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sábado, 28 de outubro de 2023

CONCERTO: Orquestra de Jazz de Espinho com João Paulo Esteves da Silva



CONCERTO: Orquestra de Jazz de Espinho
Com | João Paulo Esteves da Silva (piano)
Direcção musical | Eduardo Cardinho, Paulo Perfeito
Auditório de Espinho
27 Out 2023 | sex | 2023


Recuar ao início de Março de 2015 e à segunda edição dos “Concertos (in)Comuns em Lugares (in)Comuns” é abraçar um dos momentos primordiais da minha relativamente curta experiência nas lides do jazz. O concerto que juntou Carlos Bica e João Paulo Esteves da Silva no Salão Nobre da Câmara Municipal de Ovar foi daqueles momentos que se guardam na gavetinha das jóias mais íntimas e se revisitam de tempos a tempos com o olhar e o sentir que dedicamos às mais gratas memórias. Desde então, devo ter assistido a uns bons vinte concertos de ambos os músicos, número bem repartido pelos dois, já que não voltei a escutá-los juntos. Ontem, em Espinho, a noite foi dedicada a João Paulo Esteves da Silva, solista convidado da Orquestra de Jazz de Espinho para um programa constituído integralmente por temas do álbum “Bela Senão Sem”. Um concerto que voltou a confirmar a Orquestra como um dos bons agrupamentos do género em Portugal e o pianista como alguém que escapa a qualquer adjectivação, tão rica a sua veia criativa, tão inspiradora a sua música.

Projecto de 2011, “Bela Senão Sem” partiu de uma encomenda da Casa da Música e juntou o pianista lisboeta à Orquestra de Jazz de Matosinhos. Na prática, isto correspondeu à ideia de pegar em material composto por João Paulo Esteves da Silva, trabalhá-lo com arranjos do próprio e ainda de Pedro Guedes e de Carlos Azevedo, os dois directores musicais da OJM à altura, para daí resultar um conjunto de oito composições nas quais é possível identificar a fusão entre o jazz e a música de raiz tradicional. Ao longo de uma hora e meia, o piano de João Paulo Esteves da Silva esteve em plano de evidência, quer nos animados diálogos que manteve com a orquestra, quer em formato trio, socorrendo-se da inspiração de José Carlos Barbosa no contrabaixo e do muito jovem baterista Gonçalo Ribeiro, quer ainda em solos eloquentes e intimistas, reveladores de um apurado domínio musical e de um extraordinário bom gosto.

Foi assim em “Candeia”, o tema de abertura do concerto, de onde sobressaiu o solo de trompete de Gonçalo Marques. Foi assim, também, nos seguintes “Moché Salyó de Misraim” - um casamento perfeito entre a música de tradição sefardita e o jazz -, “Fado Chão” e “Bela Senão Sem”, neste último a concertina a “roubar” ao piano a primazia e Hugo Caldeira a brilhar no trombone. “Pode Ser uma Serra” escutou-se na versão original graças às potencialidades da Orquestra de onde “emergiram” oito instrumentos de sopro e cinco de percussão. “Canção Açoreana” foi um momento único de emoção e beleza, as notas dedilhadas ao piano ao encontro do saxofone tenor de Brian Blaker para um “voo nas asas do sonho” verdadeiramente fenomenal. “Tristo” foi outro momento de enorme inspiração, vivendo em grande medida do diálogo entre o piano e a guitarra de Miguel Dantas, assim como “Certeza”, exercício de improviso provocado e controlado que fechou o alinhamento e que teve nos solos de Daniel Dias (trombone) e Rafael Gomes (saxofone) momentos de enorme génio e inspiração.

[Foto: Auditório de Espinho - Academia |  https://www.facebook.com/auditoriodeespinhoacademia]

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