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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

CERTAME: Festival Literário Correntes d'Escritas 2023


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CERTAME: Festival Literário Correntes d’Escritas
Póvoa de Varzim, vários locais
14 Fev > 18 Fev 2023


Mesas, lançamentos de livros, conferências, exposições, instalações, leituras encenadas, cinema, teatro, espetáculos musicais, conversas correntes. É assim desde 2000, na Póvoa de Varzim, com o Festival Literário Correntes d’Escritas a assumir-se como “a verdadeira festa do livro” e a transformar-se, ao longo de dias tornados únicos pelo poder da palavra, num encontro onde cabem todos aqueles que amam os livros. Um encontro de amigos, portanto. Ensejo para encontros mais ou menos esperados, para uma breve troca de ideias, para um abraço, para um café. O melhor dos pretextos para enriquecer a biblioteca com as mais recentes novidades, tornadas ainda mais valiosas por que com dedicatória e assinatura do autor na página em branco. O espanto e a admiração por tantas e tão brilhantes intervenções. E, depois, regressar de coração cheio com as conversas com a Clara Haddad, o Marcial Gala, o Juan Gabriel Vasquez ou o Geovani Martins ainda na lembrança, os abraços do Luís Osório ou do João Luís Barreto Guimarães ainda colados à alma.

Depois de aqui ter estado em 2020, regresso à Póvoa para uma (única) tarde de emoções. As Correntes deste ano atraem cerca de uma centena de escritores de quinze nacionalidades e diferentes geografias de línguas hispânicas e portuguesas, distribuídos por dez mesas. Na sala principal do Cine-Teatro Garrett, testemunho o entusiasmo costumeiro que leva a que a sala encha rapidamente. Sinto o mesmo nervoso miudinho de sempre, agora que a primeira mesa da tarde está prestes a começar. Vejo no programa que todas as mesas têm como tema versos de poemas de Ana Luísa Amaral. Nesta, moderada por Minês Castanheira, o verso diz: “Sei somente de mim aquilo que me sonharam”. É quanto basta para que André Neves afirme que “a poesia é para ser servida em copos de shot”, para que Capicua fale de “estranhamento” nesse entranhar da matrescência e José Mário Silva partilhe o teor de dois sonhos onde cabem um frio antárctico, ursos polares, auroras boreais, elevadores que deslizam para andares com números absurdos e megafones gigantes. Também o “sexagenário” Rui Zink, citando o versículo 33, que diz (“e se não diz, devia dizer”): “Abençoados os nossos inimigos porque só na imaginação deles a vida nos corre às mil maravilhas”. E ainda a “ilustradora de causas” e “livreira-criadora” Mafalda Milhões, apostada em “dar ao leitor certo o livro certo e sair de perto”, na certeza de que “onde há uma livraria há Esperança!”

Com moderação de João Céu e Silva, a segunda mesa da tarde foi lançada sob o verso “Ficar de noite no avesso das coisas”. Margarida Ferra vincou que “nunca dominamos um texto, muito menos um poema” e Ivo Machado reconheceu no pássaro que cruzou o Oceano a pega que Ana Luísa Amaral colou num dos seus últimos poemas. Ondjaki desarrumou-nos (literalmente) o coração ao lembrar que as palavras podem ser pontes entre as pessoas: Gijon, poesia, deserto, solidão, quintal, gato, Luís Sepúlveda, Ana Luísa Amaral, Manuel António Pina. Porque “os amigos e as palavras são coisas que plantamos dentro de nós, depois é só esperar.” Na mais bem humorada intervenção da mesa, João Luís Barreto Guimarães mostrou que “os poetas andam por aí, vão ao supermercado, são tangíveis e vestem calças de ganga” e exortou a não confundir cócegas com comichão. Na sua ânsia de “descascar o quotidiano”, citou poetas norte-americanos, polacos, albaneses, russos e concluiu: “Comigo os Neurologistas não vão ganhar dinheiro. O Alzheimer, à beira de um poeta, é um menino.”

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