro de Artes de Ovar e pelo Museu Júlio Dinis - Uma Casa Ovarense, percorrendo cinquenta anos de carreira artística de Emerenciano. Entre a pintura e a escrita, a obra do artista tem na expressão figurativa e no simbolismo elementos determinantes, disso dando prova o importante conjunto de pinturas, desenhos, gravuras e livros de artista que compõem esta exposição. Neles é possível perceber o extraordinário significado e alcance de um longo percurso artístico, solidamente fundado em valores estéticos e formais de uma enorme coerência e homogeneidade, mas sobretudo na urgência da mensagem que importa espalhar, nesse “querer dizer” que a todos é dirigido.

Pese embora a racionalidade que a envolve - o desenho fortemente estruturado, a minúcia das composições, a precisão dos elementos, a escrita caligráfica -, a obra de Emerenciano é do domínio dos sentidos. O título dado à exposição tem a força de uma evidência, as letras alinhadas ou desenhadas em diferentes planos, ora claras e nítidas, ora enigmáticas, indecifráveis, surdos borrões de tinta levantados do chão num “querer dizer” que se desfaz em grito. Grito de coragem no traço que rompe a monotonia de um padrão e se ergue em tumulto e desvario. Grito de revolta no corpo-ampulheta que refaz o tempo e desfaz a ordem. Grito de audácia na máscara que se torna em rosto e voz dos que não têm voz. Grito de liberdade, nas mãos como nos corpos, nas histórias que se querem contadas como nas memórias que importa preservar. Coragem, revolta, audácia, liberdade. Será que todos ouvimos esses gritos?

O sentido da metáfora espalha-se na tela ou no papel. Revela-se com clareza o “desafio aberto à compreensão de quem vê e quer perceber”. O visitante aceita o desafio como se de um desígnio se tratasse. Abraça formas e cores, lê nos símbolos e nos signos, descobre o rasto das palavras e vê como despontam, intensas e vivas, marcas de uma vida onde a vigilância e a perseverança seguem de mãos dadas com o inconformismo e a insubmissão. São como linhas que se cruzam sem cessar até formarem uma densa teia que tudo esconde, ou se distanciam cada vez mais à medida que se aproximam do infinito. Falam com todas as letras do pensamento ou apenas se dão a ver numa nesga de lúcida loucura. Coração em desassossego, ei-las que surgem umas após outras: Arquivar, proibir, calar, ficar. Sonhos, histórias, conspiração, prisão. Liberdade de expressão, guerra colonial. Razão de morrer. Querer. Dizer!

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