CONCERTO: Eduardo Cardinho | “Not Far From Paradise”
Com José Diogo Martins, João Mortágua, Francisco Santos, Diogo Alexandre, Iuri Oliveira
Novembro Jazz 2024
Casa da Criatividade
15 Nov 2024 | sex | 21:30
Quase a fechar o ano, o Auditório da Casa da Criatividade volta a ser palco do Novembro Jazz, festival cuja programação abarca, em seis dias de intensa actividade, oito concertos que dão prova do que de melhor se faz no panorama do mais jovem e fresco jazz português. À aposta no talento nacional, o Novembro Jazz acrescenta a vertente da ligação à comunidade, oferecendo a oportunidade de descobrir a beleza da liberdade sofisticada que existe no Jazz, nas suas mais variadas dimensões. Complementarmente, assistimos ao cruzamento de parcerias de elevado potencial que se traduzem noutro tipo de iniciativas: feiras de vinil e djsets, apresentações de jovens músicos locais em combinação com jovens ilustradores que mostrarão o seu trabalho em palcos inovadores, e ainda uma distinta exposição de fotografia de Márcia Lessa, focada no talento feminino no jazz, num conjunto de belíssimas imagens que podem ser vistas em dois espaços distintos de S. João da Madeira [o programa desta sexta edição do festival pode ser consultado AQUI].
Na noite da passada sexta-feira, as atenções centraram-se em Eduardo Cardinho e no seu mais recente álbum de originais, “Not Far From Paradise”, naquela que foi a última etapa da digressão que, desde Julho passado, levou o músico e os seus companheiros de estrada a percorrer o país de Norte a Sul. No palco da Casa da Criatividade o vibrafonista não esteve sozinho, apresentando-se ao lado de José Diogo Martins (teclados), Iuri Oliveira (percussões), Diogo Alexandre (bateria), Francisco Santos (baixo eléctrico) e João Mortágua (saxofone alto). E foi justamente do saxofone que surgiram as primeiras notas de emoção, com Mortágua a tirar o melhor partido das suas qualidades de intérprete ímpar, da sua energia e talento, transformando-os numa música com uma força enorme, desafiante e entusiasmante ao mesmo tempo. Por seu lado, Eduardo Cardinho ia mostrando o porquê de ser um dos músicos mais criativos da sua geração, encetando com José Diogo Martins e João Mortágua diálogos profícuos que se estenderiam a toda a secção rítmica. O público, esse, ia reagindo de forma intensa e retribuía com aplausos vivos a notória qualidade interpretativa de cada tema.
Depois de “It Was Just a Dream”, tema de abertura do concerto, “Anxiety” constituiu um grande momento de jazz, o casamento perfeito entre ritmo e harmonia, o virtuosismo de Cardinho a vir à tona em diálogos enérgicos ou em apontamentos solísticos de extraordinária qualidade. A variedade de ambientes sonoros viria a constituir-se como uma das grandes marcas do concerto, com particular destaque para os ritmos brasileiros que souberam acrescentar novas texturas e maior intensidade e beleza. Cadinho onde se fundem as sonoridades mais diversas, o vibrafone foi pássaro em cujas asas o público se deixou levar, ao encontro de exóticas e muito belas paisagens. “November 17th” (o título remete para o dia em que o avô de Cardinho faleceu) e “Life Contemplation” foram duas viagens suaves, em contraciclo com a vertigem de “Distorted Thoughts”, a arte do improviso ao serviço da música e dos músicos. O regresso à “normalidade” veio com “The Beauty of Simple Things” (notáveis as variações de género no seio da própria música), que “Hope”, um tema melodioso e tranquilo, reforçaria. A fechar o concerto, “Jungle Bees” foi a prova do real valor, tanto do todo quanto das partes. Uma grande noite de jazz.
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