CONCERTO: Andy Sheppard Costa Oeste
Ovar em Jazz 2021
Centro de Artes de Ovar
01 Set 2021 | qua | 22:00
Quase um ano e meio depois, o Ovar em Jazz regressou ao Centro de Arte com um programa recheado de muitas e boas promessas nesta que é a sua terceira edição. As duas anteriores edições do certame primaram pela qualidade e todos sabemos o quão elevada estava a fasquia depois de por cá terem passado nomes como os de Stefano Bataglia, Maria João, Orquestra de Jazz de Matosinhos, Ricardo Toscano, Carlos Bica ou os fenomenais Danilo Perez, John Patitucci e Brian Blade. Com as expectativas ao rubro, na noite de ontem dirigimos os passos para o palco da festa e o mínimo que se pode dizer é que Andy Sheppard Costa Oeste correspondeu em absoluto, sendo de afirmar em bom rigor que, se o nível do Festival já era alto, mais alto ficou ainda, tão bom o jazz que por ali se fez ouvir, tão excelentes os seus executantes (irrepreensíveis, Mário Delgado na guitarra, Mário Costa na bateria e Hugo Carvalhais no contrabaixo, para além de Andy Sheppard no saxofone, naturalmente).
Um longo solo de saxofone a abrir, o natural enleio dos instrumentos num vai e vem de diálogos abertos ou sussurrados e um longo solo de saxofone a fechar. No ar, em fragrâncias de música e ritmo, imagens de grandes espaços abertos, arribas que se erguem nas alturas, o grito das gaivotas, o vento e o mar a emergirem com força e a imporem-se impetuosos e vivos. Conseguimos ver nessas imagens pedaços de uma “costa Oeste” onde Sheppard vive há já algum tempo e que irrompe como fonte de inspiração para uma música dolente, feita de harmonia e ritmo, quente e branda como uma carícia. Uma música que nos soa familiar, que abraça as margens do tempo em sonho e esperança, que se dá inteira para logo se afastar deixando o ar lavado num misto de festa e melancolia. Foi assim em “Dream Keepers of Bairro Alto”, tema inaugural do concerto, voltando a sê-lo em “Elevation” e no sublime “Passarinho da Neve”, tema do cancioneiro popular português tornado mais jubilatório e arrebatador ainda graças ao rigor e sensibilidade postos na sua reinterpretação.
Com o tempo a passar sem se dar por isso e o prazer a consolidar-se, mergulhou-se nas águas quentes do Caribe com “Dancing Man & Woman” e escutou-se “Forever and a Day”, Mário Delgado e a sua guitarra a levarem o jazz às fronteiras do rock, impedindo o público de se manter quieto nas cadeiras. “Looking for Ornette” foi outro dos momentos preciosos do concerto e, juntamente com “Beyond the Dancing Sun”, serviu de rampa para o sublime “Sempre Contigo”, um tema tocado por uma espécie de graça divina, de uma espiritualidade única, etérea e intangível, que nos transporta para uma dimensão onde tudo é paz, beleza e harmonia. Estranhamente pouco reclamado, o “encore” acabou por surgir para gáudio de quem, por vontade própria, passaria ali o resto da noite. O novíssimo “Old Folks” só veio confirmar a excelência do momento, inscrito a letras douradas como um dos mais marcantes no que levo destas andanças até à data.
Sem comentários:
Enviar um comentário