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terça-feira, 29 de junho de 2021

CONCERTO: Richard Bona & Orquestra de Jazz de Espinho



CONCERTO: Richard Bona & Orquestra de Jazz de Espinho
FIME - 47º Festival internacional de Música de Espinho
Auditório da Academia de Música de Espinho
26 Jun 2021 | sab | 21:00


“Estive cerca de 520 dias sem tocar para um público. Pensei que a minha carreira tinha acabado.” Entre o sério e o divertido, foi com estas palavras que Richard Bona abriu o concerto da noite de ontem no Auditório da Academia de Música de Espinho. Rodeado pelos músicos da Orquestra de Jazz de Espinho, reforçada com alguns convidados, o “Sting africano” mostrou-se tão grato à vida e ao acolhimento caloroso por parte de todos os presentes que este “regresso” ganhou rapidamente contornos de celebração, influenciado o desempenho geral de uma forma extraordinariamente positiva e transformando o concerto num conjunto de momentos inesquecíveis, as notas de destaque a caírem por inteiro na qualidade da música de Bona, nos seus dotes naturais de comunicador e numa Orquestra de Jazz de Espinho que não pára de nos surpreender.

Ao longo de pouco mais de uma hora, foram dez os temas interpretados, numa simbiose perfeita entre o Jazz e a Word Music. “Three Views of a Secret”, de Jaco Pastorius, marcou o início de uma viagem que, tendo Nova Iorque como um referencial seguro, fez questão de se estender aos Camarões, pátria-mãe do artista, em temas como “Mbemba Mama” (uma homenagem às mães, “postas no mundo por um Deus que sabia que não ia conseguir estar em todo o lado ao mesmo tempo”) ou “Engingilaye”. O continente asiático não foi esquecido - de uma viagem de quinze dias à Índia surgiu a inspiração para “Shiva Mantra” -, assim como os ritmos latinos, o samba expresso nesse trepidante “Manyaka O Brazil” que pôs toda a gente a mexer nas cadeiras. O encore, extensão natural do próprio concerto, foi preenchido com uma inspirada interpretação de “Fannie Mae”, um tema original de Buster Brown a piscar o olho ao R&B que fez a sala “vir abaixo” com os aplausos entusiásticos da plateia.

Percebe-se que a noite foi de festa e de celebração, para gozo e gáudio do público que esgotou o belíssimo espaço do Auditório em mais um espectáculo integrado na programação do 47º Festival Internacional de Música de Espinho. Richard Bona ficou nos nossos corações e, como o próprio fez questão de salientar, não podemos esperar mais sete anos para voltar a convidar o músico (sim, Bona tinha estado anteriormente em Espinho, em finais de Julho de 2014). Importa, enfim, falar da Orquestra de Jazz de Espinho, o fruto do excelente trabalho que os seus directores musicais, Paulo Perfeito e Daniel Dias, vêm desenvolvendo de 2009 a esta parte. É um privilégio escutar um agrupamento que trata a música de forma tão séria e perceber que, no seu seio, são já em número apreciável aqueles que se mostram perfeitamente à vontade em solos esclarecidos, como é o caso dos saxofonistas Rafael Gomes e Lucas Oliveira, dos trombonistas Hugo Caldeira e Rui Bandeira, dos vibrafonistas Guilherme Guedes e João Rosa ou do trompetista João Tavares. A eles juntou-se a classe de Gileno Santana (trompete), Miguel Moreira (guitarra), Hugo Raro (piano), João Cunha (bateria) e Pancho (percussão). O público não podia estar melhor entregue.

[Foto: Festival Internacional de Música de Espinho | https://www.facebook.com/fimespinho/]

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