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sexta-feira, 5 de julho de 2024

EXPOSIÇÃO: “Pré/Pós – Declinações visuais do 25 de Abril”



EXPOSIÇÃO: “Pré/Pós – Declinações visuais do 25 de Abril”
Vários artistas
Curadoria | Miguel von Hafe Pérez
Museu de Arte Contemporânea de Serralves
24 Abr > 20 Out 2024


“Pré/Pós – Declinações visuais do 25 de Abril” é uma exposição que comemora os 50 anos da Revolução dos Cravos. Mais do que um simples gesto celebrativo, este projecto pretende investigar as tensões, as contradições e os movimentos paradoxais que marcam os períodos imediatamente anteriores e posteriores à Revolução. Num arco cronológico de 1970 a 1977, a exposição regista como o universo das artes refletiu as experiências e sentimentos que terão acompanhado o processo revolucionário e como este se desenvolveu entre o entusiasmo utópico e a apreensão contida. Dando visibilidade a artistas e a obras pouco conhecidas no contexto museológico, esta é uma oportunidade única para pensar este período tão rico quanto conturbado da nossa história da arte, onde o manifesto político tanto pode assumir uma vertente panfletária, como afirmar-se através de obras de cariz mais conceptual enquanto suporte discursivo e formal das liberdades desejadas e atingidas. Nos mais de trezentos trabalhos expostos — que abarcam meios tão variados como a pintura, a escultura, a fotografia, o filme, a gravura, a instalação, o cartaz e a edição de livros e revistas — sublinha-se a presença sísmica das múltiplas representações do corpo, muitas vezes trespassado por referências políticas desafiantes.

Esta não é uma exposição sobre o 25 de Abril. Não encontramos aqui as representações icónicas de fotógrafos como Eduardo Gageiro ou Alfredo Cunha: preferiu-se mostrar como os artistas visuais saem para o espaço público para fotografar pessoas, situações e marcas da Revolução. Esta também não é uma exposição — que está ainda por fazer — sobre os movimentos artísticos africanos de contestação colonial. Sinaliza-se, no entanto, a sua presença com obras de autores que tinham uma atividade regular no país. Sendo as questões feministas amplamente discutidas no imediato pós-25 de Abril, torna-se fundamental refletir como passada essa efervescência intelectual e activista e passados estes cinquenta anos, muitos dos temas aí abordados ainda perduram enquanto cicatrizes estruturais. Neste campo, só o divórcio viu a sua implementação ser concretizada com relativa celeridade, enquanto questões ligadas à sexualidade e ao corpo, como o aborto, tiveram de esperar décadas. Daí que na exposição o tema da sexualidade deva ser entendido também como uma força motriz da politização e da subversão da imagem no espaço institucional e público.

Finalmente, sublinhe-se que, ainda que de forma distante e poética, o próprio processo de constituição da Fundação de Serralves pode ser associado a um movimento de artistas, escritores, jornalistas e populares nas ruas do Porto no imediato pós-25 de Abril, nomeadamente o famoso “Enterro do Museu Soares dos Reis”, que conduziria à criação do Centro de Arte Contemporânea dentro das instalações do próprio MNSR e dirigido por Fernando Pernes, que viria a ser o primeiro diretor artístico da Fundação de Serralves. Quando, no dia 29 de março de 1974 se realizou o I Encontro da Canção Portuguesa no Coliseu dos Recreios, a força da palavra poética derrubou simbolicamente um regime que se arrastava numa guerra colonial indecorosa e na visão refratária e mesquinha das liberdades individuais. Entoando Grândola, Vila Morena em uníssono, esses milhares de vozes anteciparam a alegria que pouco menos de um mês depois se viveria na rua. Palavras e imagens: a criação cultural enquanto mapa identitário de uma revolução contínua, questionante e que ainda hoje precisa de ser lembrada, cuidada e permanentemente reatualizada.

[Texto extraído do Roteiro da Exposição, em https://cdn.bndlyr.com/nsa343pdfl/_assets/2404_25abril_roteiro_site.pdf]

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