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terça-feira, 31 de agosto de 2021

CONCERTO: Jéssica Pina



CONCERTO: Jéssica Pina
A Casa no Parque
Parque do Rio Ul, S. João da Madeira
28 Ago 2021 | sab | 18:00


Com o sol a fazer caretas e a brisa de final de tarde a pedir algo mais do que uma simples t-shirt sobre os ombros, o Parque do Rio Ul foi local de romaria para todos os interessados em desfrutar de um concerto ao ar livre, em segurança e de entrada gratuita. Estávamos no arranque da segunda temporada 2021 da programação da Casa da Criatividade, em S. João da Madeira, e a escolha para assinalar o momento recaía sobre Jéssica Pina, jovem trompetista nascida em Alcácer do Sal. À semelhança de Tainá ou Amaura, as protagonistas de concertos a que tinha assistido recentemente, também Jéssica Pina era para mim uma ilustre desconhecida. Tinha passado “de raspão” pela sua página no Youtube e o que ouvira agradara-me, mas estava longe de imaginar o que ela e a sua música tinham para oferecer. Daí que a surpresa não pudesse ter sido maior. Pela positiva.

Acompanhada por Eron Gabriel na bateria e Anderson Ivo nos teclados, ambos trajados a rigor com dois magníficos chapéus pretos – ou não fosse S. João da Madeira um ícone da chapelaria em Portugal e no Mundo -, Jéssica Pina fez questão de mostrar a excelência das suas interpretações, tanto na voz como na parte instrumental onde provou ser uma trompetista virtuosa e competente. Com um sorriso franco no rosto e um magnífico penteado afro a fazer jus às suas raízes angolanas e cabo-verdianas, a artista soube agarrar o público desde os primeiros instantes, propondo um alinhamento cujos temas primaram pela harmonia e pelo bom gosto. Djavan, Jorja Smith, Erykah Badu, Roy Hargrove ou Summer Walker foram alguns dos nomes que se mostraram em força e beleza na excelente tarde do Parque do Rio Ul, ao lado de composições de enorme qualidade da autoria da própria Jéssica Pina.

Leio que “Jéssica Pina explora o trompete como parte integrante da sua musicalidade” e que, desde muito nova, “aperfeiçoa a sua performance através do estudo da música jazz e de world music”. Ao escutá-la, torna-se evidente que o jazz lhe circula nas veias, apesar de alguma contenção na entrega das linhas melódicas à improvisação. Por outro lado, percebo também que a aposta na afirmação da sua música e do seu estilo reside no “aliar o trompete ao canto”. É esse o grande desafio. Por aquilo que mostrou em S. João da Madeira, estou certo de que está no bom caminho. Segura nos graves, o seu domínio dos agudos é quase perfeito, revelando já uma enorme maturidade vocal que faz com que a escutemos com redobrado prazer. A “soul” que se derrama da sua voz é uma via verde para os sentidos do público, transformando o concerto num acto de intimidade e cumplicidade. Em suma, foi um privilégio poder desfrutar de uma hora de música envolvente e intensa, oferecida por uma jovem artista cujo nome é imperioso reter.

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