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domingo, 7 de julho de 2024

CONCERTO: Sissoko Segal Parisien Peirani



CONCERTO: Sissoko Segal Parisien Peirani
FIME – 50º Festival Internacional de Música de Espinho
Auditório de Espinho – Academia
05 Jul 2024 | sex | 21:30


Entrados na segunda metade do FIME - 50º Festival Internacional de Música de Espinho, o fim de semana não poderia ter tido um melhor começo. No palco da Academia, quatro músicos “perdidos” encontraram-se para tocarem músicas que são, ao mesmo tempo, reflexo de proximidade e de distância. Com a kora de Ballaké Sissoko, o violoncelo de Vincent Segal, o acordeão de Vincent Peirani e o saxofone de Émile Parisien, o grupo subiu ao palco com a proposta de uma viagem musical tão vasta quanto surpreendente, fazendo transitar o público entre a Europa e o Oriente, a África e a América Latina. Uma viagem épica à qual os presentes aderiram de forma incondicional, navegando por mares da tradição erudita e popular, pintados das cores e influências que cada músico quis acrescentar da sua própria experiência. Unidos pela espontaneidade e pela improvisação, o jazz e a cumbia, os blues e o tango, mostraram-se breves e livres, elevando a qualidade e capacidades de quatro músicos de excelência que têm no ouvido o instrumento rei e cujo virtuosismo se exprime, antes de mais, através da sua cumplicidade.

Começando pelo violoncelista Vincent Segal, vale a pena referir que é um daqueles músicos versáteis que tanto encontramos num álbum de Sting ou de Cesária Évora, como na banda sonora de um filme ou num tema para um espectáculo de dança. A sua mais importante colaboração, contudo, é aquela que o liga ao mestre da kora, o maliano Ballaké Sissoko, numa sedutora fusão neoclássica das tradições de África e da Europa. Por outro lado, há o saxofonista soprano francês Émile Parisien e o virtuoso do acordeão Vincent Peirani, maravilhosamente expressivos, que há muito tempo embarcam juntos em longas digressões e revelam uma empatia mútua altamente desenvolvida que os torna ágeis e auto-suficientes. Juntar as duas duplas resulta num verdadeiro acontecimento, nem jazz nem tradição, nem clássico nem vanguardista, mas um pouco de tudo isso, fundando um território poético autónomo onde o simples mas poderoso desejo de se ouvirem uns aos outros resulta no nascimento de uma singular canção a oito mãos.

A verdadeira magia é, como facilmente se percebe, do foro do colectivo. Ambos os duos atingem uma rara intimidade criativa, aquela sensação de dois instrumentos a entrelaçar-se, como se governados por uma mente musical. Em grande medida, isto é devido a um rigoroso equilíbrio entre virtuosismo e contenção. Cada um dos músicos é mestre em conter-se e em deixar a música fluir. Olhando o alinhamento do concerto, “Ta Nyé”, o tema de abertura, revelou-se uma peça reflexiva fundada na tradição, marcada por lufadas de kora verdadeiramente refrescantes. “Izao”, que Peirani escreveu para o seu filho, mostrou um toque de música dos Balcãs. “Orient Express” homenageou o malogrado músico austríaco Joe Zawinul, recriando uma das suas músicas mais icónicas, mesmo não tendo por perto uma bateria. E houve ainda “Esperanza”, a fechar o alinhamento como se de uma cumbia colombiana embriagada se tratasse. No encore, “Amenhotep” trouxe-nos o único tema essencialmente jazzístico do concerto e foi a cereja no topo do bolo. Grande noite esta, tal como a de outros franceses, lá longe em Hamburgo, felizes nos penaltis de um Europeu de Futebol.

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