CONCERTO: “A Música dos Loose Tubes”
Orquestra de Jazz de Espinho
Direcção musical, composição e teclados | Django Bates
Convidado especial | Julian Argüelles
Auditório de Espinho - Academia
10 Mar 2023 | sex | 21:30
O concerto chegara ao fim e o “foyer” do Auditório de Espinho era ponto de encontro entre músicos e público. Enquanto Django Bates escrevia uma breve dedicatória no seu “Tenacity” que lhe pedira para assinar, aproveitava para lhe confessar a minha admiração e gratidão por tanta energia, por tão boa disposição, por tão extraordinários momentos. “Há muito tempo que não assistia a um concerto tão alegre, tão cheio de felicidade”, disse-lhe, na ressaca dessa imensa alegria, dessa onda de felicidade que submergiu o Auditório à boleia da música dos Loose Tubes. Porque esta música, feita há cerca de quatro décadas, numa altura em que o jazz europeu se reinventava na busca de novos caminhos, é naturalmente do melhor que podemos escutar ainda hoje. Mas também porque a Orquestra de Jazz de Espinho se mostrou ao seu melhor nível (a disposição dos músicos em torno da secção rítmica é uma excelente ideia, permitindo individualizar os vários naipes, em vez de uma certa amálgama de sons), porque o “convidado especial” Julian Argüelles mereceu mesmo o título de “especial” e porque Django Bates foi um espectáculo dentro do espectáculo.
Cruzando aquilo que podemos ler sobre o trajecto dos “Loose Tubes” e o que nos foi dado assistir na noite de ontem no Auditório de Espinho, diria que o público que esgotou praticamente a sala teve o privilégio de assistir à recriação de momentos ímpares da vida da banda e viver a atmosfera única que envolvia os seus concertos. Uma omnipresente nota de humor pede que nos libertemos das amarras de um quotidiano cada vez mais sombrio e nos deixemos arrebatar pela música. Nela encontramos, devidamente balanceados, a composição precisa e o pandemónio colectivo, o toque minimalista e o calor dos ritmos latinos, as notas de swing, de funk e de blues, num todo extraordinariamente enérgico, pleno de ritmo e harmonia. A atitude e a forte presença em palco é uma ode à vida e a todas as coisas boas que tem para nos oferecer e, neste capítulo, a Orquestra de Jazz de Espinho terá tido uma daquelas noites únicas e irrepetíveis. O último tema do alinhamento, “Arriving”, foi uma verdadeira apoteose, os músicos a subirem as escadas laterais sem pararem de tocar, o público ao alcance de uma mão estendida, a música mais bela e penetrante que nunca. Faltou o copo de cerveja na mão para um desejado e mais que merecido “cheers”.
Falemos então de Django Bates, reafirmando aquilo que pode ler-se na folha de sala que acompanhou o concerto: “Seja pelo humor irreverente, pela complexidade textural ou mesmo pelo carácter cativante deste multi-instrumentista e compositor britânico, os concertos de Django Bates são uma experiência sensorial que perdura muito além de se escutarem as últimas notas.” Tudo isto foi possível confirmar, tal como “o génio criativo e espírito iconoclasta que o caracterizam”. Temas como “Säd Afrika”, “Like Life”, “Yellow Hill”, “Eden Express” e “Night At The Circus” (já no “encore) são disso enormes exemplos, aos quais devo acrescentar “Creeper”, “Village” e o já referido “Arriving”, de Chris Batchelor, e, de Eddie Parker, “Exeter, King of Cities”, “Sosbun Brakk” ou “The Last Word”, o tema que abriu o concerto. Uma nota final para a Orquestra de Jazz de Espinho, com Julian Argüelles como um reforço de peso. A ele e ao seu saxofone se deveram alguns dos mais brilhantes solos da noite, nos quais foi extraordinariamente secundado por outros dois saxofonistas, Rafael Gomes e Bernal Muíños, pelos trompetistas João Almeida e Rodrigo Cunha, pelo clarinetista Edgar Silva ou pelo guitarrista Miguel Moreira. Grande noite em Espinho. Noite inesquecível!
[Foto: Auditório de Espinho | https://www.facebook.com/auditoriodeespinhoacademia]
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