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terça-feira, 23 de agosto de 2022

PROJECTO: ESPORO Disseminação Cultural e Artística


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PROJECTO: ESPORO Disseminação Cultural e Artística
Figueiró dos Vinhos, Ansião, Proença a Nova
Vários locais
Janeiro a Outubro de 2022


Ansião, Figueiró dos Vinhos e Proença a Nova uniram esforços e puseram de pé o projecto ESPORO Disseminação Cultural e Artística que visa a conservação, protecção, promoção e desenvolvimento dos patrimónios naturais e culturais destes municípios. Financiado por fundos da União Europeia, o ESPORO assume-se, de acordo com os seus promotores, “como uma semente que ambiciona a criação de novos olhares e percursos sobre o território, na relação da arte com a natureza e de ambas com a comunidade”. Alavanca para a (re)descoberta destes territórios, novo referente para esta vasta região que toca os distritos de Leiria e Castelo Branco, o ESPORO arrancou oficialmente no início do ano e teve, no fim de semana de 15 a 17 de Julho, um dos seus pontos mais altos, com a apresentação da Rota ESPORO e a revelação dos resultados do desafio lançado a um grupo de artistas plásticos e visuais que deixaram, mediante abordagens conceptuais e estéticas muito diversas, os seus olhares sobre os vastos espaços do Pinhal Interior.

±MaisMenos±, Bosoletti, Colectivo Til, João Louro, Maria Ana Vasco Costa, Mariana Vasconcelos, NeSpoon, Pedro Gramaxo, Rui Gaiola, Ruído, Sawu e Tiago Francez são os responsáveis por um conjunto de doze intervenções / instalações “site specific”, em diversos formatos, medidas e temporalidades, que se estendem por múltiplos lugares, das Fragas de São Simão à Foz de Alge, dos Moinhos do Outeiro à Mata Municipal de Ansião ou do Miradouro das Corgas à Ribeira do Vale d’Água. O visitante interessado em apreciar todas as propostas artísticas deve prever um mínimo de dois dias para o fazer, contando que a distância que separa os dois pontos mais afastados da rota ronda a centena de quilómetros e são muitos os desvios a fazer para uma visita aos locais. Adiantando, desde já, que resumi a minha experiência pessoal a quatro pontos da rota, o mínimo que posso dizer é que a experiência se revelou extraordinária, não só pela qualidade intrínseca das peças visitadas como, sobretudo, pela forma como dialogam com o espaço envolvente e obrigam a uma reflexão sobre um conjunto de questões que estão na ordem do dia.

Colina verdejante à sombra da qual se abriga Figueiró dos Vinhos, o Cabeço do Peão acolhe “SEME”, do artista argentino Bosoletti. Conhecido dos figueiroenses pelos extraordinários murais que cobrem duas paredes na Travessa da Cadeia, bem no coração da vila, Bosoletti virou-se desta vez para a floresta como um todo, provida de “uma grande alma, silenciosa e imóvel”, onde “devemos entrar com ponderação, audição, como num santuário”. Apesar de tudo abrigar, de tudo escutar, de conservar todos os silêncios, a floresta é um espaço profundamente indefeso, vulnerável à acção do homem, aos seus desmandos, à sua mão criminosa. Percebendo isto, não podemos deixar de ver nas três pinturas em madeira que compõe a instalação de Bosoletti uma representação de nós próprios e da nossa impossibilidade em escapar ao sofrimento que nos é infligido. Na linha do fogo que avança num rugido ensurdecedor e semeia a devastação, como reagiríamos na nossa imobilidade de árvores? Quão dilacerantes seriam os nossos gritos? Perante a morte iminente, qual a dimensão da nossa dor?

Ainda no concelho de Figueiró dos Vinhos é possível visitar duas outras propostas, a primeira das quais bem no centro da vila, ocupando a fachada de um prédio da Rua Dr. José Martinho Simões. Trata-se de “Perspectivas” e é uma exposição de fotografia de Rui Gaiola, autor de uma intervenção do mesmo género num prédio na Covilhã. Resultado de um extenso registo fotográfico realizado durante praticamente um ano, a mostra surge condensada em cinco imagens de grandes dimensões que oferecem uma perspectivas de conjunto sobre este território mais alargado do Pinhal Interior. Num lavadouro público da pequena aldeia de Foz de Alge, Tiago Francez propõe-nos “ExHumus I”, peça através da qual o artista assume a Ribeira de Alge como a coluna vertebral da região e nos diz até que ponto as estruturas se deterioram até à sua completa desagregação. A última peça de que falo encontra-se no vizinho concelho de Ansião, na localidade de Casal Soeiro, em pleno Caminho de Fátima e Caminho de Santiago, que aqui coincidem. Chamada “Capela”, é uma instalação de grandes dimensões, da autoria da polaca Nespoon, a partir de rendas tecidas por rendeiras portuguesas. Com ela, a artista permite transmitir inspiração e serenidade aos milhares de peregrinos que atravessam o trilho, contribuindo para uma momento de alívio do seu esforço e de reflexão sobre a beleza da vida.

[Saiba mais sobre o ESPORO Disseminação Cultural e Artística em https://www.esporocultura.com/]

quarta-feira, 15 de julho de 2020

CONCERTO: António Zambujo



CONCERTO: António Zambujo
Estúdio33 Drive in, Ansião
11 Jul 2020 | sab | 22:00


Adivinhava-se uma noite memorável em Ansião, no especialíssimo espaço de Luís de Matos, o Estúdio33 Drive in, vestido de gala para receber António Zambujo. Todavia, à excelência do cantor e à originalidade do formato do concerto, quis juntar S. Pedro a voz dos céus, fazendo desabar uma violenta trovoada sobre a terra que acabou por se tornar numa protagonista involuntária das quase duas horas de espectáculo. Ao cabo da segunda música já se fazia subir uma cobertura para abrigar o cantor, mas com cinco músicas decorridas a pausa tornava-se inevitável perante o recrudescer da tormenta. A tenda não seria o local mais seguro para alguém se abrigar de uma trovoada e a chuva era agora particularmente intensa. Zambujo saiu com a promessa de voltar... e voltou!

Os relâmpagos ainda riscavam o céu quando a música se fez ouvir de novo, após uma pausa de vinte minutos, aproximadamente. Tropicalíssima, a temperatura pedia que se abrissem as janelas e “Menina Estás à Janela” não podia vir mais a propósito neste recomeço. Os temas seguintes foram uma viagem pelas músicas do mundo, “No Rancho Fundo”, “João e Maria”, “Cucurrucucu Paloma” ou “Valsinha” a rivalizarem com “Rosinha dos Limões”, “Nem Às Paredes Confesso” ou “Fui Colher uma Romã”, as sombras tutelares de Vinicius De Moraes, Chico Buarque, Caetano Veloso ou do nosso Max a pairar sobre o palco. E porque concerto de António Zambujo não é concerto sem um bom par de “clássicos”, houve tempo – naturalmente – para “Pica do 7”, “Lambreta”, “Algo Estranho Acontece”, “Catavento da Sé”, “Zorro”, “Flagrante” e “Readers Digest”.

Importa falar, enfim, deste conceito de concerto que proporciona ao público o encontro com os seus artistas preferidos e, ao mesmo tempo, respeita os necessários padrões de segurança face a uma pandemia que teima em manter-nos a todos em estado de alerta. E sobre isto, o mínimo que se pode dizer é que a organização se mostrou absolutamente impecável. Das recomendações básicas enviadas por mensagem algumas horas antes do concerto, ao controlo de entradas e saídas no recinto e aos indispensáveis serviços de apoio onde não faltou um bar “cash free”, tudo correu na perfeição. O público pode ouvir o concerto com uma qualidade inexcedível, sintonizando os auto-rádios numa frequência fornecida no momento, os ecrãs gigantes trouxeram aos espectadores um cheirinho das grandes salas de concerto do mundo e o próprio António Zambujo se dispôs a autografar os pára-brisas de algumas viaturas no final do concerto. A isto o público respondeu com sonoras buzinadelas, dando mostras do seu entusiasmo. Inesquecível!