CONCERTO: “Voz e Violão”
com António Zambujo
Cine-Teatro de Estarreja
18 Dez 2021 | sab | 21:30
Três anos depois de ter pisado o palco do Cine-Teatro de Estarreja na companhia do Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento, António Zambujo voltou a ser o convidado de honra de uma sala que continua a primar pela enorme qualidade da sua programação, pela excelência das suas condições e pelo cuidado no acolhimento. Com ele trouxe o seu último álbum, “Voz e Violão”, gravado num estúdio improvisado na sua própria casa e que acaba de ser eleito como o melhor do ano pelos leitores da Blitz. Mas nem só de voz e violão viveu o concerto, desde cedo transformado num momento de revisitação de muitos dos temas mais queridos dos seus anteriores trabalhos e mesmo de alguns que nunca foram publicados em disco. Intimista, feito de poemas simples, sem “máscaras”, o concerto valeu pelo bem que soube regressar a temas que se vão tornando clássicos e pela suave viagem ao longo de um cancioneiro cada vez mais vasto e rico.
“Visita de Estudo” é bem o exemplo da simplicidade de que falava e da “imortalidade” para a qual certas músicas parecem fadadas. Estes “dois pardais dentro do ninho e um coração com uma seta”, num poema de Maria do Rosário Pedreira, merecem bem figurar no panteão das “melhores” do cantor, ao lado de “Pica do 7”, “Algo de Estranho Acontece”, “Zorro”, “Catavento da Sé” ou “Lambreta”. Foi este o primeiro tema do novo álbum a figurar no alinhamento, mas entretanto já Zambujo tinha passado em revista dois temas de “Até Pensei Que Fosse Minha”, um álbum de 2016 que é uma espécie de homenagem ao génio de Chico Buarque, e ainda “Carinhoso”, a velhinha música de Pixinguinha, popularizada por Marisa Monte. Estava dado o mote para um concerto que, como o cantor sublinhou, pretendeu sobretudo “trazer um conjunto de canções que, quem as escute, fique satisfeito e goste”.
A fórmula não podia ser mais bem-sucedida. “Fui Colher uma Romã” ou “Menina Estás à Janela” trouxeram-nos o que de mais popular a nossa música pode ter. “Verão” espalhou na sala o perfume do cante alentejano. “A Rosinha dos Limões” e “Nem às Paredes Confesso” lembraram-nos o fado e, em particular, o saudoso Max. Os ritmos sertanejos fizeram-se sentir com “Luar do Sertão” e “No Rancho Fundo”. E nem as sonoridades do norte da Argentina ficaram de fora, com esse magnífico “Zamba del Olvido”. O resto foi “tocar as cordas” de praticamente todos os seus trabalhos anteriores ao sabor de “Valsa de Um Pavão Ciumento” e “Multimilionário”, “Sinais”, “Lote B” e “Som de Cristal”, para além das atrás enunciadas desse particular “panteão” do cantor. O final, num apoteótico encore, representou um tributo a Amália Rodrigues, na voz de alguém que, humildemente, tão bem soube reconhecer que quem “fez poeta o rouxinol, pôs no campo o alecrim e deu as flores à primavera” foi o mesmo Deus que “deu-me esta voz a mim”.
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