LIVRO: “Os Avós são as Pessoas Preferidas dos Pássaros”
de Raquel Patriarca
Ilustrações | Sérgio Condeço
Edição | Célia Louro
Ed. Nuvem de Letras, Fevereiro de 2024
“Os avós até são capazes de dançar ao som da música
que só existe na imaginação dos netos e, por isso,
os avós são as pessoas preferidas dos pássaros.”
“A felicidade é uma coisa que se faz com tempo e amor”. Fecho o livro sobre esta frase e, de forma espontânea, dou por mim a exclamar em voz alta: “Meu Deus, tão lindo!”. “Os Avós são as Pessoas Preferidas dos Pássaros” é um livro tão, mas tão lindo. E não digo “lindo” porque a capa é linda ou porque as ilustrações que o preenchem são lindas (ainda que o sejam, verdadeiramente). Digo-o no sentido do coração, da sua forma simples de dizer, da ternura que encerra, das memórias que convoca, das emoções que dele se desprendem. É um livro que pede que olhemos para os nossos avós, para todos os avós, e não nos esqueçamos que somos um prolongamento seu. Que muitos dos valores que transmitimos hoje aos nossos filhos e netos são cópias das suas palavras, dos seus gestos, da sua forma divertida de contar as histórias mais mirabolantes, de fazerem de um passeio uma caça ao tesouro, de saberem o seu colo o preferido quando os bolsos gordos fazem adivinhar uma fartura de rebuçados. Mas voltemos atrás, ao princípio do livro.
Detenho-me na primeira frase e percebo, nesse momento, que tenho de ler o livro em voz alta. Mesmo com o auditório reduzido a mim e ao Goya, a dormitar aos meus pés, é forçoso que o faça. Não há nisto qualquer género de condicionamento a ditar-me que a literatura infantil é para ser lida em voz alta - ai, o tanto que li aos meus filhos quando eram ainda pequeninos -, mas por sentir que Raquel Patriarca escreveu este livro para mim, criança que sou e com mais de quatro anos. Um livro que pede que me seja lido e que, na ausência de narrador disponível, me obriga a assumir essa função (a minha mulher teve mais sorte, escutando-me em nova leitura). Com o avançar das páginas vem um calorzinho bom num sorriso todo enrugado, numa festa nos cabelos com dedos tortos, numa sesta muito descansada, no jornal lido da primeira à última página, num xi muito apertado. “Os avós são para abraçar”.
“Os Avós são as Pessoas Preferidas dos Pássaros” traz com ele a vontade de abraçar os meus avós, os meus pais (que também são avós), e com eles abraçar todos os pais, todos os avós. As palavras de Raquel Patriarca são isso mesmo: Abraços. Abraços que são como mapas antigos, que navegam num barco de piratas e cheiram a mar. Abraços que sabem ao pão quente, a arroz-doce ou a um bolo de aniversário com montes de chantilly e pintarolas. Abraços que são as histórias do Menino Tonecas, as aventuras do Harry Potter ou os poemas escolhidos da Odete Santos. Abraços, mesmo sabendo que os avós terão de partir, ficando nós com “a alma a doer, porque o resto da vida é muito tempo para ter saudades.” Se o texto é delicioso, as ilustrações não o são menos e Sérgio Condeço não ficou atrás de Raquel Patriarca no coração que nelas pôs. Raquel e Sérgio, não me canso de dizer, este vosso livro é lindo. Deixem-me dar-vos um abraço.
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