Páginas

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

CONCERTO: Vanguard Jazz Orchestra - Thad Jones 100



CONCERTO: Vanguard Jazz Orchestra - Thad Jones 100
Guimarães Jazz 2023
Centro Cultural Vila Flor
09 Nov 2023 | qui | 21:30


Está em marcha a trigésima segunda edição do Guimarães Jazz. Para o concerto de abertura, a organização do Festival convidou para subir ao palco do Centro Cultural Vila Flor uma das mais icónicas orquestras de jazz norte-americanas, a Vanguard Jazz Orchestra. Fundada no já distante ano de 1966 pelo trompetista e compositor Thad Jones e pelo baterista Mel Lewis, responsável pela direção musical, a orquestra toma a sua designação actual do mítico clube de jazz de Nova Iorque - Village Vanguard -, onde se estreou com enorme impacto na cena musical da época e onde continua a actuar, abrilhantando os serões de segunda-feira. Foi a segunda vez que esta orquestra visitou a cidade-berço, depois de aqui ter estado na edição de 1999, assegurando então o concerto de encerramento. A título de curiosidade, refira-se que a comparação entre as duas formações permite constatar que há nomes que se repetem, dos saxofonistas Ralph Lalama, Billy Drewes e Dick Oatts - o seu director musical -, ao trompetista Scott Wendholt, ao trombonista Douglas Purviance e ao baterista John Riley. O compositor residente da orquestra é o conceituado Jim McNeely, que este ano não marcou presença em Guimarães, mas que aqui tivemos o prazer de apreciar há dois anos atrás, à frente da Frankfurt Radio Big Band, na altura com a saxofonista Melissa Aldana.

Celebrando o centenário do nascimento de Thad Jones, a Vanguard Jazz Orchestra teve para oferecer um conjunto de standards do fundador e compositor residente durante a primeira década de atividade deste ensemble. Assim, ao longo de uma hora e meia de concerto, foi possível cruzar a inspirada veia artística deste membro de uma das famílias mais distintas do jazz (de lembrar que dois dos seus irmãos são os lendários Hank e Elvin Jones) com a classe e virtuosismo de uma orquestra que respira jazz por todos os poros. “Mean What You Say” abriu as hostilidades e o piano de Adam Birnbaum deu a primeira nota de mestria e savoir-faire. Mas não esteve só e os solos de grande qualidade do saxofonista Ralph Lalama e do trompetista Scott Wendholt foram apenas os primeiros de uma série que se prolongou no tempo e galvanizou o público, recebendo dele, a cada momento, os maiores incentivos e aplausos. “My Centennial” foi o senhor que se seguiu e o seu ritmo festivo, com um leve toque carnavalesco, incendiou a sala. Aqui brilharam o saxofone barítono de Frank Basile e a bateria de John Riley.

Se alguém entre o público não se havia rendido ainda à magia da orquestra, as dúvidas dissiparam-se com a sensibilidade e dolência de “Kids Are Pretty People”, um dos temas maiores do legado de Jones e que constituiu um dos momentos inesquecíveis da noite, o trombone de Dion Tucker a brilhar ao mais alto nível. Pleno de vivacidade, “Blues in a Minute” começou por confirmar a excelência do diálogo a três da secção rítmica, com destaque para o contrabaixo de Mike Karn e para o piano de Adam Birnbaum, a que se seguiram solos inspirados de Brandon Lee (trompete), Rob Edwards (trombone) e do incontornável saxofone tenor de Ralph Lalama. Os dois temas seguintes foram arranjos de Jim McNeely, o primeiro dos quais, “In The Wee Small Hours of The Morning” nos trouxe o veteraníssimo Dick Oatts e o seu saxofone alto num solo de sonho. Composto por McNeely, “Extra Credit” foi outro enorme momento, aqui com o combo de saxofones a elevar-se num todo, dele se destacando Chris Lewis. Para tema final do alinhamento, a escolha recaiu sobre “Fingers”, extraordinária obra-prima do mestre e que, nos seus quase dezoito minutos de duração, ofereceu a possibilidade a praticamente todos os membros da orquestra de usufruirem de um tempo a solo e de mostrarem mais-valias que passaram por momentos únicos de inspirada improvisação. Muito reclamado, o “encore” trouxe com ele outro dos temas maiores de Thad Jones e foi com “Don’t Get Sassy” que a Vanguard Jazz Orchestra se despediu do público numa noite de boa memória. O final perfeito a colocar muito alta a fasquia desta edição do Guimarães Jazz.

[Foto: Município de Guimarães | https://www.facebook.com/Municipio.Guimaraes]

Sem comentários:

Enviar um comentário