CERTAME: Encontros da Imagem – Festival Internacional de Fotografia e Artes Visuais 2020
Braga, Barcelos, Guimarães, Porto e Avintes (vários locais)
11 Set > 31 Out 2020
“Genesis é tudo isso: a origem ou criação e, como em todas as criações e também na arte, a génese sucede à destruição. Com cada criação surgem novos significados, outros juízos de valor, outras teorias científicas, novos mitos, novos algoritmos e, insidiosamente, velhos erros e revivalismos que atrasam os significados desta comunidade do futuro que, com o seu desleixo e as suas utopias de felicidade, não as quis e não as quer perder. Mudanças, deslocações de povos, efeitos de catástrofe ou de perseverança, criação e destruição, - o alfa e o ómega de uma cultura – e que, consensualmente, nos aparecem como a essência das novas artes visuais.”
É sob o negro manto pandémico do novo coronavírus que tem lugar a 30ª edição dos Encontros da Imagem de Braga. Distribuído por vinte e três espaços diferentes, em Braga, Guimarães, Barcelos, Porto e Avintes, com um total de 36 exposições de 68 artistas, o maior Festival de Fotografia do país propõe um conjunto de reflexões profundas sobre temas candentes da actualidade, das tremendas alterações climáticas a uma poluição galopante, da irracionalidade política, governada pela finança, a um individualismo de vincada auto-estima. Esta marca é tão forte que as narrativas expressas nos vários projectos fotográficos tornam-se sujeito e complemento de si próprias, em permanente estado de (re)construção, fazendo com que Génesis, mais do que uma palavra, surja como um símbolo do que podemos e queremos em relação ao futuro.
Entre o Mosteiro de Tibães e a Galeria do Paço, passando pela Casa dos Crivos, Museu dos Biscainhos, gnration, Edifício do Castelo, Museu Nogueira da Silva e Theatro Circo, a minha “peregrinação” a Braga saldou-se pela visualização de 22 exposições, às quais acrescentaria “Estado do Tempo”, exposição da Colecção Encontros da Imagem, patente na Casa da Cultura de Avintes e sobre a qual me debrucei em crónica anterior aqui no blogue. Do que ficou visto, permito-me destacar as exposições “Love, Live, Refugee”, de Omar Imam, patente no Theatro Circo e “ReGenesis”, de Gonçalo Delgado, que se apresenta na Casa dos Crivos. Trent Davis Baley, com “The North Fork” (Mosteiro de Tibães) e ainda “Forest Family”, de Touko Hujanen e “Where The River Runs Through”, de Aaron Vincent Elkaim, ambos na Galeria do Paço, são exposições igualmente dignas de nota e das quais falarei separadamente ao longo dos próximos dias.
Pela mensagem fortíssima, importa referir “Wahala”, projecto que levou Robin Hinsch a países como a Índia, a Nigéria, a Polónia e a Alemanha, os combustíveis fósseis no cerne das suas (e nossas) preocupações. Hugo Delgado chama à discussão um conjunto de imagens muito fortes que reflectem o quotidiano das populações em tempo de pandemia, intitulando-o “Descontinuidade”. “Transatlántica”, de Elsa Leydier, questiona a influência política da fotografia na representação dos territórios. Com “The White Line”, Rosa Rodriguez conduz-nos aos lugares que o homem foi incapaz de conquistar e moldar ao seu gosto. João Ferreira propõe-nos “O Paraíso Segundo José Maria”, acompanhando os romeiros que percorrem a Ilha de S. Miguel ao som de orações. Felipe Romero Beltran apresenta "Redución", Prémio de Fotografia Contemporânea da Galiza 2019, questionando os procedimentos de redução policial e sua carga a pessoas ilegais em território espanhol. Finalmente, “(Sobre)viver”, de Nina Franco, na qual a autora aborda a violência contra a mulher e o feminicídio através de diversos meios como a fotografia, a instalação, o vídeo, a pintura e a performance. Muito e bom para ver nestes Encontros quase a chegarem ao fim.
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