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sexta-feira, 16 de julho de 2021

CONCERTO: "Music for 18 Musicians"



CONCERTO: “Music for 18 Musicians” | Steve Reich
FIME Ensemble & Drumming GP
Direcção musical | Miquel Bernat
Interpretação | João Almeida, Lígia Madeira, Luís Duarte, Teresa Doutor (piano); Ângela Alves, Eva Braga Simões, Gabriela Braga Simões, Joana Valente (vozes); Vítor Vieira (violino); Nikolai Gimaletdinov (violoncelo), Ricardo Alves, Victor Pereira (clarinete e saxofone); André Dias, Pedro Gois, João Miguel Braga Simões, Nuno Simões, Rui Rodrigues, Pedro Oliveira, Miquel Bernat (percussão)
FIME – 47º Festival Internacional de Música de Espinho
Auditório de Espinho – Academia
10 Jul 2021 | Sab | 21:00


“Music for 18 Musicians” começou por ser uma das grandes apostas da anterior edição do FIME – Festival Internacional de Música de Espinho, entretanto transposta para esta 47ª edição por obra e graça de uma pandemia que teima em condicionar as nossas vidas. Escrita entre 1974 e 1976 por Steve Reich, verdadeira lenda viva da música contemporânea, a obra é emblemática a todos os títulos, sobretudo pela desmistificação que faz de um minimalismo percebido à data como refém de uma certa esterilidade electrónica, pondo em evidência todo o potencial harmónico desta corrente musical. Foi este o desafio a que Miquel Bernat, à frente do FIME Ensemble e do Drumming GP, soube abraçar da melhor maneira. E assim, num Auditório com algumas clareiras de dimensão apreciável, ao longo de uma hora, viveu-se numa espécie de transe, o corpo e a mente mergulhados num ambiente encantatório e fundidos numa experiência sensorial única.

Plim. Plim. Plim. Plim. São de inquietação os momentos iniciais do concerto. O ritmo vivo, o movimento compassado, o palpitar das cordas e da percussão e a respiração humana nas vozes e nos instrumentos de sopro parecem remeter para um tempo feito matéria, inexorável numa marcha que não admite pausas, conformado por linhas e círculos, num paradoxo que o breve sopro de uma vida não consegue resolver, apenas sentir. Será neste sentir que o espectador, refém de uma música hipnotizante, se vê irremediavelmente atraído para o interior da peça, aceitando o convite a escutar dentro de si o pulsar do tempo e a encontrar as respostas que melhor se adequam a questões tão existenciais como a relatividade do binómio tempo-espaço, o sentido da própria vida ou a existência de Deus.

Combinando uma intensidade de cortar a respiração com um poderoso apelo visual, “Music for 18 Musicians” começa por introduzir o espectador aos sons que se derramam de uma máquina, a ela juntando mais máquinas, numa sequência que parece não ter fim. A ideia de um gigantesco armazém onde o trabalho é feito em série acaba por se afirmar naturalmente, convocando imagens dos filmes “Metrópolis”, de Fritz Lang, ou “Tempos Modernos”, de Charlie Chaplin. Esta ideia de maquinaria irá permanecer em fundo ao longo da peça, acompanhada de um pulsar vigoroso, como a respiração de um corredor de fundo. De repente, o vibrar dos instrumentos de percussão oferecem a possibilidade de viajar com a mente ao encontro de um ritual de iniciação nas florestas de Java, da investidura de um feiticeiro numa aldeia do Gana, do frenesi dos corpos num jogo de capoeira ou do que se quiser. É isto “Music for 18 Musicians”, uma das obras mais fascinantes a que me foi dado assistir nesta minha não curta carreira de melómano. Absolutamente mágico.

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