Páginas

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

CERTAME: FAZUNCHAR '21


[Clicar na imagem para ver mais fotos]

CERTAME: FAZUNCHAR 2021
Figueiró dos Vinhos
14 > 22 Ago 2021


Ao longo de uma semana, a Arte e a Festa passearam-se de mãos dadas por Figueiró dos Vinhos. Abriram-se num sorriso em murais plenos de cor e alegria, acenaram de varandas e janelas em pequenas e enigmáticas estatuetas, ofereceram-se num abraço em desenhos e fotografias, espalharam harmonia e ritmo em dois magníficos concertos, deram-se a partilhar em workshops, conversas com os artistas e visitas guiadas e, num final em grande estilo, foram saberes e sabores num piquenique de todos e para todos. Desta forma se pode resumir aquilo que foi a terceira edição do FAZUNCHAR, o Festival de Arte Urbana de Figueiró dos Vinhos, evento apostado em promover e dinamizar o território e que, apesar da sua curta existência, ocupa já um lugar muito especial no coração dos figueiroenses.

Co-organizadora e curadora do evento, a Mistaker Maker – Plataforma de Intervenção Artística mostrou-se particularmente ambiciosa nesta edição do FAZUNCHAR, chamando a Figueiró dos Vinhos um conjunto de figuras destacadas no panorama da Arte Urbana a nível mundial. São os casos do argentino Bosoletti, da francesa Perrine Honoré e dos espanhóis Elisa Capdevila e Isaac Cordal, aos quais se devem acrescentar os portugueses Samina, Third e Pantónio. Sete nomes para sete projectos de enorme qualidade e impacto, que se vêm juntar aos projectos das duas edições anteriores e que afirmam a vila e seus arredores como “um caso sério” no panorama dos Festivais de Arte Urbana no nosso País.

Bosoletti e a sua forma singular de representar a memória estão bem expressos em duas obras que ocupam fachadas da Travessa da Cadeia e que parecem dialogar entre si. Em tons de cinza pouco contrastados, as duas peças encerram um enigma que obriga a que o espectador mergulhe fundo em cada uma delas em busca da sua essência. O resultado é surpreendente e digno da mais viva admiração e aplauso. Na Avenida Marçal Pires Teixeira, Pantónio dá-nos a sua visão de um mundo cujos reinos se fundem no leve baloiçar de uma folha ao vento e no delicado esvoaçar de uma libelinha. A pintora e muralista Elisa Capdevilla devolve-nos “um passeio da catequese”, uma memória com várias décadas de existência recuperada com uma boa dose de talento e muito amor. É na Avenida Padre Diogo de Vasconcelos, no mesmo local onde até há bem pouco tempo foi possível apreciar uma instalação de Aheneah.

As quatro freguesias do município de Figueiró dos Vinhos não ficaram esquecidas e foram brindadas, cada uma delas, com uma nova peça. Trabalhando numa parede da Junta de Freguesia de Campelo, Third deixou-nos a sua interpretação do quadro de Malhoa “Embraçar cebolas”. Em Almofala de Baixo, na freguesia de Aguda, José Malhoa, juntamente com Henrique Pinto, volta a ocupar lugar de destaque num trabalho multicolorido com a assinatura de Perrine Honoré. Nele podemos encontrar praticamente todos os elementos distintivos do território, com destaque para o Laínte, dialecto local caído em desuso mas que representa um património imaterial que urge preservar. Em Arega, Samina trocou o habitual vermelho das suas composições por um amarelo vivo, rendendo homenagem à mulher do campo. Por fim, nas Bairradas, junto à igreja, Mariana Duarte Santos devolve-nos outra memória muito forte das gentes de Figueiró, a festa do Bom Jesus da Sobreira que tem lugar no fim de semana seguinte à quinta-feira de Ascensão.

À semelhança de cidades como Nova Iorque, Bogotá, Amesterdão ou Taipei, Figueiró dos Vinhos recebeu um conjunto de pequenas esculturas do espanhol Isaac Cordal, numa instalação que fala de timidez, constrangimento e solidão num mundo cada vez mais global e menos solidário. São vinte e uma miniaturas no total e o desafio é descobri-las todas. O resto foi, como li no Jornal de Cordel, “o Fred a bombar, a Amaura a cantar, o Miguel a fotografar, o Francis.co a desenhar, a Rute a versar (…)”, mas sobre a Amaura e a Rute falarei “já a seguir” em detalhe, em artigos separados aqui no blogue. E por falar em “Jornal de Cordel”, este foi o recuperar de uma tradição que teve o condão de manter actuais os múltiplos desenvolvimentos do Festival e que foi amplamente consultado pelos locais e gentes de passagem. No final, uma pergunta que é também um convite: “Jordamos atilém ao cadéfe bercher um moiteira copio?”

Sem comentários:

Enviar um comentário