CONCERTO: Amaura
FAZUNCHAR ‘21
Auditório da Casa da Cultura de Figueiró dos Vinhos
21 Ago 2021 | sab | 21:30
A voz. O primeiro impacto é marcante. Poderosa e elegante, a voz de Amaura espalha-se perfumada, envolvendo o público numa carícia. Seja num registo mais pop ou mais bluesy, numa piscadela de olho ao hip-hop, à bossa nova ou ao jazz, a voz conforma-se naturalmente, aninha-se nos graves e agudos com igual beleza e emoção, reparte-se e segue caminhos que são atalhos para os sentidos e para o coração do público. Para os mais cépticos, atentar nas sonoridades de “Só Sinto” e “Blues do Tinto” e contrastá-las com “Coopero”, “Dança” ou “Marvel da Tuga”, mais do que desfazer dúvidas, servirá para ir mais longe, o bichinho da curiosidade de súbito a fazer cócegas e a levar a outras paragens nas asas de “Terabyte” ou “Valerie”, este último da bem conhecida Amy Winehouse.
A presença. Descontraída, espontânea, entusiástica, calorosa, comunicativa, Amaura tem uma presença fortemente empática, sabendo como “agarrar” o público e levá-lo para o “canto” de onde melhor se pode ver e sentir a sua música. Fazendo questão de ser ela própria, percebe-se o quanto estar em palco é estar no seu ambiente. Com Daniel Freitas, aka TNT, no suporte musical e voz, e Pedro Braula Reis na guitarra, Amaura encarnou da melhor forma o ideal do FAZUNCHAR e, com muita energia e um enorme sorriso, combinou na perfeição a arte e a festa, pondo a plateia a “abanar o esqueleto”. Numa noite fria e ventosa, o calor na sala foi único, a marca da cantora bem vincada e a cotar-se como um dos pontos altos da edição deste ano do Festival.
A poesia. Por fim, mas não menos importante, os poemas, na sua maioria escritos pela própria Amaura. Abertos, francos, inspiradores, são um espelho do viver e do sentir da cantora. “EmContraste”, o tema de abertura do concerto, não poderia ser mais revelador: “Sou muito esquiva pouco prendada / Sou muito viva um pouco apagada / Sou sem travão só coração terça sou sim quarta sou não (…)”. Num quotidiano feito de momentos onde cabe o “cansaço e dores nas costas”, “trifene e saco de água quente”, mas também “um copo de vinho vermelho, encorpado e do douro” e a “proeza de ter a casa paga”, Amaura somos todos e todos somos Amaura. Se dúvidas restassem, eis mais uma prova do muito e bom que a nova música portuguesa tem para oferecer. Celebremos, pois!
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