CONCERTO: Yamandú Costa &
Orquestra Clássica de Espinho
Festival Internacional de Música de
Espinho
Praça Dr. José Salvador, Espinho
20 Jul 2019 | sab | 22:00
Yamandú Costa cresceu envolvido pela
música regional gaúcha de Passo Fundo e seu entorno, no meio de
milongas, tangos, zambas e chamamés. Paulatinamente, o seu
território musical foi-se expandindo, para abrigar choros, ritmos
nordestinos, um pouco de Villa-Lobos e diversas outras paisagens
musicais. À técnica e ao virtuosismo explosivo que desde cedo foram
as suas marcas no violão de sete cordas, agregou o artista outros
contrastes, passagens singelas e uma expressividade mais intimista. O
resultado pôde ser apreciado na fresca noite de ontem, a encerrar a
45ª edição do Festival Internacional de Música de Espinho, com o
suporte da Orquestra Clássica de Espinho e perante um público
completamente rendido à criatividade e facilidade do artista em
extrair do violão, muitas vezes em simultâneo, ritmos, harmonias e
melodias de cortar a respiração.
A abrir o concerto, o 1º movimento da
“Fantasia Popular”, um tema do próprio Yamandú Costa, mostrou o
quão fortemente a sua música se encontra enraizada na tradição
popular brasileira. O mote estava dado para uma noite inesquecível,
com uma Orquestra superiormente dirigida pelo jovem maestro Jan
Wierzba a dar o devido acompanhamento ao turbilhão de sons derramado
de um violão que fala, chora, dança e ri. No segundo momento da
noite, Yamandú Costa revisitou um tema que lhe é muito querido e
que remonta a 2000. Ouvido em êxtase absoluto, “Mariana” é de
uma beleza esmagadora, poema musical embebido em emoção e fantasia,
as palavras tornadas acordes harmoniosos e sensíveis, tocando-nos
como um beijo ou uma carícia. Seguiu-se “Decarisimo”, um tema de
Astor Piazolla e que, graças ao talento de Yamandú Costa, mostrou
como a música do génio argentino se expande ao novo fado, de tal
forma é impossível escutar esta peça sem pensar em Marco
Rodrigues, Ana Moura ou António Zambujo.
Prosseguindo agora a solo, Yamandú
Costa abordou dois géneros musicais distintos. “Samba Pro Rafa”
constituiu uma homenagem a Raphael Rabello, compositor e
instrumentista considerado por Costa como o pai musical da sua
geração. A segunda peça foi o “IV Porro da Suite Colombiana n.
II”), do compositor Gentil Montana, tal como a anterior de uma
expressividade única, o ritmo e a harmonia à flor da pele. A
caminhar para o final, o concerto teria em “Bachbaridade” um novo
ponto alto, a abordagem às sonoridades clássicas convertida em
inspirado tango. Última peça do alinhamento, “Concerto Fronteira”
foi mais um momento único, uma viagem pela região fronteiriça do
sul do Brasil ao encontro do compositor gaúcho e acordeonista Luís
Carlos Borges, do compositor e violonista argentino Juan Falú e
ainda da memória do pai do artista, Algacir Costa, um
latino-americano apaixonado pelas diversas riquezas culturais do
continente sul-americano. O final perfeito que só não foi final
porque o público reclamou o “encore” e o músico viu-se forçado
a corresponder ao vibrante aplauso. “Carinhoso”, uma das mais
importantes obras da música popular brasileira, composta por
Pixinguinha entre 1916 e 1917, esse sim, foi o final perfeito numa
noite perfeita e num Festival perfeito!
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