Começámos a ouvir falar de Rita Redshoes por alturas de 2007, quando “Dream On Girl” a afirmou na colectânea “Novos Talentos – FNAC 2007”. Eleita Canção do Ano pela Rádio RADAR, ela foi uma espécie de trampolim para uma série de experiências e projectos que haveriam de resultar no ano seguinte em “Golden Era”, o seu primeiro álbum, e nos seguintes “Lights & Darks” em 2010, “Life Is a Second Of Love” (2014), “com pozinhos do Brasil e dos You Can’t Win Charlie Brown”, e ainda “Her” (2016), gravado em Berlim e produzido por Victor Van Vugt, que colaborou, entre outros, com PJ Harvey, Beth Orton, Nick Cave ou Depeche Mode. Mais recentemente, no passado mês de Novembro, publicou o seu quinto álbum de originais, “Lado Bom”, espécie de balanço entre a beleza e o medo, as alegrias e os fracassos, o amar e o ser amado. Um álbum integralmente escrito em português e que mereceu da Sociedade Portuguesa de Autores uma atenção muito especial, tendo-lhe sido outorgado o Prémio José da Ponte.
Curioso e expectante, foi assim que desemboquei na Casa da Criatividade para um concerto que trazia com ele a promessa de um “lado bom”. Os dias anteriores tinha-os passado a ouvir o disco e, naturalmente, queria mais. Queria assistir a um bom concerto, tirar o máximo partido do momento, mas sobretudo perceber aquela voz, a presença da cantora e a sua música, sentir-me tocado pela intimidade de um poema que me diz “Rosa / Um sonho tão antigo / Mas foi sempre contigo / Que o vi”. Nada disto, porém, percebi ou senti. Rita Redshoes foi incapaz de se aproximar do público, de gerar com ele a necessária empatia, cantando sem garra e refugiando-se no calor sentido na sala e no recente aniversário do teclista João Gomes para preencher os intervalos entre as músicas com um punhado de banalidades. As coisas na plateia equivaleram-se, o público mostrou-se pouco mais que apático e foi com alívio que se chegou ao final do concerto.
Uma semana passou e eu continuo a escutar o disco e a descobrir-lhe novos e preciosos pedacinhos. “Quem é que não se lançou / Sem medir uma queda? / Quem é que nunca falhou? / Que atire uma pedra”. Pensamentos como este que atravessa o tema “O Amor Não É Razão”, encontramos em “Sono”, “Rosa Flor” ou nesse lindíssimo “Contigo É Pra Perder”, originalmente cantada em dueto com Camané. E volto ao concerto, às belíssimas ilustrações que foram desfilando na tela, a temas como Choose Love”, “Hey Tom”, “The Beginning Song” ou “Captain of My Soul” que remetem para álbuns anteriores que conhecemos tão bem, aos músicos que tão bem cumpriram o seu papel, com destaque para a harpista Salomé Pais Matos, e pergunto-me porque é que não gostei do concerto. Será Rita Redshoes uma “cantora de estúdio” apenas? Estaria numa noite menos inspirada? Ou o problema estará em mim, deixando-me contaminar por um ambiente menos propício à fruição e à festa? Terei de dar o benefício da dúvida a Rita Redshoes e tirar as questões a limpo num próximo concerto. De uma coisa tenho a certeza: a sua música e os seus poemas tocam-me.
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