CONCERTO: “Vida”
Jorge Palma (piano, guitarras acústicas, voz)
Com | Vicente Palma (piano, guitarras acústicas, voz), Gabriel Gomes (acordeão), João “Joca” Ferreira (bateria), Nuno Lucas (baixo), Francisco Palma (guitarras acústicas, voz), Pedro Vidal (guitarra elétrica, direcção musical)
Casa da Criatividade
16 Jun 2023 | sex | 21:30
Lançado há sensivelmente dois meses, “Vida”, o mais recente trabalho de estúdio de Jorge Palma, faz na estrada o seu caminho. O momento é marcante a muitos títulos, desde logo porque são doze os anos que separam “Com Todo o Respeito”, o anterior registo, deste novíssimo álbum de originais. Não espanta, pois, que os indefectíveis do cantor e compositor fizessem questão de dizer presente, esgotando por completo uma Casa da Criatividade também ela de parabéns, a festejar uma década de actividade ao serviço da cultura. Foi, pois, numa atmosfera de expectativa, de quase euforia, que os primeiros acordes se fizeram escutar e que “Vida” se materializou na voz do cantor, “causa de todas as causas / princípio de todo o princípio / final de todos os finais”. O poema flui, emotivo e livre, e com ele a certeza de que, apesar de tão grande hiato de tempo, o carácter e valores do artista, aquilo que nele existe, resiste e lhe serve de alimento, permanece inalterado. “Vida” será o primeiro diamante da noite e esses, sabemo-lo bem, são eternos.
Tema do novo disco, “Espécie de altar” foi “o senhor que se segue” no alinhamento, embalando o público numa composição harmoniosa, repleta de “coisas que em geral se dizem ao ouvido”. Com “Dormia tão sossegada” e “Jeremias, o Fora da Lei” (este último do álbum “O Lado Errado da Noite”, quase a fazer 40 anos), o público pode ensaiar a voz, dando mostras de querer se parte activa no processo. Não teríamos de esperar muito tempo para que tal acontecesse em pleno, mas antes escutou-se “Plantas na Lua”, “Estróina” e “Porque tu não estás”, três novíssimas que se impõem pela sua força e ritmo, em registos filiados na matriz musical de Jorge Palma, fortemente alicerçada no rock e nos blues. Veio então “Dá-me lume” e a temperatura subiu uns graus na sala, a prova provada que “o que conta no universo / é esse passo inseguro / e o paraíso no teu olhar”. Revivalista, “Uma Estação no inferno” vem dizer-nos que o tempo é coisa que não se pode esbanjar por não ser eterno. A fechar a primeira metade do alinhamento, “Só” faz-se encruzilhada, “junto à tempestade / onde os pés não têm chão / E as mãos perdem a razão”.
“Canção de Lisboa” impõe-se como um dos momentos mais belos do concerto, o piano e a voz de Jorge Palma na extraordinária companhia do acordeão de Gabriel Gomes. “Bairro do Amor”, tema gravado pela primeira vez em 1977 (!), é outro ponto alto, ao qual se segue aquela que é, para mim, a mais extraordinária composição de Jorge Palma, “Estrela do Mar”, as notas do piano envoltas num classicismo puro, o poema exaltante de beleza, “uma chama invisível incendiou-me o peito / qualquer coisa impossível fez-me acreditar”. Até ao final escutaríamos, do novo álbum, “Canção de Vida (para o Carlos do Carmo)”, que o fadista gravou no seu “E Ainda…”, e também “Amor Digital” e “Noites de rosas e vinho”. Pelo meio, mais quatro músicas sobejamente conhecidas – “Deixa-me rir”. “Frágil”, “Cara de Anjo Mau” e “Portugal, Portugal” – voltaram a fazer as delícias do público que não se cansou de puxar pela voz e de aplaudir. No encore, a emoção foi ao rubro quando, em palco com os filhos Vicente e Francisco, Jorge Palma ofereceu “3 Palmas na mão”. O final, apoteótico, fez-se de “Encosta-te a mim” e “A gente vai continuar”, duas pedras preciosas num reportório que é um verdadeiro tesouro. “Enquanto houver estrada para andar”…
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