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domingo, 26 de setembro de 2021

CONCERTO: Bárbara Tinoco



CONCERTO: Bárbara Tinoco
Concertos Íntimos
Cine-Teatro de Estarreja
24 Set 2021 | sex | 21:30


“Eu acho que todas as pessoas mais velhas olham para mim a falar de amor e pensam, o que é que esta pita está para aqui a falar se não sabe nada disto, não é casada, não tem filhos, não percebe nada de amor, está para aqui… Mas esta é a minha experiência. É o que eu tenho para partilhar, pronto.” Foi com toda a naturalidade e descontração que Bárbara Tinoco subiu ao palco do Cine-Teatro de Estarreja para mostrar a sua música, espécie de exercício “utópico-romântico-deprimente” como a definiu um seguidor no Instagram, mas que sabe bem e mal não faz. A forte presença da cantora e a proximidade com o público fez ressurgir o registo especialmente intimista dos concertos nesta sala, predispondo para algo mais do que o fruir das canções, no caso concreto a enorme paixão pela composição que se adivinha por detrás de cada uma das suas letras e a grande conquista de enfrentar o público e de saber estar, quando, há meia dúzia de anos atrás, era apenas “a menina que escrevia canções no seu quarto e morria de vergonha de cantar para alguém”.

Com o suporte da viola de João Gaspar, Bárbara Tinoco começou por cantar “Estrelas” - “não desalinhes as estrelas / que tu mesmo alinhaste / que se lixe a tristeza / é minha eu que a ultrapasse” - dando o mote para um concerto onde muito se falaria de amor, das linhas sinuosas onde corre, dos seus enredos, da sua altivez, da sua arrogância e desdém, e onde se procurou, com a ajuda da plateia, descobrir o segredo de uma longa vida a dois. Seguiu-se “Outras Línguas”, “A Fugir de Ser”, “Diz-me o Que é Que Fizeste” e a muito aclamada “Sei Lá”, segundo tema a solo da cantora saído em finais de Dezembro de 2019 e talvez o seu maior êxito até hoje, a par de “Antes Dela Dizer Que Sim” (que viria a encerrar o concerto, já num muito reclamado “encore”). “Loira” foi a canção seguinte e integra o EP lançado em Abril em conjunto com “pessoas pequeninas a quem dei uma oportunidade, por exemplo, António Zambujo, Carolina Deslandes, Carlão, pessoas que começaram agora e em que eu fui uma visionária em chamá-las para este projecto”, Bárbara Tinoco a ironizar e a arrancar palmas e sorrisos ao público.

A versatilidade da cantora mostrou-se na canção seguinte, “Devia Ir”, um tributo ao “hip-hop” que denuncia as suas origens, nascida no Cacém, “que está para Lisboa como Valongo está para o Porto”, fez questão de esclarecer. “Advogado” - “Não me olhes assim / Que eu não penso dar-te / O meu advogado / Podia processar-te” - e “O Teu Namorado” voltaram à velha questão das cumplicidades no amor, imediatamente antes dessa melancólica e ternurenta “Cartas de Guerra”, os avós de Bárbara Tinoco, Maria e João, e a sua bela história de amor de cinquenta anos de casados passada em revista: “Durante a Guerra os meus avós trocavam cartas de amor e mandavam fotografias. A minha avó com o cabelo arranjado, unhas pintadas, bonitinha, maquilhada e o meu avô enviava-lhe fotos em tronco nu”, diz numa enorme gargalhada. “Salada com Molho Cor de Rosa” serviu para desvendar o segredo dos títulos das canções, antes ainda de “Cidade” e “Tragédia” - “tragédia é jantar salada (…) usar tampões (…) amor sem gemidos (…) sentir coisas más mas dizer que não” - colocarem um ponto final no alinhamento. Noite boa, divertida, descomprometida, livre, “alimentada” por uma jovem cantora que, mostrou-o bem, tem um belo futuro à sua frente.

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