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domingo, 3 de outubro de 2021

CERTAME: Encontros da Imagem de Braga 2021


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CERTAME: Encontros da Imagem - Festival Internacional de Fotografia e Artes Visuais 2021
Braga, Barcelos, Guimarães, Porto e Avintes (vários locais)
17 Set > 31 Out 2021


Criação, divulgação e formação têm sido as linhas gerais dos Encontros da Imagem de Braga, o maior festival de fotografia existente no país e um dos grandes festivais de fotografia europeus. Daí que as expectativas daqueles que, por estes dias, fazem da cidade dos arcebispos a sua Meca, sejam sempre elevadas. Foi desta forma que voltei a Braga, ao encontro dos Encontros em dia chuvoso e pouco convidativo, mas que se revelou de fruição plena e de mais uma grande jornada em torno da fotografia, dos seus propósitos, recursos, diversidade e variedade de estilos. Dando continuidade ao projeto iniciado no ano passado, “Génesis 2.1” - tema da edição deste ano dos Encontros - volta a enquadrar e a contextualizar o actual momento pandémico e o confinamento generalizado. Um ano depois, voltamos a reflectir sobre a confusão e o caos gerados, bem como sobre a nossa incapacidade para compreender a desordem das coisas, naquilo que pode ser visto como uma extraordinária oportunidade para que todos encontremos causas comuns e discutamos as melhores soluções para o que deva ser feito.

Três pólos e um total de duas dezenas de exposições preencheram a manhã, com início no belíssimo espaço do Mosteiro de Tibães. Aí encontramos Alex Kemman, Ariadna Silva Fernández, Daniel Szalai, Elena Helfrecht, Schore Mehrdju, Tamara Eckhardt, Vikesh Kapoor e William Lakin, cujos trabalhos, bastante diferentes entre si, funcionam como uma súmula das vastas temáticas que atravessam esta edição dos Encontros da Imagem, nomeadamente as questões do desenraizamento, das minorias, das agressões ao ambiente e da forma como somos condicionados por uma sociedade consumista e cada vez mais dependente das novas tecnologias. Na Galeria do Paço - Universidade do Minho, a variedade de propostas é maior ainda, convidando o visitante a conhecer os trabalhos de doze criadores, dos quais destacaria a reflexão profunda e íntima de Kai Yokoyama sobre o confinamento, o trabalho de Benjamin Rasmussen sobre o quão excludente pode ser a sociedade americana e a abordagem de Massimiliano Gatti à forma como os traços civilizacionais podem ser reduzidos a cinzas em poucos instantes. Por fim, na Casa dos Crivos, Donna Ferrato oferece-nos a sua visão sobre a sabedoria e coragem das mulheres.

À tarde, visita a mais cinco núcleos, ao encontro de treze criadores, aos quais se deve juntar “Look up! Heads up!”, de Mentalgassi, a exposição que toma conta de uma parte da Rua D. Diogo de Sousa, no coração da cidade. Começando pelo Museu D. Diogo de Sousa, é particularmente interessante o contraste entre as propostas de Lara Jacinto e Fábio Cunha, o confinamento visto de ângulos bem distintos. No Museu Nogueira da Silva é possível apreciar os trabalhos de Lesia Maruschak e Silvia Rosi e que nos falam, em ambos os casos, de origens, família e comunidade. No Teatro Circo, “Syracuse”, de Bruce Gilden, é uma visão aguda e não isenta de humor de uma cidade com “mais deficientes mentais por metro quadrado do que qualquer outro lugar que [o autor] houvera visitado antes”. No Edifício do Castelo, Silvy Crespo leva-nos a terras do Barroso e às maiores reservas de lítio da Europa, ao encontro dos habitantes e da sua luta para impedir os danos irreparáveis que a exploração mineira acarretará. Ainda neste pólo, Letícia Valverdes abre-nos o seu arquivo de povos indígenas da Amazónia e a sua forma de processar a tristeza e pesar em relação ao nosso planeta e encontrar esperança. É também lá que Michele Spatari nos revela a forma como a pandemia está a pôr à prova as fragilidades de um país como a África do Sul. Finalmente, no Museu dos Biscaínhos, duas propostas em tudo diferentes entre si: Vincen Beeckman visita o bairro piscatório de Espinho em tempo de confinamento e Paola Paredes aborda os centros de detenção, no Equador, onde se “curam” homens e mulheres homossexuais e transexuais.

[Pela sua qualidade e poder da sua mensagem, um número substantivo destas exposições merecerão tratamento detalhado em artigos a publicar aqui no blogue ao longo dos próximos dias.]

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