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sexta-feira, 12 de julho de 2024

CONCERTO: Avi Avital & Omer Klein



CONCERTO: Avi Avital & Omer Klein
FIME - 50º Festival Internacional de Música de Espinho
Auditório de Espinho - Academia
07 Jul 2024 | dom | 18:00


A programação desta edição “redonda” do Festival Internacional de Música de Espinho tem dedicado particular atenção aos espaços subversivos e transformadores onde a música erudita, o jazz e a pop global se misturam e confundem. São espaços de criação em liberdade, nos quais se evidenciam o virtuosismo dos músicos e as suas enormes qualidades de improvisadores, a par com esse desejo de “escavar” as peças clássicas, de lhes "sugar o tutano" e ir além do que é dado por adquirido. Foi assim com a recombinação das "Quatro Estações" de Vivaldi", por Max Richter, trazida por Daniel Rowland e a Camerata OCE, com a revisitação da obra de Mahler por Uri Caine e o FIMEnsemble ou com o abraço a Chopin e a Mozart pelo genial Paquito d’Rivera (isto para falar apenas dos concertos aos quais assisti nesta edição do Festival). Voltou a ser assim com este dupla improvável que juntou o bandolinista Avi Avital e o pianista Omer Klein, e que “ousou” oferecer uma releitura inovadora e livre de obras de Johann Sebastian Bach.

Primeiro solista de bandolim a ser indicado para um Grammy clássico, Avi Avital foi comparado a Andres Segovia pela excelência do seu instrumento e a Jascha Heifitz pelo seu virtuosismo. Apaixonado e “explosivamente carismático” (New York Times) na performance ao vivo, ele é a força motriz que preside actualmente à consolidação do repertório de bandolim. Nascido em Be'er Sheva, no sul de Israel, Avital começou a praticar bandolim aos oito anos de idade “por influência dos seus vizinhos” e logo se juntou à florescente orquestra jovem de bandolins fundada e dirigida pelo violinista russo Simcha Nathanson. Estudou na Academia de Música de Jerusalém e no Conservatório Cesare Pollini em Pádua com Ugo Orlandi, sendo por estes tempos que travou conhecimento com Omer Klein e com a sua forma original de abordar a música, “empurrando os principais conceitos do Jazz para o futuro”. Se, para Avital, o horror estava em falhar uma nota, Klein via na pauta uma imensidão de oportunidades para “falhar”, ou seja, “para fazer diferente”. Estava aberto um caminho de comunhão de ideias e interesses que não mais cessou de dar frutos.

Aquilo que o público pode perceber na tarde do passado domingo foi o quanto o virtuosismo e a imaginação barrocos e contemporâneos podem iluminar um recital sem barreiras geográficas e estilísticas. Alinhando o programa com um conjunto de peças maioritariamente de sua autoria, Avi Avital e Omer Klein convidaram a uma viagem em que as sonoridades das músicas tradicionais e populares da Ásia Ocidental e do norte de África se cruzaram com as músicas escritas da Europa Central. Com um tom marcadamente jazzístico, “Niggun” resgatou-nos dos ambientes de “souks” e bazares impostos por “Zanzama”, o tema inicial do concerto. Num contínuo expressivo e de permanente surpresa, “Après un Rêve” foi uma incursão no universo idílico de Fauré e “Avi’s Song” levou-nos até uma Jerusalém em festa. A “Partita nº2, em Ré menor, BWV 1004”, de Johann Sebastian Bach, foi tocada na íntegra por Avi Avital, mas viu os seus andamentos intervalados por peças exclusivas de Omer Klein, fruto da sua extraordinária capacidade de improvisação. Foi o momento alto do concerto, aquele que mais desafiou os espectadores através da abertura de novos horizontes sobre a música do compositor mais influente de sempre. “Espagna” e “Yemen”, temas de Omer Klein, fizeram do “encore” um tempo de júbilo, fechando da melhor forma um concerto inolvidável.

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