CONCERTO: Ressaca Bailada | Expresso Transatlântico
Auditório de Espinho - Academia
09 Mar 2024 | sab | 21:30
Espinho, sábado à noite. Apesar do tempo pouco convidativo, o Auditório enche-se de público para ouvir os Expresso Transatlântico e a sua “Ressaca Bailada”, trabalho que viu a luz do dia (ou as luzes da noite) em finais de Setembro do ano passado. O burburinho na sala está uns decibéis acima do que é habitual e a expectativa cresce à medida que se aproxima o momento em que a tela recolhe e se fazem ouvir as palavras “bem vindo ao Auditório de Espinho, vai dar-se início ao espectáculo”. Os primeiros temas - “Primeira Rodada” e “As Ladras”, duas “malhas” do primeiro EP da banda - dão o mote àquilo que vamos poder esperar do tempo do concerto, deixando perceber que há ali uma guitarra portuguesa a apimentar a coisa, a brincar ao jogo do gato e do rato, divertida, atrevida, enérgica, destemida, irreverente, de bem com a vida. Será ela a marca distintiva de um projecto que, tocando uma e outra margem do grande lago atlântico, arrisca fundir géneros musicais tão díspares quanto o rock e o fado e fazer dessa ousadia a afirmação da sua identidade musical.
Do novo álbum seguem-se “Western à Lagareiro” e “Porque Nada Tem Um Fim”, temas que deixam entender uma maior complexidade nas composições e mais ambição na mensagem, mas ainda assim sem capitalizarem junto do público o seu potencial de qualidade e interesse. Gaspar Varela percebe isso e “obriga” toda a gente a levantar-se e a dançar o tema seguinte, “Azul Celeste”. O tiro, porém, sai-lhe pela culatra, já que, apesar de belíssimo, o tema é muito pouco “dançável”, dado a tímidos ademanes de anca que mais valia continuar sentado. Mas eis que surge “Bombália” e a sala parece despertar. Quem já estava em pé, em pé continuou. Quem não estava, levantou-se e juntou-se à garra e energia que se desprendia de um tema que é uma pérola de harmonia e ritmo. “O Gangster” e “Barquinha” reforçam o ambiente de dança que se vive na sala e é tempo de escutar as primeiras grandes ovações, nomeadamente ao ser nomeado o nome de Pedro Gonçalves e dos Dead Combo, referência incontornável da música dos Expresso Transatlântico.
Em jeito de parêntesis, diria que é inegável a proximidade entre a música dos Dead Combo e a deste Expresso, mas é justamente a guitarra portuguesa que, nas mãos de Gaspar Varela, marca a diferença. O que nos Dead Combo é introspectivo, crepuscular, imersivo, é nos Expresso Atlântico esfuziante, redentor, solar. E foi nesta toada que seguimos até ao final do concerto, “atravessando” um poema seguido de um solo (a abraçar o fado tradicional e o fado mais erudito), naquele que foi o momento mais intimista da noite (e também o mais saudado). “Ressaca Bailada” e “Beco da Malha” voltaram a puxar pelo público num permanente convite à dança, com “Alfama, Texas” a colocar um ponto final em pouco mais de uma hora de concerto. Muito reclamado, o “encore” permitiu escutar “Eu Dantes Cantava”, sentida homenagem dos irmãos Sebastião e Gaspar Varela à sua bisavô, Celeste Rodrigues, irmã de Amália. Faltou apenas o Conan Osíris a dar voz à “Barquinha” para o concerto ser perfeito. Mas não se pode ter tudo…
[Foto: Monstro Creative Studio | https://www.facebook.com/auditoriodeespinhoacademia]
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