EXPOSIÇÃO: “A Revolução na Noite”
Arte moderna, Arte contemporânea e Arte bruta e outsider, vários artistas
Curadoria | Ana Anacleto
Centro de Arte Oliva
21 Out 2023 > 12 Mai 2024
Cumprida uma década sobre a abertura ao público, o Centro de Arte Oliva assinala a efeméride com “A Revolução na Noite”, uma extraordinária exposição onde são mostradas obras pertencentes a três colecções de arte com características e enquadramentos distintos: a Colecção de Arte Moderna e Contemporânea Norlinda e José Lima, a Colecção de Arte Moderna e Contemporânea da Coleção Millennium bcp e a Colecção de Arte bruta e outsider Treger Saint Silvestre. Com características e enquadramentos distintos, as obras obedecem a uma criteriosa escolha que tem por base a publicação do “Primeiro Manifesto Surrealista” de André Breton, ao mesmo tempo que se assinala o centenário do nascimento de Cesariny. Curiosidade, descoberta e possibilidade são eixos que o olhar curatorial pretendeu valorizar, atento ao poder da imaginação e entregando-se à “criação de uma narrativa aberta e livre, simultaneamente propiciatória de desdobramentos em pequenas teias de narrativas singulares.”
Atravessando um arco temporal amplamente alargado – pondo mesmo de parte a ideia de uma cronologia com limites definidos – e evitando enquadramentos históricos rígidos ou academicamente firmados, “A Revolução na Noite” propõe-se a uma análise do gesto surrealista e dos ecos do seu ideário, através de sucessivos movimentos de avanço, de paragem e de recuo, privilegiando as possibilidades de relação dialógica entre obras, períodos, géneros e gerações. Ao longo de um percurso sinalizado de A a Y, o visitante depara-se com um vasto conjunto de obras de quase cento e vinte artistas, portugueses e estrangeiros, dispostas intencionalmente de forma a proporcionar diálogos entre cada uma delas. A proposta resulta num exercício fascinante, as barreiras de género e de estilo esbatidas, a busca da verdade que se esconde na arte a irmanar obras supostamente distintas e afinal tão próximas.
O exercício de cruzar os trabalhos de Eduardo Nery e Jorge Molder, Paula Rego e Nancy Spero, Graça Morais e Rosa Ramalho ou Jorge Barradas e Anna Zemánková pode ser mais frutuoso do que passar tardes e tardes em museus e galerias em busca daquilo que talvez nem nós próprios saibamos. Independentemente da qualidade das obras expostas, do papel que ocupam na história da Arte e da importância dos nomes em questão, é todo um manancial de possibilidades que se abre ao olhar do visitante, num convite à livre interpretação das narrativas que os vários conjuntos encerram. Há, naturalmente, um trabalho curatorial extraordinariamente apurado, um primor de sensibilidade de alguém que se preocupou em preparar uma exposição a pensar naquilo que, enquanto visitante, gostaria de poder apreciar. Cindy Sherman e Nan Goldin não surgem naquela parede por acaso, da mesma forma que não é aleatória a disposição de um Almada na mesma “sala” onde encontramos um Picasso. Ide ver e dizei-me alguma coisa. O melhor é ir já, porque a vontade de lá voltar vai surgir naturalmente e, depois, pode já ser tarde.
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