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sexta-feira, 5 de abril de 2024

EXPOSIÇÃO: “Für, Fur, Fur, Fúria de Viver”



EXPOSIÇÃO: “Für, Fur, Fur, Fúria de Viver”,
de Renato Ferrão
Curadoria | Andreia Magalhães
Centro de Arte Oliva 
26 Jan > 07 Abr 2024


“Für, Fur, Fur, Fúria de Viver” é, até à data a maior exposição de Renato Ferrão, congregando projetos criados entre 2007 e 2024. Ao mesmo tempo que oferece uma panorâmica do percurso do artista, iniciado há cerca de 25 anos, a mostra apresenta a criação de novo trabalho produzido neste contexto. O trabalho de Ferrão é sobretudo constituído por projectos concebidos para as exposições, onde habitualmente apresenta apenas uma obra, geralmente instalações formadas por vários componentes, objectos e imagens, ou por um conjunto de obras relacionados entre si, subordinadas a uma mesma ideia. Como tal não é habitual podermos rever as suas obras anteriormente expostas, mas é possível entre projectos perceber como é que muitas obras vão dando origem às seguintes. Algumas das imagens, das ideias e processos vão sendo assimiladas, transformadas e ressurgem noutros projetos. É neste fluxo que o seu trabalho se tem desenvolvido, sendo na presente exposição possível ver uma trajetória marcada por fases distintas, mas entre as quais se estabelecem estas relações de transmutação.

Uma parte significativa das esculturas que Renato Ferrão realizou até 2010 integra objetos quotidianos projetados no espaço: pratos, cadeiras, candeeiros e móveis de grandes dimensões são suspensos por intermédio de elásticos e cabos extensores, explorando fenómenos de tensão que desafiam as leis da gravidade, reagindo e agindo sobre os lugares de exposição. É o caso de “alguns momentos paralisam forças #1”, que aqui tem uma versão diferente da originalmente apresentada na exposição “Emissores reunidos: Senhor fantasma, vamos falar” (Fundação de Serralves, Porto, 2009), então formada por duas secretárias instaladas em salas distintas. Esta perceção de paralisação do tempo e do movimento viria a alterar-se com a criação de esculturas cinéticas com movimentos internos, também realizadas a partir de materiais recuperados e motores, mantendo essa ideia de tensão e de ancoramento das esculturas no espaço através de ligações de fios e cabos, como se pode ver na peça central de “Peças de substituição”, para esta exposição integrada numa jaula de metal.

É também nesta fase que começa a trabalhar mais com a matriz de imagens, com as placas tipográficas encontradas, e com as quais experimenta processos de impressão, replicação, erro, distorção e desaparecimento. Em simultâneo, a imagem projetada começou a ganhar crescente expressão na sua obra, inicialmente obtida com recurso a efeitos de luz, lâmpadas e lentes, em associação com materiais encontrados, como o saco de batatas fritas ou a garrafa de whisky que projetam imagens ilusórias e abstractas. Posteriormente começou a construir projetores em caixas de madeira que acomodam sistemas mecânicos e elétricos, lentes e imagens fotográficas, muitas vezes apropriadas ou decorrentes de registos fotográficos que documentam idiossincrasias da cidade onde habita. As imagens que o interessam são muitas vezes populares ou vernaculares, fotografadas a partir da televisão, personagens de banda desenhada, imagens kitsch, pinturas ou calendários em cafés e bares, e todo o tipo de existências marginais a olhares mais desatentos, como por exemplo a “aldeia de gatos”, um aglomerado de construções feitas por pessoas para abrigo dos gatos de rua.

Para esta exposição Renato Ferrão criou várias obras, que estão relacionadas com a principal instalação, intitulada “Fúria de viver”, à qual o título da exposição alude, e que por sua vez recupera o título de um filme de Nicholas Ray. A obra retrata um dia na cidade, desde o amanhecer até ao anoitecer, na vida do seu personagem principal, e nela ensaiam-se novas formas de trabalhar a sequenciação e apreensão dos vários planos. “Fúria de viver” relaciona-se com processos iniciados em “Estudo das passagens”, onde começou a criar obras de natureza narrativa. Renato Ferrão estudou escultura na FBAUP. Foi um dos artistas fundadores do Salão Olímpico juntamente com Carla Filipe, Eduardo Matos, Isabel Ribeiro e Rui Ribeiro. Expõe regularmente desde 1998, destacando-se os projetos de exposição realizados em espaços independentes como Sismógrafo (Porto) e institucionais, como Serralves, Museu da Eletricidade, Galeria Municipal do Porto, Culturgest e Anozero, Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra. Em 2011, recebeu o Prémio de Artes Plásticas União Latina e, em 2020, foi nomeado para o Prémio Amadeo Souza Cardoso. Está representado na coleção da Fundação de Serralves, na Câmara Municipal do Porto e coleção de Arte Contemporânea do Estado.


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