EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Versos”,
de Rute Ferraz
FAZUNCHAR ‘21
Museu e Centro de Artes de Figueiró dos Vinhos
14 Ago > 03 Set 2021
Em 2019, aquando da primeira edição do FAZUNCHAR, o espanhol Julio Anaya Cabading apostou na reprodução de três obras de José Malhoa, distribuindo-as por paredes da vila de Figueiró dos Vinhos. Desta forma, invertia-se a tendência natural de institucionalizar a arte, retirando-a dos museus e trazendo-a para junto das pessoas. Para além do significado do conceito e do inegável valor do trabalho de Cabading, aconteceu esta coisa espantosa de haver quem nunca tivesse entrado num Museu e, movido pela curiosidade, o fizesse pela primeira vez com o intuito de “confrontar” os trabalhos de ambos os artistas. Em certa medida, a história repete-se dois anos depois, com a exposição de fotografia de Rute Ferraz a “verter-se” pelas ruas de Figueiró, a partir de um espaço nuclear que é a galeria de exposições temporárias do Museu e Centro de Artes de Figueiró dos Vinhos. A arte volta às ruas e o resultado é delicioso!
Tendo participado como Artista Residente nas duas anteriores edições do Festival, Rute Ferraz legou para a posteridade um precioso conjunto de registos fotográficos, testemunhas vivas do nascimento e crescimento do certame. Foi nelas que, em grande medida, a comunicação do FAZUNCHAR assentou e foi através delas que, aqueles que o acompanharam à distância, tiveram a possibilidade de sentir um pouco do muito que se foi fazendo por estas bandas. No rescaldo de duas experiências marcantes, Rute Ferraz fez uma selecção das suas melhores imagens e o resultado é surpreendente. Desde logo pelo facto de ter “omitido” todo e qualquer traço que pudesse remeter directamente para o FAZUNCHAR. Mas sobretudo pela simplicidade e despojamento de cada uma das imagens, ao encontro dessa matriz “naturalista” que tanto fascínio exerceu em pintores como José Malhoa, Manuel Henrique Pinto, Columbano Bordalo Pinheiro, Silva Porto ou Carlos Reis.
Dentro de portas ou pelas ruas da vila poderá o visitante admirar um belíssimo conjunto de cinquenta e quatro fotografias que espelham bem o viver e o sentir das gentes de Figueiró dos Vinhos. São imagens que “convivem” duas a duas, uma a cores e outra a preto e branco, num diálogo que visa realçar as marcas do tempo nas paredes e muros, nas portas e janelas, mas também nos corpos e nos rostos das pessoas. São imagens que evidenciam uma relação muito directa entre a desertificação do interior e o envelhecimento da população, numa curva descendente que representa, inexoravelmente, um baixar de braços face às incertezas do futuro. Rute Ferraz capta esta realidade com enorme sensibilidade, devolvendo esse sentir envolto em interrogações que arrastam consigo histórias e memórias, sonhos e quimeras. Uma belíssima exposição para desfrutar, dentro de portas e fora delas. Só até ao próximo dia 03 de Setembro.
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