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sexta-feira, 16 de maio de 2025

TERTÚLIAS LITERÁRIAS: “Conversas às 5” | Manuela Mota Ribeiro



TERTÚLIAS LITERÁRIAS: “Conversas às 5”,
com Manuela Mota Ribeiro
Moderação | Joaquim Margarido Macedo
Centro de Reabilitação do Norte
12 Mai 2025 | qui | 17:00


Culminando um dia de trabalho intenso nas mais variadas valências da Fisioterapia, as “Conversas às 5” voltaram a abrir uma brecha no programa de reabilitação dos doentes do Centro de Reabilitação do Norte, complementando-o com uma componente cultural voltada para os livros. À semelhança das anteriores tertúlias, a iniciativa fez recair sobre si as atenções de um público numeroso, interessado e participativo, onde se incluíram, também, familiares e amigos dos doentes, profissionais de saúde e público em geral. Com uma periodicidade mensal desde o início do ano em curso, o momento contou com uma convidada muito especial, Manuela Mota Ribeiro, uma autora nascida em 1970, na cidade do Porto, formada em Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e especializada em Medicina Física e de Reabilitação. Dedicou a sua vida profissional à atividade médica e ao ensino universitário, tendo sido directora da Clínica Pedagógica da Universidade Fernando Pessoa. Em 2008, lançou o seu primeiro livro infantil – “Jardim do Arco-Íris” – e, até à data, são já dezassete os livros publicados, tendo, desde então, feito milhares de apresentações das suas histórias junto de variados públicos, em Portugal e no estrangeiro.

Pela primeira vez na sua história, as “Conversas às 5” receberam uma autora cuja escrita se encontra mais vocacionada para um público infantil e infanto-juvenil. Apaixonada pelo estudo e aprofundamento de áreas que promovem o desenvolvimento integral e harmonioso do ser humano, Manuela Mota Ribeiro mostrou na perfeição que não há uma “literatura dos mais novos”, antes uma “literatura para todos”, já que são muitos os valores essenciais a uma sociedade sã e feliz a necessitarem de ser reanimados e essa é uma situação que não olha a idades. A escolha de “Edmar, o Passarinho Albino” para abrir a sessão - e que o moderador fez questão de ler na íntegra -, serviu na perfeição para compreender o âmbito da escrita da autora, ao encontro das mais variadas situações do quotidiano que exigem da pessoa a sua compreensão e solidariedade, ao invés de uma atitude de alheamento ou de provocação. Apoiando-se em experiências reais, Manuela Mota Ribeiro constrói as suas personagens na justa medida das necessidades, para dar a ver aos leitores aquilo que se esconde por detrás da osteoporose, da diabetes ou dos acidentes vasculares cerebrais, da importância de lavar bem os dentes, de não esquecer a colocação do cinto de segurança ou de saber dizer “bom dia”, “obrigado”, “por favor” ou “desculpe”.

Sempre atenta e disponível para partilhar as suas histórias, a convidada falou da importância dos livros na sua vida, não apenas enquanto escritora mas como leitora, incentivando os presentes a dedicarem tempo à leitura, na medida do possível. Recordando uma paixão que, após a fase “diarística”, começou a revelar-se a partir dos 15 anos, a autora falou do acto da escrita e da importância da família no seu trabalho, quer nas leituras prévias e revisão de texto, quer ao nível da ilustração e - pasme-se! - da musica, uma componente presente em quase todos os seus livros. Espontânea, expressiva, intuitiva e fortemente empática, Manuela Mota Ribeiro fez ver ao auditório que “apenas nós somos responsáveis pelas nossas emoções”, permitindo ao choro e ao riso caberem em partes iguais nas nossas vidas. A sua experiência profissional fez igualmente com que se sentisse à vontade ao falar da importância de nos olharmos ao espelho, rejeitando tentações de vitimização ou coitadismo e valorizando o lado bonito que cada um carrega em si. Chamado a intervir, o público colocou um conjunto de questões particularmente assertivas, recebendo respostas carregadas de boa disposição e muita energia positiva, como que a vincar a importância dos livros e o poder de mudarem as nossas vidas. A generosa oferta de um livro a todos os participantes na tertúlia e uma improvisada sessão de autógrafos colocou um ponto final numa tarde repleta de amor, amizade e cumplicidade.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

HORA DO CONTO: "O Garimpeiro das Palavras e Outras Histórias"



HORA DO CONTO: “O Garimpeiro das Palavras e Outras Histórias”
Com Clara Haddad
Centro de Reabilitação do Norte
10 Dez 2024 | ter | 17:00

“Hoje, acordei a pensar em coisas diferentes.
Caminho, vejo as pessoas, sonho acordado.”

Nascida em São Paulo, Brasil, Clara Haddad tem ascendência sírio-libanesa e holandesa, carregando no seu ADN as cores quentes e os sons alegres da multiculturalidade. Impulsionada pela avó Marta, uma enorme narradora de histórias, soube desenvolver desde muito cedo o gosto pelas palavras, pela leitura e pela efabulação. Foi com ela que teve um primeiro contacto com os contos da tradição oral, dando início a um longo caminho que a leva a ser hoje uma contadora de histórias profissional. Artista visual, artista da palavra, integra a bolsa de mediadores de leitura do Plano Nacional de Leitura 2027 em Portugal e desenvolve, entre outras, actividades nas áreas da formação, biblioterapia de desenvolvimento, espectáculos e apresentações de livros e escrita para o universo infanto-juvenil, com cinco livros publicados até à data. Com o Natal a aproximar-se, foi ela a convidada da “Hora do Conto” que reuniu, no Centro de Reabilitação do Norte, cinco dezenas de utentes e profissionais de saúde da Instituição, além de acompanhantes e visitantes, todos eles desejosos de abraçar o “caminho das palavras” através da partilha de histórias sábias, afectuosas, emotivas e sentidas que Clara Haddad tão bem soube expressar.

“Era uma vez…”. É assim que começam as histórias e esta do “homem sem sorte” não podia começar de outra forma. “Era uma vez um homem e esse homem sentia-se muito infeliz porque nada na sua vida dava certo. Nada! Tudo corria mal. Tudo corria ao contrário do que imaginava. O homem ficava indignado e perguntava-se como era possível ser tão azarado”. Oriunda de um pequeno país da África Ocidental, o Burkina Faso, a história cativou a atenção de todos os presentes, não apenas pela sua essência - a busca de respostas para a sua pouca sorte, o que leva o homem a caminhar ao encontro de Deus -, mas sobretudo pela arte de contar uma história, patente nos gestos e nos olhares, na mímica, nas vozes que se desmultiplicam. E, claro, na mensagem implícita, na necessidade de olharmos a vida com olhos de ver e sabermos aproveitar as oportunidades, independentemente das circunstâncias, “porque a nossa sorte, sempre, sempre, sempre estará por aí, nalgum lugar”. A segunda história viajou desde a Coreia do Sul e falou da amizade e da partilha, da importância de sermos dois - e não apenas um - a trilhar o mesmo caminho e a olhar na mesma direcção.

“O Garimpeiro das Palavras” é o mais recente livro de Clara Haddad. Publicado há apenas um mês, foi ele o eleito para encerrar a sessão. Inspirado numa pessoa de carne e osso que soube tocar o coração da autora por se mostrar tão grato à vida e a tudo quanto ela lhe tem dado, o livro é feito de pequenos mas significativos versos que falam na importância de “sabermos ver a essência das coisas e sermos gratos por elas. Isto é o que nos torna verdadeiramente humanos, na nossa eterna busca por encantamento e esperança.” O texto tocou o coração das crianças e jovens internados na Unidade de Reabilitação Pediátrica do Centro de Reabilitação do Norte que, juntamente com os pais e com a Professora Anabela Matos, a extraordinária dinamizadora de actividades da Unidade, elaboraram um pequeno texto que o Dinis, compenetradamente, tão bem soube ler. Ouçamos o Dinis: “Por vezes saímos do nosso caminho e temos percalços. Percalços esses que nos trouxeram cá. Aqui estamos a aprender a viver de novo com as nossas novas condições e a ensinar os nossos pais a amar de novo, mesmo com as nossas dificuldades. Tal como dizes na tua história, tudo deve ser feito com amor.” Foi o ponto final perfeito numa “hora do conto” repleta de emoções, absolutamente inesquecível. Bendito e louvado, que este “post” está acabado!

quarta-feira, 3 de abril de 2024

LIVRO: "A Senhora Clap e o Mundo na Palma das Mãos"



LIVRO: “A Senhora Clap e o Mundo na Palma das Mãos”,
de Marta Duque Vaz
Ilustração |  Danuta Wojciechowska
Ed. Paulinas Editora, Setembro de 2023


“ – A essência das palmas está na admiração.
– As pessoas batem palmas porque estão atentas.
– É muito importante receber palmas em vida.
– É muito bom sair de cena sob uma salva de palmas.”

Bater palmas. Creio que seria possível escrever um livro inteirinho a falar daquilo que é, mais do que um acto social, um gesto de comunicação por excelência. Batemos palmas (e atiramos beijinhos) desde a mais tenra idade, antes mesmo de sabermos falar, como primeiro passo de um processo de interacção intimamente ligado ao desenvolvimento social e cognitivo. A mãe a cantar “bate palminhas que a mamã dá sopinhas, quando o papá vier dará o que tu quiseres” é uma memória viva da minha infância, embora esteja em crer que a capacidade persuasiva da minha mãe para que eu comesse a sopa tivesse de ir muito além da cantilena. Capazes de exprimir as mais díspares emoções, as palmas são sinal de júbilo mas podem igualmente ser motivo de embaraço (quando a destempo, no intervalo entre dois andamentos de uma peça clássica, por exemplo). Espontaneamente ou “a pedido”, fazemo-nos ouvir através delas. Batemos palmas com força ou de forma discreta, com vivacidade ou desinteressadamente, como forma de agradecer ou de chamar a atenção. Batemos palma com palma, com apenas uma das palmas no tampo da mesa e até batemos palmas com os pés.

Pois é de palmas que “A Senhora Clap e o Mundo na Palma das Mãos” trata, abrindo ao leitor uma nova área do conhecimento, a Aplausologia, e lembrando a importância desse “pequeno-grande gesto, capaz de produzir verdadeira magia”. Reeditado em Setembro do ano passado, o livro viu a luz do dia em Maio de 2015, com ilustrações de Alexandre Esgaio. A beleza e significado da sua mensagem fez com que conhecesse novos públicos por via do teatro, tendo sido levado à cena em 2016, no Rio de Janeiro. Há muito ansiada, a reedição surge agora pela mão da Paulinas Editora e com ilustrações de Danuta Wojciechowska, abrindo a mais leitores a história desta Senhora Clap, uma pessoa muito especial e que é uma sumidade a bater palmas. Com ela vemos “que a palma das mãos é um lugar especialíssimo, reservado a grandes sentimentos e emoções, exatamente como o coração”. Ou que não devemos ter receio de bater palmas mesmo quando somos os únicos a fazê-lo. Ou que as palmas fazem de nós pessoas mais transparentes, deixando ver claramente as cores da ternura e do amor. Ou…

Neste livro de Marta Duque Vaz, encontramos a beleza das coisas simples, ditas com o coração. Lemos que “as palmas que não se sentem perdem o som” e ficamos perplexos perante a verdade deste aparente paradoxo. Depois olhamos para as ilustrações, para aquela profusão de formas e de cores, e apetece-nos bater palmas. Porque “amar é bater palmas”. São apaixonantes os desenhos de Danuta Wojciechowska, na cor com que nos cativam como na luz que derramam sobre os sentimentos mais doces e delicados. Caules que se abrem num abraço, pétalas que são dedos, peixes que invadem os ares, crianças e flores fundidas numa profusão de sóis, trapezistas e cantores, actores e uma bailarina (mesmo que no interior de uma caixinha de música). A voz das palmas como o canto dos pássaros... É admirável a forma como a ilustradora soube interpretar o sentido do texto e, com os seus desenhos, enriquecê-lo, acrescentando-lhe novas camadas, visões inovadoras, leituras complementares. Um livro de histórias e memórias, afectuoso e terno, a valer uma enorme salva de palmas às duas, escritora e ilustradora, por tão bem saberem “desenhar” esta história.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

LIVRO: “Os Avós são as Pessoas Preferidas dos Pássaros”



LIVRO: “Os Avós são as Pessoas Preferidas dos Pássaros”
de Raquel Patriarca
Ilustrações | Sérgio Condeço
Edição | Célia Louro
Ed. Nuvem de Letras, Fevereiro de 2024


“Os avós até são capazes de dançar ao som da música
que só existe na imaginação dos netos e, por isso,
os avós são as pessoas preferidas dos pássaros.”

“A felicidade é uma coisa que se faz com tempo e amor”. Fecho o livro sobre esta frase e, de forma espontânea, dou por mim a exclamar em voz alta: “Meu Deus, tão lindo!”. “Os Avós são as Pessoas Preferidas dos Pássaros” é um livro tão, mas tão lindo. E não digo “lindo” porque a capa é linda ou porque as ilustrações que o preenchem são lindas (ainda que o sejam, verdadeiramente). Digo-o no sentido do coração, da sua forma simples de dizer, da ternura que encerra, das memórias que convoca, das emoções que dele se desprendem. É um livro que pede que olhemos para os nossos avós, para todos os avós, e não nos esqueçamos que somos um prolongamento seu. Que muitos dos valores que transmitimos hoje aos nossos filhos e netos são cópias das suas palavras, dos seus gestos, da sua forma divertida de contar as histórias mais mirabolantes, de fazerem de um passeio uma caça ao tesouro, de saberem o seu colo o preferido quando os bolsos gordos fazem adivinhar uma fartura de rebuçados. Mas voltemos atrás, ao princípio do livro.

Detenho-me na primeira frase e percebo, nesse momento, que tenho de ler o livro em voz alta. Mesmo com o auditório reduzido a mim e ao Goya, a dormitar aos meus pés, é forçoso que o faça. Não há nisto qualquer género de condicionamento a ditar-me que a literatura infantil é para ser lida em voz alta - ai, o tanto que li aos meus filhos quando eram ainda pequeninos -, mas por sentir que Raquel Patriarca escreveu este livro para mim, criança que sou e com mais de quatro anos. Um livro que pede que me seja lido e que, na ausência de narrador disponível, me obriga a assumir essa função (a minha mulher teve mais sorte, escutando-me em nova leitura). Com o avançar das páginas vem um calorzinho bom num sorriso todo enrugado, numa festa nos cabelos com dedos tortos, numa sesta muito descansada, no jornal lido da primeira à última página, num xi muito apertado. “Os avós são para abraçar”.

“Os Avós são as Pessoas Preferidas dos Pássaros” traz com ele a vontade de abraçar os meus avós, os meus pais (que também são avós), e com eles abraçar todos os pais, todos os avós. As palavras de Raquel Patriarca são isso mesmo: Abraços. Abraços que são como mapas antigos, que navegam num barco de piratas e cheiram a mar. Abraços que sabem ao pão quente, a arroz-doce ou a um bolo de aniversário com montes de chantilly e pintarolas. Abraços que são as histórias do Menino Tonecas, as aventuras do Harry Potter ou os poemas escolhidos da Odete Santos. Abraços, mesmo sabendo que os avós terão de partir, ficando nós com “a alma a doer, porque o resto da vida é muito tempo para ter saudades.” Se o texto é delicioso, as ilustrações não o são menos e Sérgio Condeço não ficou atrás de Raquel Patriarca no coração que nelas pôs. Raquel e Sérgio, não me canso de dizer, este vosso livro é lindo. Deixem-me dar-vos um abraço.