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segunda-feira, 23 de outubro de 2023

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: "Imposto Rosa: O Preço de Nascer Mulher"



EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Imposto Rosa: O Preço de Nascer Mulher”,
de Ana Maia
Curadoria | António Melo Rosa
Biblioteca Municipal de Ovar
20 Out > 30 Dez 2023


“Mulher… liberta a música que há em ti e que flui na tua ESSÊNCIA e que, vibrando em frequências mudas, se faz ouvir no infinito do SER LIVRE! Os teus olhos refletem o brilho sideral, herdado das estrelas, e a tua beleza transforma-se em grito de AMOR e LIBERDADE.”

As Artes Plásticas voltam a afirmar-se como veículo privilegiado de questionamento, oposição e resistência face aos males de que enferma a nossa sociedade. “Imposto Rosa: O Preço de Nascer Mulher”, de Ana Maia, é prova disso, deixando alertas “para a violência a que a mulher é (ainda) sujeita, no local de trabalho, em locais públicos e, até, na sua própria casa, que deveria ser o local mais seguro, fruto de antigos (pre)conceitos da sociedade. A violência doméstica, a violência psicológica, a violência moral e a violência patrimonial são padrões repetitivos de relacionamentos, permanecendo a cultura machista e patriarcal, que não se compreende em pleno séc. XXI.” São palavras da artista que pretende, com as suas obras, “pôr a descoberto os problemas sociais decorrentes desta circunstância e contribuir para que os ultrapassemos.”

Percorrer com os sentidos o conjunto de obras de Ana Maia é mergulhar num mundo de aparências que retém na sombra a dor e o sofrimento, o repúdio, o desdém, a exclusão, a arbitrariedade, a submissão, o recalcamento, a solidão. A normalização dos padrões de beleza, incutida na mulher desde a mais tenra idade, está bem patente na instalação que ocupa o centro da sala e que mostra um “cacho” de barbies, daqueles que fariam as delícias de qualquer criança. Há uma profunda intencionalidade em colocar esta peça em destaque, já que ela é ponto de partida e chegada de um conjunto de normas de conduta pelos quais a mulher se deve reger: a cintura fina numa figura esbelta e alongada, o rosto sem mácula, os cabelos compridos e sedosos, um sorriso que denota o charme e o glamour de uma mulher que se quer com “M” grande. Ser jovem e ser branca nem se questiona. Mas quanto de banalização da imagem da mulher há nisto? Voltemos às barbies e façamos repousar o nosso olhar sobre cada uma delas: São todas iguais!

Fazendo da colagem uma das técnicas de base dos seus trabalhos, Ana Maia estabelece um conjunto de composições cuja mensagem se estende muito além daquilo que um primeiro olhar faria supor. Subliminarmente, as pistas vão sendo desvendadas como cartas saídas de um baralho, seja numa revista de lavores ou nos rostos que se abrigam por detrás de um véu ou de uma cortina, seja num jornal árabe, no corte de umas calças, no enigma de um número com quatro dígitos, numas cartas de amor ou nos porta-moedas, abertos e vazios, alinhados num “S” sibilante, de silêncio e de súplica. Mais do que a qualidade (inegável) dos trabalhos, é o seu significado e alcance que marcam esta exposição, convidando-nos a espreitar a multiplicidade dos “eus” de cada mulher - mãe, dona de casa, estudante, professora, pintora - e a percorrer “caminhos cruzados”, da “fada do lar” aos “horizontes indefesos”. Neste combate que travamos por um mundo mais justo, igualitário e melhor, “Imposto Rosa: O Preço de Nascer Mulher” afirma-se como uma exposição de causas que importa abraçar. Está tudo lá. É impossível não ver!

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