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sábado, 6 de julho de 2024

EXPOSIÇÃO: "Elevador da Glória"



EXPOSIÇÃO: “Elevador da Glória”
Vários Artistas
Colecção Norlinda e José Lima
Curadoria | Helena Mendes Pereira
Centro de Arte Oliva
17 Mai > 31 Dez 2024


“Elevador da Glória” é uma homenagem e uma reflexão sobre a geração nascida no pós-25 de Abril de 1974 e, sobretudo, na década de 1980, consubstanciada por um conjunto de artistas-cidadãos que vive uma condição espácio-temporal em que a mentira da meritocracia foi desvendada e o elevador social não existe. Partindo da diversidade e da riqueza da colecção Norlinda e José Lima que, coincidentemente, começa a constituir-se na década de 1980, é feita uma seleção de artistas portugueses ou residentes em Portugal, que podemos considerar como filhos da Liberdade. Inês d’Orey, André Cepeda, Vasco Araújo, Mariana Gomes, João Pedro Vale, Flávia Vieira, Maria Condado, Carlos Noronha Feio, Gil Madeira e Diana Policarpo, entre outros, constituem-se como o corpo autoral da exposição que se organiza na articulação entre os conceitos de euforia, entropia, fragmento e hibridez, partindo da consciência de que os artistas antecipam, sempre, o porvir.

No caso português, a década de 1980, sobretudo a segunda metade e após a entrada na CEE, inscreve-se na memória colectiva como um tempo de grande entusiasmo, com um apelo muito forte ao consumo e com a perspectiva de que o futuro seria promissor. Depois de um período pós-revolucionário de (re)construção, segue-se uma fase de expansão e até de extravasamento. A energia reflete-se na produção artística, especialmente na música, mas também na moda, dominada pelo kitsch, pelos chumaços ou pelos bigodes. A música, “O Elevador da Glória”, lançada pelos Rádio Macau em 1987, é detentora deste espírito, constituindo-se como uma metáfora ao elevador social que, à época, parecia uma realidade ao alcance de todos.

Esta é a geração dos pais da maior parte daqueles que nasceram depois do 25 de abril de 1974, e que entraram na vida adulta e no mercado de trabalho já no século XXI, no novo milénio, assistindo a um mundo em tensão, num confronto cultural e político entre ocidente-oriente, ultrapassando a terrível crise financeira de 2008 e um conjunto de outras contingências que, não obstante se tratar de uma geração com um nível de formação académica superior à dos seus pais, é mantida num impasse e no precipício da esperança. Esta é a geração que sentiu e sente a precariedade laboral, as dificuldades da habitação, que adiou a emancipação e a parentalidade, que assiste a uma nova ascensão da extrema-direita, o que contrasta com um tempo de conquista de direitos, liberdades e garantias e que se vê dependente da digitalização do mundo e presa num tempo fragmentado em que, como nunca, mas com início na tal década de 1980, ter é mais relevante do que ser. Esta geração está a surfar a curva da História e a mudança de paradigma que marca o nosso tempo e espaço global, de forma consciente e simbólica, a partir da tragédia de 11 de setembro de 2001.

Elevador da Glória é também uma visão da coleção Norlinda e José Lima como um contexto de oportunidade e de atenção a diferentes gerações de artistas, tendo sido preocupação apresentar obras menos vistas ou inéditas que evidenciem a acção mecenática dos coleccionadores.


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