EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Pintar a Luz, Viver a Cor”,
de Manuel Cargaleiro
Curadoria | Nuno Cardoso
Casa-Museu Teixeira Lopes / Galerias Diogo de Macedo
01 Abr > 18 Jun 2023
Depois de Paula Rego, Amadeo de Sousa Cardoso, Vieira da Silva, Cruzeiro Seixas ou Armanda Passos, a Casa-Museu Teixeira Lopes / Galerias Diogo de Macedo acolhe Manuel Cargaleiro, expondo um conjunto significativo de quadros a óleo de um dos nossos maiores artistas plásticos vivos. Fruto da generosidade de colecionadores particulares na cedência temporária das obras, são cerca de sessenta os trabalhos que integram a mostra, alguns deles totalmente desconhecidos do grande público. Este será, porventura, o aspecto mais surpreendente desta exposição, ao qual se deve acrescentar a consistência e coerência dos trabalhos expostos, absolutamente representativos da obra do Mestre. Apresentados por ordem cronológica, permitem ao visitante perceber a “evolução na continuidade” de uma carreira ímpar, fortemente influenciada pelo abstracionismo e pelo surrealismo que Cargaleiro bebeu “na fonte”, na chamada “Escola de Paris”, onde se radicou em 1954 e onde conviveu com nomes tão significativos da nossa pintura como Lurdes de Castro, René Bertholo, José Escada ou Maria Helena Vieira da Silva.
Título feliz, “Pintar a Luz, Viver a Cor” exprime na perfeição a essência desta mostra. Porque é um banho de luz e cor aquilo que nos espera, mal adentramos a primeira de duas salas pelas quais se distribui a exposição. Ao fascínio que se adivinha no olhar do visitante não é alheia a certeza de estar a viver um momento único, profundo na sua essência, ímpar na sua beleza. Em «Pintar a Luz, Viver a Cor» percebe-se como o carácter radioso de Mestre Cargaleiro se mescla na paleta com a riqueza de contrastes, para ocupar naturalmente o tempo e o espaço de uma tela e dar a conhecer uma realidade não visível, através de uma linguagem singular e irresistivelmente sedutora. Os inícios da década de 60 revelam composições de pequena dimensão, muito inspirados no mundo vegetal, com “fundos” tendencialmente monocromáticos onde depois se inscrevem formas mais estuais, com forte dinamismo e movimento. A viragem para a década de 70 é a “fase das formas”, nela se assumindo a matriz geométrica enquanto recurso estético recorrente em toda a obra do Mestre.
Os inícios dos anos 70 apresentam um “virar” significativo nos temas e nas formas utilizadas. Começa a aparecer a verticalidade na sua pintura e a simbiose entre a natureza e a urbanidade. Há um cada vez maior dinamismo cromático e a representação da mensagem é mais minuciosa. O início dos anos 80 é marcado pelas famosas e muito aclamadas “catedrais”. Assim ficaram conhecidas estas composições pelo meticuloso rigor do seu trabalho e pelo contraste evidente da luminosidade que deixa transparecer harmoniosas estruturas orgânicas, fazendo lembrar pináculos apontados ao céu. Parecendo impossível, conhecendo todo o seu percurso até então, o que é facto é que quase 40 anos depois do início, nos anos 90, é ainda visível a inquietude de Cargaleiro e o desafio constante em introduzir novos elementos no seu trabalho e na sua expressão artística. Cidades, vilas, campos e flores mostram que não há limites ao desenrolar da cor, num hino à vida e à sua essência. Nos anos 2000 dá-se a síntese e a fusão de todo o enredo. Revisitam-se temas e lugares e as telas ganham mais matéria. As camadas de óleo ganham espessura e densidade. É o Mestre a deixar-nos mais de si em cada quadro, para que nos deleitemos na sua serenidade e no conforto que nos passa… ele que sempre esteve, e está, inteiro e de bem com a vida.
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