EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Histórias de Encantar”,
de Gina Marrinhas
Biblioteca Municipal de Ovar
10 Fev > 22 Abr 2023
Depois de, em finais de 2019, nos ter oferecido a sua visão sobre essa obra maior da literatura portuguesa e universal que é “Os Lusíadas”, Gina Marrinhas regressa à Biblioteca Municipal de Ovar com um conjunto de trabalhos que apelam à imaginação e ao sonho. São “histórias de encantar” que praticamente se inscrevem no nosso código genético de tanto as termos ouvido contar da boca dos nossos pais, tios ou avós e de tanto as termos contado aos nossos filhos. Histórias que teimam em aquecer, embalar e enriquecer. Que não cessam de aguçar a curiosidade e a imaginação, de despertar o lado lúdico de quem as ouve, de fazer com que o mundo possa ser mais facilmente entendido, de se mostrarem fundamentais para melhor lidar com as emoções. Todos passámos por isto e, de igual modo, a pintora; que, com a sua arte, quis prestar homenagem a um conjunto de figuras que cresceram com ela e que continuam a fazer-lhe companhia.
Do coração para a tela e da tela ao nosso olhar e sentir, “Histórias de Encantar” é um tempo de partilha e de dádiva que nos coloca à prova num duplo sentido. Por um lado, as partes conhecidas de cada história que despontam de cada quadro, o lobo bem apessoado, a apetecível maçã por sobre a mesa, casinhas feitas de doces, um nariz a crescer, um sapatinho deixado para trás, meninas e príncipes que se apaixonam, casam e vivem felizes para sempre. Há um lado subliminar, porém, que Gina Marrinhas faz questão de trazer ao de cima na forma de um relógio, uma espada, um anjo, uma flor, uma velha (uma bruxa?) à espreita, uma criança à espera, uma abóbora, um coelho, uma chávena de café. E pássaros, sempre. Signos como ecos de um tempo, de um lugar, de uma voz cada vez mais distante. A sua forma de devolver uma história sonhada mil vezes.
Exercício de reinterpretação de enorme significado, “Histórias de Encantar” reparte-se entre Lewis Carroll e Charles Perrault, Gabrielle-Suzanne de Villeneuve e Hans Christian Andersen, os Irmãos Grimm e Carlo Collodi, a tradição oral japonesa e alemã, Maria Judite de Carvalho, Rubem Alves, Antoine de Saint-Exupéry. Há histórias que são “património universal”, como “Alice no País das Maravilhas”, “Pinóquio”, “O Principezinho”, “A Bela Adormecida”, “Branca de Neve e os Sete Anões” ou “A Menina do Capuchinho Vermelho”. Outras serão menos conhecidas mas, ainda assim, histórias de encantar. E há, enfim, Gina Marrinhas, com a beleza da sua pintura, o seu traço muito pessoal na forma como pinta, sem vincar em demasia os objectos da sua atenção, antes deixando-os envoltos numa relativa indefinição. As cores prendem-se aos elementos essenciais, recaindo nos azuis em todos os tons e nos ocres. A tela é despojada daquilo que é acessório, os espaços deixados livres para que possam ser preenchidos por quem observa. Para ver na Biblioteca Municipal de Ovar, espaço de livros e de esperança. De histórias de encantar.
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