CONCERTO: “Septeto EstarreJazz”
EstarreJazz 2021
Cine-Teatro de Estarreja
02 Out 2021 | sab | 21:30
A segunda noite da presente edição do EstarreJazz trouxe ao palco do Cine-Teatro de Estarreja o Septeto EstarreJazz, formação que engloba a fina flor de um projecto musical maduro e com provas dadas e que tem visto nascer, crescer e afirmar-se no panorama jazzístico português algumas das suas maiores e mais reconhecidas figuras. Foi, pois, com alguma surpresa e frustração, que vimos a sala tão pouco preenchida de público para receber, aclamar e apoiar os seus, como que a confirmar que “santos da casa não fazem milagres”. E foi pena! Não só porque esta formação e estes músicos mereciam mais carinho, mais palmas e mais calor humano, mas sobretudo pela excelente noite que proporcionaram. Um alinhamento criteriosamente escolhido, fazendo realçar os diálogos entre os vários instrumentos, e interpretações inspiradas e de altíssimo nível foram a tónica do concerto, enchendo os corações de todos os presentes e levando-os a classificar o momento como precioso.
Com uma frente de saxofones - Domingos da Luz Henriquez, Miguel Valente e Ricardo Rosas no saxofone tenor e João Mortágua no saxofone alto - e uma retaguarda onde pontificaram Carlos Azevedo no piano e nos arranjos, João Fragoso no contrabaixo e Paulo Bandeira na bateria, o agrupamento soube gerir na perfeição os tempos das várias composições. Ora vibrantes, ora intimistas, em conversa aberta e diálogos mordazes ou nos mais confessionais solos, o septeto mostrou uma enorme desenvoltura e mestria musical mas, acima de tudo, uma superior cumplicidade, ingrediente maior em qualquer projecto musical. Poderia falar do “eco” do piano de Carlos Azevedo sobre os trechos líricos do saxofone de João Mortágua ou de Miguel Valente, da forma subtil como o contrabaixo de João Fragoso se imiscuiu no mais íntimo de cada peça ou no domínio da bateria de Paulo Bandeira, o riscar dos pratos a sugerir paisagens áridas, mas correria o risco de estender a crónica para lá do desejável. Fica a certeza de que, no todo ou na soma das partes, o grande beneficiado foi sempre o público.
O concerto abriu com três composições de Wayne Shorter - “Night Dreamer”, “Fee-Fi-Fo-Fum” e “This is for Albert” -, convidando à fruição plena de um jazz harmonioso e límpido, marcado por apontamentos intensos e breves de reconfortante improviso, a evidenciar um extraordinário domínio instrumental. Usando da palavra, Paulo Bandeira deixou vincado o quanto de emoção envolve este projecto, emoção essa que se espalhou pela sala com “Better Times”, de Steve Swallow, mas sobretudo com a maravilhosa composição de Thad Jones que é “A Child is Born” (trazendo à memória um concerto inesquecível do Avishai Cohen Trio, em Matosinhos, no Verão de 2019). A música de Steve Swallow voltou a escutar-se com “Let’s Eat” e as duas últimas composições trouxeram ainda mais vida, força e ritmo a um concerto memorável com “You Stepped Out of a Dream”, de Nacio Herb Brown e “Take the Coltrane”, de Duke Ellington e do próprio John Coltrane. Ao cabo de pouco mais de uma hora chegava ao fim um concerto aplaudido de pé e com todo o vigor, pese embora tal não fosse suficiente para trazer o septeto ao palco para o sempre esperado encore. Ficam os momentos de enorme beleza e partilha, e fica uma noite que se guarda na memória da forma mais grata.
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