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domingo, 1 de dezembro de 2019

CONCERTO: Jacinta



CONCERTO: “Jacinta”
Novembro em Jazz 2019
Casa da Criatividade
29 Nov 2019 | sex | 22:00


Coube a Jacinta encerrar a segunda edição do Novembro em Jazz, trazendo consigo um generoso punhado de temas que fizeram as delícias de um público que quase voltou a encher a Casa da Criatividade. Acompanhada ao piano por Pedro Costa e com Paulo Dantas no baixo de seis cordas, a cantora teve uma actuação de enorme nível, explorando todas as capacidades da sua voz única, feita de “veludo e seda, yin e yang, mel e sal”, como notou Thomas Staiber. “Nascente” foi o tema escolhido para marcar o arranque do concerto. E que arranque. Na sua extraordinária voz, a composição de Murilo Fernandes e Flávio Venturini derramou-se como uma carícia, abrindo as portas a uma grande noite de Jazz. Continuando a cantar em português do Brasil, onde reside há cinco anos, Jacinta carregou no tom da Bossa Nova, oferecendo-nos esse colossal “Sinhá”, um dos mais belos temas de Chico Buarque, quiçá mais belo ainda na voz da cantora.

O momento seguinte levou o público ao encontro de Thelonius Monk, com “I Mean You”, o virtuosismo de Pedro Costa e Paulo Dantas a vir ao de cima em aponstamentos com tanto de clássico como de inovador. Monk viria a ser, aliás, o músico mais presente neste inesquecível serão, replicado no dolente “Ask Me Now” ou no sofisticado “Think of One”, em arranjos de enorme talento e bom gosto. Regressando ao alinhamento do concerto – exemplarmente construído, a realçar a plasticidade da voz da cantora -, Jacinta foi Joni Mitchell nesse tema belo e amargo que é “Goodbye Pork Pie Hat”, homenagem ao saxofonista Lester Young, à boleia da música de Charles Mingus – “When Lester took him a wife / Arm and arm went black and white / And some saw red / And drove them from their hotel bed / Love is never easy.”

Antes ainda do “regresso ao Brasil”, desta vez com “Aquele Um”, de Djavan e “Aquele Abraço”, de Gilberto Gil, Jacinta interpretou “I've Got The World on a String”, um tema de 1932 e que nomes como Bing Crosby ou Frank Sinatra ajudaram a popularizar. Com o concerto a chegar ao fim, a cantora ofereceu um enorme momento musical, ao vestir a “Dança dos Mancos”  um tema popular da região de Aveiro que celebra S. Gonçalo  com as roupagens do Jazz. O mesmo viria a suceder já no “encore” com Zeca Afonso e “Saudades de Coimbra”, num arranjo absolutamente incrível e que marcou o concerto, não sem antes ter revisitado a música de Tom Jobim e a voz de Elis Regina com o inefável Retrato em Branco e Preto. Conhecedor e atento, o público soube pontuar cada momento com o seu reconhecido aplauso. Um aplauso que deve estender-se à programação de um Festival que, apesar da sua juventude, é já um “caso sério” no panorama dos festivais do género em Portugal. Pois que venha a terceira edição em 2020, melhor e mais rica ainda, e que traga muitas Jacintas!

[Foto: Casa da Criatividade | facebook.com/casadacriatividade/]

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