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sexta-feira, 19 de setembro de 2025

CERTAME: XI Festival Literário de Ovar - Dia 1



CERTAME: XI Festival Literário de Ovar
Ana Freijo, Bruno Henriques, Capicua, Carlos Alberto Moniz, Carlos Nuno Granja, CONTACTO – Companhia de Teatro Água Corrente de Ovar, Gabriel Pinto, Hugo Carvalhais, João Martins, José Ferreira, Luís Portugal, Mafalda Rocha, Tiago Schwäbl
Museu Júlio Dinis, Centro de Artes de Ovar
17 Set 2025 | qua | 18:00 e 21:30


Recuemos no tempo, a 03 de Setembro de 2015, dia em que o Festival Literário de Ovar nascia para o mundo sob os melhores auspícios. Nesse início de um fim-de-semana prolongado, a cidade vivia um primeiro grande momento à volta dos livros, numa união franca e aberta entre escritores e leitores, ilustradores, livreiros e demais agentes ligados à escrita e à leitura. Se há loucura na escrita e ousadia na literatura, se os sentimentos se revelam mais facilmente no universo literário, se é possível fugir às contradições da sociedade, foram questões, de então e de sempre, às quais Miguel Real, Carlos Campaniço, Pedro Guilherme-Moreira, Jaime Rocha, Margarida Fonseca Santos, Afonso Valente Batista, Filipa Leal, João de Melo e vários outros escritores souberam responder, num verdadeiro exercício de “dar cultura às nossas gentes”, como afirmou Salvador Malheiro, Presidente da autarquia à data. Dez anos depois, o FLO pode orgulhar-se de um currículo invejável, assente em muito trabalho e perseverança, dedicação e crer, que fazem dele um dos mais relevantes Festivais Literários do nosso país.

Dez anos depois, quantos livros, quantas palavras, quantos autores? Quantas memórias? Quantas pessoas? Quantos momentos? Não haverá, no contexto do FLO, pessoa mais indicada para responder a esta questão do que Carlos Nuno Granja, a mais importante figura do certame, alguém que acredita, desde sempre, no poder inabalável da leitura para a construção do pensamento crítico, autonomia e profundidade interior da pessoa, mas também na oportunidade que os livros oferecem de desacelerar, reflectir e desenvolver uma visão mais ampla e fundamentada do mundo, ajudando a formar indivíduos mais conscientes e íntegros, menos influenciáveis. Ele, a par de uma pequena mas valiosa equipa, são os responsáveis pela manutenção de um verdadeiro selo de qualidade que o Festival detém, e que volta a programar, de forma sólida e segura, um conjunto de actividades que, ao longo de cinco ininterruptos dias – entre conversas, concertos, teatro, apresentações de livros, cinema e muito mais –, prometem transformar a cidade numa imensa e apaixonante biblioteca.

O pontapé de saída do FLO 2025 teve lugar ao final da tarde no Museu Júlio Dinis com a inauguração de “Mais tempo por aqui…”, Instalação Sonora da autoria de Tiago Schwäbl, inserida no projecto “Inovar as Letras – À Escuta da Literatura”. Oportunidade única para escutar os sons de uma casa e as palavras de um escritor, sabiamente escrutinados na obra dinisiana e abertos ao público com sensibilidade e emoção. Seguiu-se a primeira mesa do Festival, dedicada a debater “O processo de criação artística e a obra literária”. Moderada por Carlos Nuno Granja e com Mafalda Rocha, Tiago Schwäbl, Ana Freijo e José Ferreira como convidados, a conversa foi ao encontro da Literatura e do Teatro, da Pintura, do Som e da Música, recuperando o ambiente acolhedor e familiar de uma casa ovarense e lançando a discussão em torno do processo criativo, suas dificuldades e condicionalismos, seus desafios e recompensas. A tarde encerrou com a performance “Pela Janela do Olhar”, encenada por José Ferreira e interpretada por um leque de actores da CONTACTO – Companhia de Teatro Água Corrente de Ovar, numa homenagem sentida aos autores que, desde 2008, passaram pelo Festival Escritaria, e que nos olham das paredes do Museu em belíssimas pinturas da autoria de Mafalda Rocha.

Com a presença em palco de Carlos Nuno Granja e do Presidente do Município de Ovar, Domingos Silva, a abertura oficial do FLO 2025 teve lugar ao início da noite, nela se falando de ousadia e utopia, de sonho e muito querer, elementos determinantes de afirmação de um Festival que constitui “uma das marcas identitárias de Ovar”. As palavras de Vergílio Ferreira, “Diz NÃO à liberdade que te oferecem, se ela é só a liberdade dos que ta querem oferecer” deram o mote à segunda mesa do Festival. Bruno Henriques moderou uma conversa que teve como convidados Luís Portugal e Capicua e que resultou, entre o sério e o irónico, num extraordinário momento de reflexão e partilha. De Sérgio Godinho, José Mário Branco, Fausto ou Zeca Afonso como fontes de inspiração para a escrita de canções, à dificuldade crescente em romper com o “establishment” e assumir a música como um acto de resistência, ambos os convidados coincidiram na ideia de que “a liberdade [para criar], ou é total, ou não é liberdade”. O primeiro dia do Festival encerrou com o concerto “Na Primeira Pessoa”, de Carlos Alberto Moniz. Em palco, na companhia de Gabriel Pinto (piano), Hugo Carvalhais (contrabaixo) e João Martins (bateria), o cantor ofereceu, em graça e beleza, a força da música açoriana, nas palavras de alguns dos seus maiores poetas.

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