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sábado, 22 de maio de 2021

CINEMA: Shortcutz Ovar Sessão #46



CINEMA: Shortcutz Ovar Sessão #46
Escola de Artes e Ofícios
90 Minutos | Maiores de 16 anos
20 Mai 2021 | qui | 21:00


Sensivelmente meio ano após a sua última sessão competitiva, o Shortcutz Ovar regressou às salas na noite da passada quinta-feira, marcando o arranque da quinta temporada. Noite de festa e de celebração, pois claro! Noite de emoções, também, por tudo aquilo que representa este reencontro com o cinema e com a cultura em geral, quer pela evolução positiva da pandemia que vai permitindo algum desconfinamento, ainda que cauteloso e com regras, quer pela presença de público na plateia, aproximando do desejável os momentos de oferta e de partilha que são marcas distintivas desta festa do cinema em versão curta. Sabendo o quanto isto é importante na dinâmica do Shortcutz Ovar, foi particularmente saboroso “estar de volta, reunir de novo a malta e voltar à Escola... de Artes”, conforme sublinhou Tiago Alves, verdadeiro mestre de cerimónias num evento de todos e para todos.

Nesta sessão inaugural da nova temporada, o público viu-se confrontado com a exibição de duas curtas-metragens apenas, em vez das habituais três ou mesmo quatro obras, situação que se prende com a necessidade de encerrar o espaço às 22h30 e de conciliar os constrangimentos de tempo com um dos grandes trunfos do Shortcutz Ovar: a presença dos realizadores ou de elementos ligados à produção dos filmes e a interacção com os espectadores mediante a abertura de espaços de conversa que se revelam, sempre, extraordinariamente enriquecedores. Assim foi uma vez mais, com três ilustres convidados a pisarem o palco da Escola de Artes, a “repetente” Alexandra Ramires (em 2018 tinha aqui apresentado “Água Mole”, uma primeira obra co-realizada por Laura Gonçalves) e os “estreantes” José Mazeda e Vítor Norte. A própria Laura Gonçalves também por cá passou, assim como Salvador Malheiro, presidente da autarquia, para quem a importância da cultura como parte integrante dos grandes desafios estratégicos do Município é incontornável, deixando a garantia de que “o Shortcutz Ovar é para continuar”.

Animação com a duração de onze minutos, “Elo” foi a primeira curta da sessão, trazendo-nos a história de dois seres que, de forma simbiótica, procuram encontrar espaço na sua relação para, abraçando diferenças e imperfeições, conseguirem transpor os seus limites. Verdadeira viagem ao princípio do ser, “Elo” fala-nos da importância de vivermos este mundo tirando o maior partido daquilo que ele tem para nos oferecer, a sua matéria-prima. Metáfora da forma como nos adaptamos e interagimos uns com os outros, o filme é um hino às relações humanas no seu sentido mais construtivo e harmonioso, lembrando-nos que todos dependemos de todos para existirmos e fazermos da vida uma doce melodia. Primeira obra a solo de Alexandra Ramires, com produção de David Doutel (que assina também a montagem, ao lado do inevitável Vasco Sá e da própria realizadora) e animação de Dimitri Mihajlovic, Inês Teixeira, Laura Gonçalves e Vitor Hugo Rocha, “Elo” conta com a preciosa colaboração de Regina Guimarães no argumento, matéria fundamental na comunhão perfeita entre a imagem e a palavra e cujo resultado estará plasmado num livro a publicar muito em breve.

A encerrar a sessão, “Para Cá do Marão”, curta-metragem de ficção realizada por José Mazeda e baseada num relato verídico, transporta-nos ao coração de Gralhas, pequena aldeia da Terra Fria, no Concelho de Montalegre, no terceiro quartel do século passado. De costumes e tradições que se vão esboroando nos fala o filme, mas também da honra e do facto de ser mais fácil a um transmontano perdoar um crime do que um roubo. Memórias marcantes do realizador, ele próprio transmontano de Mirandela, o roubo de águas de um lameiro e o desfecho trágico destes actos serve aqui de referência a uma obra que deve ser vista como uma homenagem à infância de José Mazeda e à cultura transmontana. Com João Lagarto, Vítor Norte e Adriano Carvalho no elenco, o filme tem fotografia de Aurélio Vasques, montagem de Ricardo Sobral e argumento de Daniel Pereira e do próprio José Mazeda que é, igualmente, o produtor do filme. Quanto a José Mazeda, importa vincar a enorme paixão que se derrama das suas palavras quando o assunto é cinema, bem como a grande amizade que o prende aos agentes com quem trabalhou ao longo de quase cinco décadas, nomeadamente os realizadores António Reis e Margarida Cordeiro, João César Monteiro, António Campos, Paulo Rocha, Rita Azevedo Gomes, Imanol Uribe e Roman Polanski, entre outros. “Para Cá do Marão” é um filme cuja projecção as gentes de Montalegre aguardam ansiosamente mas que, entretanto, passou já entre nós. Um belo filme, sublinhe-se.

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