EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Take a Look [Muros / Janelas / Paredes e… Palavras]”,
de Eduardo Verde Pinho
Centro de Artes de Ovar
12 Out > 30 Nov 2024
Sempre que passo sob o viaduto da A25 onde vejo escrito, de forma tosca, “buongiorno principessa”, não consigo deixar de pensar no quanto de irreverência, mas também de beleza e poesia, se abriga em duas simples palavras ali deixadas na forma de arte. Esta mensagem de que “a vida é bela” está consistentemente espalhada pelas nossas cidades - das palavras escritas a lapiseira na porta de uma casa de banho, aos murais coloridos que cobrem as laterais de um prédio de cinco andares -, trazendo asneirada à boca de certos políticos e o gáudio a quem faz da subversão um gesto artístico. Do mais explícito ao mais subliminar, a semiótica urbana impõe-se no nosso quotidiano, afirmando-se como uma forma de comunicação plena de originalidade, subtileza e pendor artístico. É isso que Eduardo Verde Pinho nos vem lembrar em “Take a Look [Muros / Janelas / Paredes e… Palavras]”, espécie de resumo / retrospectiva de parte da sua obra produzida nas últimas duas décadas, correspondente àquilo que o artista designa por “séries urbanas”.
Ao longo do tempo, em diferentes momentos, a cidade escreve na sua pele, tatua-se. Ora são os grafiteiros que tentam ser artistas; ora são os namorados apaixonados que lá deixam as juras; depois vem aquele que quer gritar ou contar um segredo a ninguém. E assim se vão fazendo as paredes, a várias mãos, com diferentes almas e vontades, aparentemente sem que nada as una, cada uma com o seu pecado (ira, preguiça, muita luxúria, inveja de não terem museu). É então que por elas ao passar, o artista rasga da parede um quadrado, um retângulo (como um fotógrafo que retalha o mundo), pondo-o debaixo do braço e levando-o consigo para o mostrar noutra parede, mais erudita, submetendo-se ao olhar crítico dos que amam a “arte fina”. Estes quadrados, estes retângulos, são bocados de cidade(s) que também podem caber numa tela, da mesma forma que nela podem caber os artistas do artista e o seu (mental) banco de imagens, dos tcp para 5ª à banana do Warhol, dos quatro de Liverpool à paleta de Vermeer.
Em Eduardo Verde Pinho, os muros tanto dividem quanto unem: Ora assumem a sua função primordial enquanto elementos de fronteira, ora se afirmam como folhas nunca brancas onde a cidade escreve e comunica; ora são suportes para cartazes onde se perpetuam os acontecimentos, ora deixam ver rasgões que mais não são do que a prova de que a cidade é (também) escultora. Ouçamos o artista: “Quando fotografava andava à procura destes planos e sobreplanos, e seus cruzamentos. Agora quando pinto (ou esta coisa que faço) sou como um deus a criá-los. Faço o que quero, abro-os, fecho-os e através deles, com Asas, viajo nas camadas do mundo. Tantas janelas e eu a tricotá-las.” Tal como os muros, também as janelas podem ser diferentes, aqui rasgões para ver para dentro e furos para ver para fora, ali portadas fechadas que prolongam as paredes e vidros que reflectem o mundo, acolá são elas os olhos da casa, “a entrada da luz e o início das viagens da alma”. Fica o convite a olhar de perto este magnífico conjunto de trabalhos. Só até 30 de Novembro.
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