CONCERTOS & CONVERSAS: Ovar Expande ’23
S. Pedro
Lika
Best Youth
Escola de Artes e Ofícios
21 Out 2023 | sab | 21:30
Ponto final na quarta edição do Ovar Expande! Em tempo de balanço, destaque para a aposta na qualidade e diversidade do evento, materializado em propostas de enorme interesse e que deram a ver o quanto a nova música portuguesa segue os melhores caminhos neste processo de inovação, crescimento e afirmação da sua identidade. Programando inteligentemente uma série de oito concertos - aos quais se deve acrescentar um vasto programa paralelo onde as conversas assumiram um papel relevante -, os organizadores conseguiram o milagre de adequar os espaços e os tempos às características de cada momento, criando sinergias e potenciando processos que permitiram acompanhar o certame de forma integrada e vivê-lo em modo de alta-voltagem. O entusiasmo e carinho do público foi uma constante ao longo dos três dias do Festival e o resultado final é extraordinariamente positivo, devendo deixar programadores, produtores e organizadores particularmente orgulhosos do seu trabalho e certos da excelência do Ovar Expande como um certame único e diferenciador.
No arranque do último dia, S. Pedro subiu ao palco e encheu de graça uma sala espande a abarrotar de público. Com os primeiros acordes veio a suspeita de uma música muito bem feita e melhor interpretada, que o tempo acabaria rapidamente por confirmar. Num alinhamento repartido por temas dos álbuns “O Fim” e “Mais Um”, o público foi levado por caminhos pessoais e íntimos ao sítio do primeiro beijo, a um miúdo medricas, a uma bebida ao balcão ou a uma espera em Campanhã. Em geografias de terra batida ou alcatrão, vielas estreitas e quartos de aluguer, a música do S. Pedro vive do pragmatismo e do golpe de cintura, do desenrascanso e do dia de hoje. Se é amor, é amor. Se é merda, é merda. A vida tem coisas muito boas e não podemos dar-nos ao luxo de desperdiçar o momento. “O mundo é onde eu calcar o chão”. Pedro Pode, Tó Barbot, Cláudio Tavares e Sérgio de Bastos trouxeram-nos um rock mais puro que duro, daquele que sabe bem e faz bem. Perdermo-nos nos porquês de não conhecermos tanto umas bandas e tão pouco outras seria o mote para uma bela conversa (talvez os organizadores queiram pegar na dica e pô-la em prática no próxima edição do Festival), mas apetece dizer que, se mais motivos não houvesse, S. Pedro justificaria por si só a existência de um festival como o Ovar Expande. “Podia ser sempre assim.”
Lika, cantora originária do Cazaquistão que vive há oito anos em Portugal e se fez notada pela sua participação no The Voice em 2021, assumiu o concerto do meio, nele reunindo um conjunto de temas que fazem parte do seu álbum “Back To Zero”. Foi bom sentir gratidão nas palavras que dirigiu ao público e a sua simpatia não terá deixado ninguém indiferente, mas em matéria de música ficou tudo um pouco aquém do esperado. Letras algo pueris, muita insegurança na voz e solos instrumentais demasiado longos (em loop, enquanto a cantora trocava de guitarra de forma incessante), levaram a que o interesse no concerto fosse decaindo, apesar do esforço louvável de compor e cantar em português. Para o fim ficam os Best Youth, banda portuense assente no duo Rocha Gonçalves e Catarina Salinas, a quem coube a responsabilidade de encerrar o Ovar Expande. Do momento ficou a ideia de uma música muito bem desenhada, ancorada nos ritmos voláteis do indie rock e do dream pop electrónico, uma música apelativa e particularmente dançável. O público não se fez rogada e a sala espande foi, pelo espaço de uma hora, pista de dança animada e sacudida. Um final alegre e contagiante, a resumir o tom deste ciclo de oito concertos em três noites ricas de palavras e de música.
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