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sexta-feira, 20 de outubro de 2023

CONCERTOS & CONVERSAS: Ovar Expande '23 Dia 1



CONCERTOS & CONVERSAS: Ovar Expande ’23
Bonifácio
Tó Trips
Escola de Artes e Ofícios
19 Out 2023 | qui | 21:30


Está em marcha a quarta edição do Ovar Expande. Em palco ou em sala, entre concertos, conversas, oficinas de experimentação, ações de formação técnica e masterclasses, “a ‘arte e o oficio’ de pensar, fazer e trabalhar a música”, expande-se por universos criativos surpreendentes e inspiradores que se abrem ao que de melhor a nova música portuguesa tem para oferecer. O “pontapé de saída” foi dado ao final da tarde de ontem no Bar do CAO e colocou no centro das atenções o livro “Ínfimas Coisas”, Road & Roll Book editado em parceria pela Cutelo e pela Revolve e que viu a luz do dia no passado mês de Março. Juntando perto de uma centena de fotografias a um conjunto de textos minimalistas que abrem a porta a alguns dos momentos ínfimos e íntimos das duas últimas décadas de vida e carreira de Tó Trips, o livro mostra-se em música e poesia, singelos detalhes e ternas memórias, representando uma forma de “arrumar ideias”, abraçar aqueles que foram (e são) fundamentais na vida do autor e virar a página após o terrível período pandémico e o fim dos Dead Combo. Moderada por Joaquim Margarido, a conversa teve cobertura da Rádio AVFM e pode ser escutada na íntegra AQUI.

O Palco Galeria da Escola de Artes e Ofícios recebeu o concerto de abertura do Ovar Expande ’23 e, tal como no ano anterior, a responsabilidade do momento inaugural coube a um artista “da casa”. Com uma consola, uma panóplia de fios, cabos, entradas e luzes de todas as cores, Bonifácio trouxe-nos uma experiência musical que recorre a técnicas de composição de música generativa, propondo ao público um conjunto de viagens no espaço e no tempo ao sabor da imaginação e do estado de alma de cada um. Foi tempo de fechar os olhos e relaxar, deixar o pensamento fluir em voo livre e abraçar a música. Mergulhados numa labiríntica floresta de imagens que se vão formando na nossa cabeça, sentidos alerta na sugestão de um saxofone ou de uma guitarra, de uma bateria ou de um órgão, entramos nesta oficina de sons que é simultaneamente espaço físico e virtual, à vez palco e espaço sideral. A harmonia e o ritmo passeiam-se de mais dadas, em melodias que se sucedem umas após outras e nos arrastam para as mais diversas dimensões. A experiência acaba, mas as ondas prolongam-se, como réplicas que não cessam de se fazer sentir.

Subimos um piso e ocupamos o espaço da Sala Espande. A noite encerra com Tó Trips e a apresentação de “Popular Jaguar”, o seu mais recente trabalho. Com ele estarão António Quintino no contrabaixo e guitarra acústica e Helena Espvall no violoncelo, para uma hora de concerto que se revelará único, na sua música intimista como naquilo que transmite, profundamente intenso e inspirador. De momento só Tó Trips está em palco e “Península dos Índios” é o tema de abertura do concerto. O pé esquerdo bate com força no estrado. Marca o ritmo, marca a raiva. Há Lisboa na música, como há fado e há tango. Há canoas no Tejo, há miúdo da Bica e há homem do Saldanha. Os momentos sucedem-se, assim como as memórias que se derramam em acordes de saudade e melancolia. As cordas do violoncelo e do contrabaixo emprestam calor e envolvência às músicas e são elas que nos levam por paisagens inesperadas, de Nápoles a Marrakech, do Porto a Cartagena das Índias. Com elas vêm imagens, como no cinema: Paixões tórridas, perseguições a alta velocidade, “bombas” para a piscina às 3 da manhã, o futuro lido em borras de café. Imagens como ínfimas coisas, que nos lembram os nadas de que a vida é feita.

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