CONCERTO: “Jacinta”
Novembro em Jazz 2019
Casa da Criatividade
29 Nov 2019 | sex | 22:00
Coube a Jacinta encerrar a segunda
edição do Novembro em Jazz, trazendo consigo um generoso punhado de temas
que fizeram as delícias de um público que quase voltou a encher a
Casa da Criatividade. Acompanhada ao piano por Pedro Costa e com
Paulo Dantas no baixo de seis cordas, a cantora teve uma actuação
de enorme nível, explorando todas as capacidades da sua voz única,
feita de “veludo e seda, yin e yang, mel e sal”, como notou
Thomas Staiber. “Nascente” foi o tema escolhido para
marcar o arranque do concerto. E que arranque. Na sua extraordinária
voz, a composição de Murilo Fernandes e Flávio Venturini
derramou-se como uma carícia, abrindo as portas a uma grande noite
de Jazz. Continuando a cantar em português do Brasil, onde reside há cinco anos, Jacinta carregou no tom da Bossa Nova, oferecendo-nos esse
colossal “Sinhá”, um dos mais belos temas de Chico Buarque,
quiçá mais belo ainda na voz da cantora.
O momento seguinte levou o público ao
encontro de Thelonius Monk, com “I Mean You”, o virtuosismo de
Pedro Costa e Paulo Dantas a vir ao de cima em aponstamentos com tanto de clássico como de inovador.
Monk viria a ser, aliás, o músico mais presente neste inesquecível
serão, replicado no dolente “Ask Me Now” ou no sofisticado
“Think of One”, em arranjos de enorme talento e bom gosto.
Regressando ao alinhamento do concerto – exemplarmente construído,
a realçar a plasticidade da voz da cantora -, Jacinta foi Joni
Mitchell nesse tema belo e amargo que é “Goodbye
Pork Pie Hat”, homenagem ao saxofonista Lester Young, à boleia da
música de Charles Mingus – “When Lester took him a wife / Arm
and arm went black and white / And some saw red / And drove them from
their hotel bed / Love is never easy.”
Antes ainda do “regresso ao Brasil”,
desta vez com “Aquele Um”, de Djavan e “Aquele Abraço”, de
Gilberto Gil, Jacinta interpretou “I've Got The World on a String”,
um tema de 1932 e que nomes como Bing Crosby ou Frank Sinatra
ajudaram a popularizar. Com o concerto a chegar ao fim, a cantora ofereceu um enorme momento musical, ao vestir a “Dança dos
Mancos” – um tema popular da região de Aveiro que celebra S.
Gonçalo – com as roupagens do Jazz. O mesmo viria a suceder já no
“encore” com Zeca Afonso e “Saudades de
Coimbra”, num arranjo absolutamente incrível e que marcou o
concerto, não sem antes ter revisitado a música de Tom Jobim e a voz de Elis Regina com o inefável “Retrato em Branco e Preto”. Conhecedor e
atento, o público soube pontuar cada momento com o seu reconhecido
aplauso. Um aplauso que deve estender-se à programação de um Festival que, apesar da
sua juventude, é já um “caso sério” no panorama dos festivais
do género em Portugal. Pois que venha a terceira edição em 2020, melhor e mais rica ainda, e que traga muitas Jacintas!
[Foto: Casa da Criatividade | facebook.com/casadacriatividade/]
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